CPI da Covid: temendo depoimento de Pazuello, presidente da República pode radicalizar ainda mais

 
Enfrentando crise política sem precedentes, em especial por conta da pífia atuação do governo no combate à pandemia, o presidente Jair Bolsonaro radicaliza cada vez mais os discursos, as ameaças e as ações. Essa estratégia, que revela o elevado grau de desespero que domina o Palácio do Planalto.

Grotesco, para dizer o mínimo, Bolsonaro sabe que a CPI da Covid já tem elementos de sobra para responsabilizá-lo pelo genocídio decorrente da Covid-19, que não foi enfrentada com a devida responsabilidade pelo governo central. Por causa disso, o presidente tenta desqualificar os trabalhos da comissão, como se a verdade dos fatos não fosse suficiente.

Ao dizer que a CPI da Covid “dará em nada”, o presidente confirma aquilo que o UCHO.INFO sempre afirmou: Bolsonaro é incompetente em termos políticos. A incompetência nesse caso não é apenas do presidente, mas de todo o staff palaciano, que sequer sabe escolher os integrantes da “tropa de choque” escalada para defender o governo na CPI.

Acreditar que o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que atua nos bastidores com muita astúcia, tem oratória suficiente para defender o governo na CPI é sinal de que Bolsonaro não sabe mais o que fazer para escapar da responsabilidade.

Como se nada representasse o conteúdo dos depoimentos prestados até agora (Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich), sem considerar a desastrada participação do ministro Marcelo Queiroga (Saúde), o Palácio do Planalto trabalha em múltiplas frentes para evitar que Eduardo Pazuello compareça à CPI.

General da ativa, Pazuello alegou ter mantido contato com duas pessoas infectadas pelo novo coronavírus para não prestar depoimento na última quarta-feira (5). Na ocasião, o ex-ministro da Saúde solicitou que o depoimento fosse prestado de forma remota, mas a CPI não indeferiu o pedido, remarcando a oitiva para 19 de maio.

 
Agora, temendo ser preso por não falar a verdade, condição básica de todos que depõem como testemunha, o general busca uma saída jurídica para evitar o pior. A defesa de Pazuello deve recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que ele deponha como investigado, já que é alvo de investigação em trâmite na Corte. Apesar da tese defendida pelo general, a possibilidade de o STF acolher o argumento é quase nula.

Diante desse possível cenário, o depoimento de Pazuello é visto como extremamente perigoso para o presidente da República, pois a oratória do ex-ministro da Saúde é das piores. Sem considerar o desastre em que se transformou o combate à pandemia e o caos no sistema de saúde de Manaus.

Além disso, para piorar ainda mais a situação de Bolsonaro, a expectativa é que Pazuello diga a seus inquiridores que apenas cumpria ordens. Afinal, o próprio general afirmou em transmissão pela internet, ao lado do presidente da República, que “um manda e o outro obedece”. Essa declaração foi dada após Bolsonaro desautorizar Pazuello e determinar o cancelamento do acordo de compra de 46 milhões de doses da Coronavac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

Não obstante, a defesa que a “tropa de choque” do governo na CPI vem fazendo do tratamento precoce deve colocar mais combustível na fogueira da CPI da Covid. Fosse o Brasil um país razoavelmente sério e com autoridades cientes de suas obrigações, Bolsonaro já teria deixado o cargo e estaria preso. Infelizmente o Brasil é o paraíso do “faz de conta”.

Prova maior da difícil situação do presidente da República é a recente declaração do senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid. Após tomar conhecimento que o governo acredita no fracasso das investigações, Calheiros foi taxativo: “O Brasil virou o cemitério do mundo. O fato de terem transformado o Brasil nisso não ficará impune. Seria a desmoralização de todos nós da CPI”.

Se o governo realmente acreditasse que a CPI dará em nada, Bolsonaro não teria procurado, sem sucesso, o ex-presidente José Sarney, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB). Essas fracassadas investidas tinham como objetivo abrir caminho para um diálogo com o relator.

No apagar das luzes de janeiro de 2019, quando o Senado escolheu o presidente da Casa até o início de 2021, o UCHO.INFO afirmou que o melhor para Bolsonaro seria apoiar a candidatura de Renan Calheiros, principalmente por sua experiência política e pelo bom trânsito nos partidos de oposição. À época, o Palácio do Planalto decidiu apoiar Davi Alcolumbre, que ultimamente tem ignorado os telefonemas do presidente da República.

Se você chegou até aqui é porque tem interesse em jornalismo profissional, responsável e independente. Assim é o jornalismo do UCHO.INFO, que nos últimos 20 anos teve participação importante em momentos decisivos do País. Não temos preferência política ou partidária, apenas um compromisso inviolável com a ética e a verdade dos fatos. Nossas análises políticas, que compõem as matérias jornalísticas, são balizadas e certeiras. Isso é fruto da experiência de décadas do nosso editor em jornalismo político e investigativo. Além disso, nosso time de articulistas é de primeiríssima qualidade. Para seguir adiante e continuar defendendo a democracia, os direitos do cidadão e ajudando o Brasil a mudar, o UCHO.INFO precisa da sua contribuição mensal. Desse modo conseguiremos manter a independência e melhorar cada vez mais a qualidade de um jornalismo que conquistou a confiança e o respeito de muitos. Clique e contribua agora através do PayPal. É rápido e seguro! Nós, do UCHO.INFO, agradecemos por seu apoio.