Pressionado, Ernesto Araújo pede demissão; cargo será entregue a Bolsonaro na tarde desta segunda-feira

 
Debaixo de pressão que aumentou sobremaneira nos últimos dias, o ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, pediu demissão do cargo. A decisão contraria fala do próprio Araújo, que em recente audiência no Senado Federal, diante dos apelos dos senadores por sua saída, disse que não sairia. Questionado sobre sua atuação no âmbito da pandemia do novo coronavírus, o ministro disse que “dorme com a consciência tranquila”.

A decisão foi comunicada à cúpula do Itamaraty pelo próprio ministro. De acordo com fontes do Palácio do Planalto, o chanceler e o presidente da República terão mais uma reunião às 17h. Araújo disse a Jair Bolsonaro que seu desejo é não causar mais problemas para o governo, os quais cresceram muito nos últimos dias. A expectativa de integrantes do governo é que a saída do Araújo seja oficializada ainda nesta segunda-feira (29), que depende de publicação no Diário Oficial da União.

Com a saída de Araújo, o Palácio do Planalto pretende nomear outro diplomata para o cargo. Entre os nomes mais cotados estão o de Nestor Forster, embaixador do Brasil nos Estados Unidos, e Luís Fernando Serra, que representa o País na França. Contudo, o nome com mais força nos bastidores do Palácio do Planalto é o do almirante Flávio Rocha, atual secretário de Comunicação Social e da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).

Na última semana, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, pressionaram o presidente da República pela demissão do chanceler. Lira chegou a dizer que Ernesto Araújo perdeu a capacidade de dialogar com os países, o que é fato. Prova disso é dificuldade enfrentada pelo Brasil para adquirir vacinas e insumos para a produção de imunizantes contra a Covid-19.

 
A “gota d’água” surgiu no domingo (28), quando Araújo afirmou em postagem no Twitter que a pressão do Congresso era fruto de interesses relacionados à tecnologia 5G e não por causa das vacinas contra a Covid-19. O que não condiz coma verdade dos fatos.

A senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, reagiu à declaração do ministro afirmando, em nota, que o Brasil não poderia mais ter mais “a face de um marginal” e voltou a pressionar pela saída do ministro.
“Se um chanceler age dessa forma marginal com a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado de seu próprio país, com explícita compulsão belicosa, isso prova definitivamente que ele está à margem de qualquer possibilidade de liderar a diplomacia brasileira. Temos de livrar a diplomacia do Brasil de seu desvio marginal”, afirmou Kátia Abreu.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) engrossou o coro contra Araújo: “Não adianta somente podá-lo, porque a poda vai fortalecer a planta. Desse joio é preciso arrancar as raízes, fertilizar as mudas democráticas e ‘forjar na democracia o milagre do pão”. Ernesto e democracia não andam juntos. Não há opção. Democracia fica. Ernesto tem de sair”.

Em outra frente, no último sábado (27), 300 diplomatas divulgaram carta, sem assinaturas, em que acusam a política externa brasileira de causar graves prejuízos à imagem do País.

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