O Brasil manteve-se estagnado, “em patamar muito ruim”, no principal ranking global de corrupção, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira (28) pela ONG Transparência Internacional. O chamado Índice de Percepção de Corrupção (IPC) avalia 180 países e territórios e atribui a eles notas de zero (altamente corrupto) a 100 (muito íntegro), para depois estabelecer um ranking global.
Em 2020, o Brasil registrou 38 pontos, três a mais que em 2019, mas, como frisou o relatório, ainda dentro da margem erro da pesquisa (4,1 pontos para mais ou para menos). Por isso a conclusão de “estagnação”.
A percepção da corrupção no Brasil ainda está abaixo da média do Brics (39), da média regional para a América Latina e o Caribe (41), da mundial (43) e ficou ainda mais distante da média dos países do G20 (54) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) (64).
O pequeno aumento no número de pontos fez o Brasil saltar da 106ª posição registrada em 2019 para a 94ª, mas ainda atrás de países como Colômbia, Turquia e China. A Transparência Internacional alerta que o país enfrenta sérios retrocessos no combate à corrupção.
“Não será através de soluções populistas e autoritárias que construiremos um país íntegro e justo. Será através do fortalecimento da nossa democracia e de uma cidadania consciente, unida, livre e ativa na luta por seus direitos”, afirma a ONG, em comunicado que acompanhou a divulgação do relatório.
Na 94ª posição, o Brasil é acompanhado, com a mesma pontuação, por Etiópia, Cazaquistão, Peru, Sérvia, Sri Lanka, Suriname e Tanzânia.
Lideram o ranking, empatados com 88 pontos, Dinamarca e Nova Zelândia, seguidas, no campo dos “altamente íntegros”, por Finlândia, Singapura, Suécia, Suíça, Noruega, Holanda, Alemanha e Luxemburgo.
A pontuação de 2019 havia sido a mais baixa desde 2012, quando passou a ser possível fazer comparações anuais. Em 2018, o Brasil caiu nove posições em relação ao ano anterior, ficando em 105º lugar. A classificação brasileira apresenta tendência de queda desde 2014, quando o país ocupava a 69ª posição.
“Falta de integridade tirou oxigênio das pessoas”
No capítulo relativo ao Brasil, divulgado em português pela ONG, o relatório destaca que a luta contra a corrupção, bandeira de boa parte da classe política eleita nos últimos anos, não se transformou em medidas concretas.
“Nenhuma agenda efetiva de reformas anticorrupção foi apoiada pelo governo e aprovada pelo Congresso. Pelo contrário, ocorreram graves retrocessos institucionais, principalmente com a perda de independência de órgãos fundamentais como a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal”, observa.
Além disso, prossegue o relatório, “o avanço do autoritarismo, com ataques crescentes aos jornalistas e à sociedade civil, ameaça outra frente essencial para a luta contra a corrupção: a produção de informação de interesse público e o controle social”.
De acordo com o relatório, o ano de 2020, devido à pandemia, expôs a necessidade real de responder urgentemente às necessidades da sociedade. E, com isso, os riscos de corrupção também cresceram. “No Brasil, a falta de integridade dos governantes literalmente tirou o oxigênio das pessoas”, enfatiza o relatório.
Quando a corrupção mata
O índice de 2020 analisa especificamente a correlação entre os níveis de corrupção e a resposta das nações à pandemia de coronavírus no ano passado. O relatório destaca o impacto da corrupção nas respostas governamentais à covid, comparando o desempenho dos países no índice com seu investimento em assistência médica e a extensão do enfraquecimento das normas e instituições democráticas durante a pandemia.
A ONG afirma que a corrupção é predominante em toda a resposta global à Covid-19, desde subornos para a obtenção de testes e tratamento até a compra pública de suprimentos médicos.
O relatório aponta para “inúmeras vidas perdidas devido aos efeitos insidiosos da corrupção, minando uma resposta global justa e equitativa” à pandemia.
A análise da Transparência Internacional ressalta que a corrupção desviou fundos de investimentos necessários para cuidados de saúde, deixando algumas comunidades sem médicos, equipamentos e também clínicas e hospitais.
“A Covid-19 não é apenas uma crise de saúde e econômica: é uma crise de corrupção, a qual estamos atualmente falhando em administrar”, diz a presidente da ONG, Delia Ferreira Rubio, no resumo do relatório. (Com agências internacionais)
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