Tendo Bolsonaro como refém político, Centrão começa a cobrar fatura e exige ministérios estratégicos

 
Diferentemente do que afirmou na campanha de 2018 e ao longo dos primeiros meses de governo (vídeo ao final da matéria), Jair Bolsonaro vem confirmando o que o UCHO.INFO sempre afirmou: o presidente é o que se conhece na política como “mais do mesmo”. Isso porque o chefe do Executivo federal, para manter-se no poder e levar adiante seu projeto de reeleição, terá de transformar a Esplanada dos Ministérios em uma espécie de condomínio, a ser dividido entre os partidos do Centrão.

Depois da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, em especial, o Centrão passou a exigir cargos em todas as camadas da máquina federal, inclusive no alto escalão. Com uma criminosa voracidade por cargos, o Centrão está a exigir pelo menos três pastas importantes: Saúde, Cidadania e Agricultura. Além disso, tem cobrado o comando da Casa da Moeda e a recriação do Ministério do Planejamento.

Se Bolsonaro cederá à pressão dos parlamentares fisiologistas, abrindo caminho para o velho “toma lá, dá cá”, não se sabe, mas sua sobrevivência política depende desse escambo espúrio e condenável.

O presidente da República tem negado que promoverá em breve uma reforma ministerial, mas tudo indica que isso acontecerá logo após a Câmara aprovar a independência do Banco Central, que deve acontecer nos próximos dias. Afinal, o projeto que trata do tema foi aprovado no Senado em 2020 e está estacionado na Câmara à espera do aval dos deputados.

Em relação ao Ministério da Saúde, que em 2020 teve orçamento de R$ 150 bilhões, o pretendente é o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara e que recentemente ameaçou “enquadrar” a Anvisa por causa da demora na aprovação de uso emergencial de vacinas contra Covid-19. A ameaça ocorreu na esteira do interesse do governo em adquirir a vacina russa Sputnik V, fabricada no Brasil pelo laboratório União Química, cujo diretor de relações internacionais é um outrora integrante do Centrão, o ex-deputado federal Rogério Rosso (PSD-DF).

 
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Não custa lembrar que Ricardo Barros, enquanto ministro da Saúde no governo do então presidente Michel Temer, foi o pivô de um escândalo envolvendo a compra de L-asparaginase, medicamento usado no tratamento de leucemia linfoblástica aguda. Revelado com exclusividade pelo UCHO.INFO em janeiro de 2017, o escândalo tinha como coadjuvante um laboratório paraguaio, sem sede no Paraguai, que funcionava em escritório de contabilidade localizado na Grande São Paulo e comprava o produto de um fornecedor chinês.

A pasta da Cidadania é cobiçada pelo Centrão por sua capilaridade em termos de atuação, o que proporciona aos políticos visibilidade maior em seus redutos eleitorais. Apenas para ilustrar a importância do Ministério da Cidadania, coube à pasta planejar e organizar o pagamento do auxílio emergencial em 2020.

O Ministério do Planejamento, que foi transformado em secretaria por Bolsonaro e está no guarda-chuva da Economia, sob o comando de Paulo Guedes, poderá ser recriado para aplacar o apetite do Centrão por cargos. Trata-se de pasta com peso e importância política, pois participa diretamente e de maneira prévia nas ações do governo. Considerando que o presidente da República acena com a reeleição, a pasta, se ressuscitada, terá visibilidade potencializada nos próximos meses e muito dinheiro à disposição.

No que tange ao Ministério da Agricultura, a ideia do Centrão é ocupar a pasta e transferir a ministra Tereza Cristina para o comando do Itamaraty. Representante do agronegócio, Tereza Cristina e filiada ao Democratas, ou seja, integrante do Centrão, Tereza Cristina substituiria o atual ministro Ernesto Araújo no comando do Ministério das Relações Exteriores. Com tantos nomes relevantes na diplomacia brasileira, incumbir Tereza Cristina de cuidar da política externa brasileira é no mínimo uma temeridade.

A ideia de deslocar Tereza Cristina para a pasta de Relações Exteriores surgiu depois que a ministra atuou nas negociações com a China para liberar a exportação dos Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) necessários para a produção no Brasil das vacinas Coronavac e AstraZeneca-Oxford. O imbróglio se formou no vácuo dos sucessivos ataques do governo brasileiro a Pequim.

Como mencionado acima, é temerário afirmar que Bolsonaro cederá à pressão do Centrão, mas não custa lembrar que o calvário da então presidente Dilma Rousseff começou exatamente quando a petista decidiu não mais atender aos pedidos de Eduardo Cunha, que na condição de presidente da Câmara foi responsável por colocar em marcha o processo de impeachment.

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