Bolsonaro exalta “tratamento precoce” em Chapecó (SC), que coleciona os piores números da pandemia

 
Com o Brasil registrando até esta segunda-feira (5) mais 333 mil mortes por Covid-19, podendo chegar a quase 600 mil óbitos até julho se nenhuma medida drástica for adotada até lá, o presidente Jair Bolsonaro volta a acionar os botões do negacionismo e da irresponsabilidade genocida ao defender mais uma vez o tal “tratamento precoce”, que consiste no uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra Covid-19. Além disso, os fármacos em questão provocam efeitos colaterais graves, que vão de parada cardíaca a hepatite medicamentosa, em alguns casos exigindo transplante de fígado.

Nesta segunda-feira, durante entrega de casas populares no Distrito Federal, Bolsonaro disse que viajará nos próximos dias à cidade de Chapecó (SC), onde, segundo o presidente, o prefeito João Rodrigues (PSD) realiza “um trabalho excepcional” no “atendimento na ponta da linha” para quem precisa de tratamento contra o novo coronavírus.

“[Rodrigues é um] exemplo a ser seguido, por isso estou indo para lá. Para exatamente não só ver, mas mostrar a todo o Brasil que o vírus é grave, mas seus efeitos têm como ser combatidos. Mais ainda, naquele município —com toda certeza em mais [cidades], em alguns estados também— o médico tem a liberdade total para trabalhar com o paciente, total. Esse é dever do médico, uma obrigação e direito dele”, declarou o presidente da República.

Em outro ponto do discurso, Jair Bolsonaro voltou a afirmar que as políticas de enfrentamento ao novo coronavírus não podem ser mais nocivas do que a própria doença. Essa fala descalibrada, como sempre, serviu para defender que os brasileiros voltem ao trabalho, como se a vida pudesse ser exposta à “roleta russa” de um governo incompetente, paralisado e populista. “O Brasil precisa voltar a trabalhar”, disse o presidente.

A programada visita a Chapecó ganha contornos de escárnio oficial pelo fato de que Bolsonaro estará acompanhado do ministro da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga, que como médico sabe a a importância de tratamentos serem pautados pela ciência, não pelo achismo de um governante apasquinado e que insiste em agradar a horda de apoiadores.

 
Se viajar a Chapecó e não rebater o presidente da República no tocante ao tal “tratamento precoce”, Queiroga jogará o diploma de médico no lixo. Não se trata de interpretação radical da situação, mas de respeito à ciência e de interpretação dos dados sobre a Covid-19 na cidade que receberá Bolsonaro.

Chapecó enfrentou colapso no sistema de saúde em fevereiro, transferiu pacientes para outras cidades e estados, adotou medidas restritivas e ampliou o número de leitos no município. A cidade catarinense tem 537 mortos pela Covid-19 desde o início da pandemia, sendo que mais de 410 foram registrados neste ano.

Para contrapor o discurso ensandecido de Bolsonaro é importante destacar que Chapecó tem taxa de 243 mortos para cada 100 mil habitantes, superior à média nacional (157,7 vítimas) e de Santa Catarina (158). Os dados estão disponíveis no site do Ministério da Saúde e não consideram a estratificação da população. Há ainda 193 pessoas internadas na cidade, número superior ao de 20 de fevereiro (183 internados), quando o município estava em colapso.

Resumindo, se o “kit Covid-19” fosse realmente eficaz, como prega o presidente genocida, Chapecó não estaria enfrentando uma situação caótica no escopo da pandemia, que coloca o município em cenário macabro.

Resta saber o que precisa ser feito para que o Congresso Nacional desperte para a dura realidade que devasta o País e decida abrir processo de impeachment contra o presidente da República, que em qualquer lugar sério do planeta já teria sido mandado de volta para casa.

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