O orçamento secreto do governo federal, com recursos na ordem de R$ 3 bilhões, para a compra de apoio no Congresso Nacional é um escândalo de proporções impensáveis e que pode levar o presidente Jair Bolsonaro a enfrentar sérios problemas no Parlamento, inclusive processo de impeachment.
Na Câmara dos Deputados, parlamentares já se movimentam para criar a “CPI do Tratoraço” com o objetivo de apurar uso de dinheiro público para a compra de tratores e máquinas agrícolas por preços superfaturados em até 250%.
Além disso, como noticiou o UCHO.INFO na edição de 10 de maio, Bolsonaro ampliou a área de atuação da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal controlada pelo Centrão, bloco parlamentar que vive à sombra do proxenetismo político. Com a decisão, a Codevasf fica incumbida de aplicar os recursos do orçamento secreto de acordo com indicações dos integrantes do Centrão.
Na segunda-feira (10), o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) iniciou a coleta de assinaturas para criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investigará o escândalo do “tratoraço”. De acordo com o Regimento Interno da Câmara dos Deputados, são necessárias 171 assinaturas para se criar uma CPI.
“A criação de orçamento paralelo com execução condicionada à indicação de parlamentares que votam com o governo configura verdadeira compra de votos e fere gravemente a autonomia do Poder Legislativo e a separação de poderes assegurada na Constituição”, disse Valente no requerimento de abertura da CPI.
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O escândalo do “tratoraço” serviu para alavancar as candidaturas de Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) ao comando da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, respectivamente. De tal modo, Lira e Pacheco devem explicações à opinião pública, assim como os articuladores do esquema.
No momento em que o País tenta administrar os efeitos da pandemia do novo coronavírus, que já deixou mais de 423 mil mortos, e enfrenta dificuldades para adquirir vacinas contra Covid-19, a criação de um “orçamento secreto” para a compra de apoio parlamentar é um escárnio inaceitável que precisa ser apurado o quanto antes, com a devida punição dos envolvidos no esquema criminoso, a começar pelo presidente da República.
“É inadmissível que, na pior crise sanitária, social e econômica do mundo, com a população brasileira morrendo de fome, de covid-19 e de tiro, o presidente use de corrupção para conseguir que seus aliados ganhem as eleições para a Câmara e o Senado. No entanto, não nos surpreende. Bolsonaro é a mais velha forma de fazer a política do toma lá, dácá”, disse a líder do PSOL, Talíria Petrone (RJ).
Para quem prometeu o fim das “mamatas” na política e condenou o escambo político, Jair Bolsonaro é uma ode ao deboche. Os brasileiros de bem não podem ficar calados diante de um escândalo que em qualquer país sério já teria provocado a renúncia do chefe do governo. O Brasil precisa sair da letargia e deixar para trás o status de paraíso do “faz de conta”.
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