Para salvar Bolsonaro, Saúde muda sistema de registro de mortes por Covid-19; pressionado, governo recua

 
Instado a aliviar a pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro por conta do descontrole da pandemia, o Ministério da Saúde alterou os critérios para o registro de pacientes no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), no qual estão incluídos os infectados com o novo coronavírus, decisão que acabou provocando quedas artificiais na contagem de mortos por Covid-19.

Os critérios de registro de óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave foram alterados na terça-feira (23), dia em que o País registrou um número recorde de mortos em razão da doença, com 3.158 óbitos. Após críticas, o ministério teria voltado atrás na decisão, mas a mudança nos critérios já afetou os números de mortes já divulgados por alguns estados nesta quarta-feira, como São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.

Na terça, o ministério incluiu novos campos de preenchimento obrigatório na ficha do Sivep-Gripe, passando a exigir informações como o número do CPF, nacionalidade, número do Cartão Nacional do Sistema Único de Saúde (Cartão SUS) e se o paciente já foi ou não vacinado contra o novo coronavírus.

O preenchimento do campo do CPF, que antes era considerado apenas como “essencial”, passou a ser obrigatório. Contudo, se o paciente não tivesse o CPF em mãos, passaria a ser obrigatório fornecer o número do Cartão Nacional do SUS. Estão isentos dessa regra aqueles que se declararem indígenas na ficha.

Segundo apurou o jornal “Folha de S.Paulo”, citando um funcionário do ministério, algumas instabilidades já foram reportadas ao Datasus, que administra o sistema de informações do órgão.

A inserção do número do CPF não estaria puxando os dados do paciente automaticamente, como planejado. Técnicos do ministério estariam trabalhando para melhorar o acesso ao sistema.

 
O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) afirmou à reportagem da TV Globo que os novos campos já vinham sendo discutidos anteriormente, mas teria havido “falta de comunicação adequada” no momento em que a mudança se tornou oficial. A entidade exigiu a retirada dos novos campos de preenchimento, pelo menos em caráter temporário.

O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, também afirmou que a pasta precisava rever “imediatamente” a mudança nos critérios. Segundo ele, o conselho que reúne as secretarias estaduais de Saúde do país não foi avisado pelo ministério sobre a medida.

Nesta quarta-feira (24), representantes do Conasems e do Conass confirmaram à TV Globo que o Ministério da Saúde acatou os pedidos das entidades e recuou na decisão de mudar o sistema de registro de pacientes.

Números despencam em São Paulo

Com o novo sistema, os números de óbitos por Covid-19 em São Paulo despencaram. O estado, que registrou recorde diário de 1.021 mortes na terça-feira, somava apenas 281 nas últimas 24 horas. A queda dos números no estado mais atingido pelo novo coronavírus afeta também os dados nacionais.

A Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo também afirmou que não foi comunicada previamente sobre as mudanças na ficha e chegou a enviar um ofício ao Ministério da Saúde pedindo esclarecimentos.

No documento, o órgão afirma que “o erro apresentado nestas funções impacta diretamente no monitoramento e encerramento dos casos e óbitos confirmados para Covid-19, divulgados diariamente”.

Resumindo, a exemplo do que ocorreu em relação à divulgação dos dados sobre a Covid-19 no País, que forçou a criação do consórcio de veículos de imprensa, que disponibiliza diariamente o balanço do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Ministério da Saúde tentou uma manobra de última hora para tentar minimizar a crise enfrentada pelo presidente da República, um negacionista convicto que não sabe mais o que fazer para proteger sua torpeza de pensamento. (Com agências de notícias)

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