O desafio de fazer avançar a vacinação na União Europeia (UE) está levando a crescentes apelos no bloco, sobretudo da Alemanha, para que a exportação de vacinas seja regulamentada. Em outras palavras, países onde os imunizantes são produzidos devem ter prioridade.
“Seria uma boa ideia se as companhias tiverem que obter uma licença para exportar as vacinas, de modo que possamos monitorar que vacinas deixarão a União Europeia após terem sido produzidas ou colocadas no frasco na Europa”, afirmou o ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, em entrevista à Deutsche Welle.
O início da campanha de vacinação na Europa está sob constante crítica, por estar avançando, em termos de doses aplicadas per capita, bem abaixo de países como Estados Unidos, Reino Unido e Israel. Na Alemanha, apenas 1,6 milhão de pessoas receberam ao menos uma dose da vacina, o equivalente a pouco menos de 2% da população. Levando em conta os cidadãos que receberam as necessárias duas doses, a parcela é de apenas 0,34%.
No Reino Unido, por exemplo, mais de 12% da população acima de 18 anos já foram vacinados. Os EUA, por sua vez, estão aplicando em média 1,5 milhão de doses por dia. Em Israel, mais de 40% da população já receberam uma dose da vacina, e o país já conseguiu derrubar significativamente a propagação do vírus.
Demora na entrega de doses
Um dos motivos para a lentidão na União Europeia é, segundo os líderes político do bloco, a demora na entrega das vacinas. A empresa farmacêutica britânico-sueca AstraZeneca está sob pressão dos líderes da UE depois que advertiu na semana passada que ficaria muito aquém das metas de fornecimento.
Além disso, a vacina da AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, ainda precisa ser aprovada na UE – os reguladores esperam anunciar sua decisão nesta sexta-feira. Mas há dúvidas sobre a real eficácia do imunizante.
Jornais alemães apontam que membros do governo em Berlim temem que a vacina não seja autorizada na UE para pessoas acima de 65 anos por suposta baixa eficácia nesse grupo (abaixo de 10%). A empresa classificou as informações publicadas pelos jornais como “completamente incorretas”.
Isso elevou ainda mais a pressão sobre a Pfizer, que produz doses de sua vacina desenvolvida em parceria com a alemã Biontech na Alemanha e na Bélgica. A Pfizer, que fechou contratos bilionários ao redor do planeta para o fornecimento de imunizantes, também anunciou na última semana que teria de cortar a entrega de doses aos países da UE.
União Europeia quer retorno dos investimentos
Por conta desse cenário, segundo o ministro da Saúde da Alemanha, a UE deveria monitorar de forma mais estreita o fornecimento de vacina. O argumento dele é que o bloco já gastou centenas de milhões de euros ajudando no estabelecimento de unidades de produção.
Os comentários de Spahn foram feitos após a Comissão Europeia dizer que exigirá que as empresas farmacêuticas que produzem vacinas para Covid-19 na UE registrem antecipadamente exportações de doses para países terceiros.
Espera-se que o registro entre em vigor nesta semana. Ele manterá as autoridades informadas sobre quais produtores da UE fazem exportações de vacinas e quantas doses saem do bloco.
De acordo com o plano, os fabricantes de vacinas também precisariam de licença para exportar as doses feitas na União Europeia. “A UE tomará qualquer ação necessária para proteger seus cidadãos e seus direitos”, disse a Comissária de Saúde do bloco, Stella Kyriakides, na segunda-feira (25).
A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, falou ao telefone com o CEO da AstraZeneca, Pascal Soriot, e, segundo um porta-voz, deixou claro que a UE insiste nas entregas previstas contratualmente: “Esperamos que a empresa encontre soluções e use toda a margem de manobra possível para entregar rapidamente.”
O grupo anglo-sueco anunciou na última sexta-feira que, após a aprovação de sua vacina, espera entregar apenas 31 milhões de doses, em vez de 80 milhões, até o final de março. A UE disse que recebeu uma “resposta insatisfatória” sobre os atrasos.
“Bilhões investidos [pela Europa] para apoiar o desenvolvimento das primeiras vacinas do mundo para Covid-19”, disse Von der Leyen, na terça-feira, em discurso em vídeo para o Fórum Econômico Mundial. “E agora as empresas têm que fazer as entregas, elas têm que cumprir seus compromissos.” (Com agências internacionais)
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