O negacionismo torpe e a irresponsabilidade genocida em relação à pandemia do novo coronavírus deixam o presidente Jair Bolsonaro em situação de extrema dificuldade na CPI da Covid, em curdo no Senado Federal. Tal cenário, agregado aos depoimentos prestados até agora, é visto como munição extra para os integrantes do colegiado, composto em sua maioria por opositores do governo central.
Enquanto boa parte do planeta corria atrás de vacinas contra Covid-19, Bolsonaro não apenas negava a pandemia, mas vendia aos incautos a falsa ideia de que o uso de cloroquina e outros fármacos sem eficácia comprovada contra a doença representavam o golpe fatal contra o SARS-CoV-2.
Os próximos depoimentos têm potencial de piorar ainda mais a situação de Bolsonaro. Presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, que além de militar é médico de formação, não fugirá das perguntas, a exemplo do que fez o ministro Marcelo Queiroga (Saúde), que por diversas vezes alegou não ter condições para fazer juízo de valor.
Em abril de 2020, a Anvisa, em nota assinada por Barra Torres, alertou o governo para o fato de que a cloroquina não deveria ser usada contra o novo coronavírus, devendo o medicamento ser destinado “exclusivamente às indicações terapêuticas” aprovadas pela agência.
“Recomendamos ao Ministério da Saúde e Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 que os comprimidos de hidroxicloroquina fabricados pelo Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército e pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos – Farmanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz, sejam destinados exclusivamente às indicações terapêuticas já aprovadas por esta Anvisa e que constam na bula do medicamento”, destacou a nota informativa da Anvisa.
Ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo usou a estrutura do Itamaraty para atuar junto a outros países e evitar o desabastecimento de hidroxicloroquina no Brasil, enquanto Bolsonaro apostava na imunidade de rebanho. A ação irresponsável do “terraplanista” Araújo continuou mesmo após a Organização Mundial da Saúde (OMS) interromper testes clínicos com o medicamento e associações médicas alertarem para sua ineficácia contra Covid-19.
O ex-chefe do Itamaraty, que tem depoimento agendado para esta semana, criará uma enorme confusão para o governo caso reconheça que agiu a mando do presidente da República e seus negacionistas de plantão.
Ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten já afirmou em entrevista que o País enfrenta problemas na aquisição de vacinas por causa da incompetência do Ministério da Saúde. Se Wajngarten, que saiu atirando após perder cargo no governo, acreditou que com tal declaração ajudaria Bolsonaro, acabou piorando o que já era ruim.
Contudo, quem de fato tem poder para dificultar sobremaneira a situação do presidente da República é o ex-ministro Eduardo Pazuello (Saúde), que vem tentando escapar do depoimento ou, na melhor das hipóteses, comparecer perante os senadores da CPI na condição de investigado, não como testemunha, que exige o compromisso de dizer apenas a verdade.
Caso deponha como testemunha, Pazuello terá de reconhecer que apenas cumpria as ordens de Bolsonaro, o verdadeiro responsável por definir as diretrizes do combate à pandemia. Contudo, se tentar proteger o presidente e faltar com a verdade, sairá preso da CPI.
Jair Bolsonaro sabe que a CPI da Covid pode responsabilizá-lo pelo desastre em que se transformou a atuação do governo no enfrentamento da pandemia, além de ter cometido crime contra a saúde pública ao defender e divulgar o uso de medicamentos ineficazes contra a doença. Esse pavor explica a insistência de alguns senadores governistas na defesa da hidroxicloroquina. Além disso, no final de semana Bolsonaro pediu a todos os ministros que gravem vídeos defendendo o uso do medicamento no chamado “tratamento precoce”.
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