A delinquência intelectual do presidente Jair Bolsonaro é tão devastadora ou mais do que a pandemia do novo coronavírus, que no Brasil já ceifou mais de 337 mil vidas e contaminou 13 milhões de pessoas.
Na noite de terça-feira (6), em conversa com apoiadores que se aglomeravam em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro voltou a atacar a imprensa com afirmações levianas e disse que “resolve o problema do vírus em poucos minutos”. “É só pagar o que os governos pagavam para Globo, Folha, Estado de S. Paulo… Esse dinheiro não é para imprensa, esse dinheiro é para outras coisas”, declarou.
Desprovido de competência mínima e movido pela truculência discursiva, comportamento que faz a alegria da súcia de aduladores, Bolsonaro não aceita ser contrariado em seus delírios e ataca de maneira vil e covarde seus adversários, em especial os veículos de imprensa não importando a realidade dos fatos. Afirmar que notícias sobre a pandemia seriam menos impactantes se os veículos de comunicação fossem remunerados é crime.
Sem ter como justificar o fracasso do governo no combate à pandemia, a começar pelo impressionante atraso na aquisição de vacinas, o presidente insiste no negacionismo e continua a chafurdar na sua irresponsabilidade genocida.
Horas depois de do encontro com apoiadores, Bolsonaro viajou a Santa Catarina, onde voltou a defender o ‘tratamento precoce” da Covid-19, que consiste no uso medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença provocada pelo novo coronavírus. A Associação Médica Brasileira já se manifestou a favor do banimento desse tipo de tratamento, cujos fármacos produzem efeitos colaterais perigosos e às vezes graves.
Em Chapecó, cidade catarinense exaltada pelo presidente pelo combate ao novo coronavírus, mas que de janeiro para cá registrou 400 mortes pela doença e tem índice de óbitos acima da média nacional, o presidente descartou a possibilidade de adoção de “lockdown nacional”. A fala irresponsável de Bolsonaro acontece um dia após o País registrar mais de 4 mil mortes por Covid-19.
“Vamos buscar alternativas, não vamos aceitar a política doo fique em casa, feche tudo, lockdown. O vírus não vai embora. Esse vírus, como outros, vieram pra ficar, e vão ficar a vida toda. É praticamente impossível erradicá-lo”, declarou Bolsonaro.
“Eu não sei como salvar vidas, eu não sou médico, não sou enfermeiro, mas eu não posso escolher a liberdade do médico ou até mesmo do enfermeiro. Ele tem que buscar uma alternativa para isso”, emendou.
“Não podemos admitir impor limites ao médico. Se o médico que receitar aquele medicamento, que não receite. Se outro cidadão qualquer acha que aquele medicamento não está errado, não está certo porque não tem comprovação científica que não use, é liberdade dele. O off-label, fora da bula, é o remédio pro paciente. Hoje tem aparecido medicamentos ainda não estão comprovados, que estão sendo testados e o médico tem essa liberdade. Tem que ter. É um crime querer tolher a liberdade de um profissional de saúde”, concluiu.
Se Bolsonaro afirma não ser médico, como de fato, não lhe cabe o direito de sugerir tratamentos médicos contra qualquer doença, a começar pela Covid-19. Causa espécie o fato de o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que é cardiologista e conhece os efeitos colaterais provocados pelo “tratamento precoce”, calar-se diante de declarações que atentam contra a boa prática da medicina.
Sem se importar com as mais de 337 mil mortes causadas pelo novo coronavírus, muitas das quais poderiam ter sido evitadas por ações coerentes do governo, além dos milhões de infectados que enfrentam sequelas das mais variadas, o presidente está preocupado apenas com um projeto de reeleição que começa a derreter à sombra de sua persistente ignorância.
Caso tivesse doses rasas de humildade e coerência, Bolsonaro faria um “mea culpa” no campo da pandemia e adotaria medidas baseadas na ciência para conter o avanço de uma doença que tem devastado o País sem qualquer cerimônia. Bolsonaro resiste na trincheira da estupidez porque não lhe resta outra saída para manter-se no cargo, desconsiderado um possível “cavalo de pau” na democracia.
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