(*) Carlos Brickmann
Há pesquisas que apontam uma recuperação de Bolsonaro, há pesquisas que apontam um forte avanço de Lula e uma rápida queda de Bolsonaro – a tal ponto que, se chegasse ao segundo turno, não ganharia de ninguém.
Qual o resultado correto, qual o errado? Ambos – os dois estão errados e também corretos. E nada significam, já que a campanha eleitoral ainda está nos ensaios, uma ala importante da opinião pública, o centro, ainda nem tem candidato (nem sabe se terá candidato único), e num quadro de polarização o próprio crescimento de um candidato provoca automaticamente a alta de seu adversário. Simplificando: a pesquisa que indica ampla vantagem de Lula pode fazer com que muitos bolsonaristas desiludidos voltem a apoiar Bolsonaro; a pesquisa que indica vantagem de Bolsonaro pode levar muitos eleitores cansados do petismo a juntar-se em torno de Lula – em ambos os casos, para evitar o mal maior, a eleição do adversário que detestam.
Eleição é corrida de longa distância, onde boa largada e velocidade máxima são menos importantes que resistência e velocidade média. Em uma semana, a quarta colocada nas pesquisas para a Prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina, ganhou do favoritíssimo Paulo Maluf, passando na reta final os candidatos do prefeito Jânio Quadros e do governador Orestes Quércia. A utilidade da pesquisa, a tanto tempo da eleição, não é indicar o vencedor: é mostrar aos analistas da campanha o que funciona ou não, e apenas isso.
Como tudo acontece
Um dos papas das pesquisas políticas no Brasil, Antonio Lavareda, fala sobre a diferença dos números nos levantamentos. https://go.shr.lc/2RSvEnJ
Buscando problemas
Como oposição organizada ao Governo quase não existe (a exceção talvez venha a ser a CPI da Covid), Bolsonaro continua fazendo o possível para ocupar o espaço de criar dificuldades para si próprio. Justo no Ministério da Saúde, neste momento sob observação especial, nomeou Carlos Henrique Menezes Sobral para assessor especial do ministro Marcelo Queiroga.
Sobral, PMDB, foi assessor de Eduardo Cunha na Presidência da Câmara; chefe de gabinete de Geddel Vieira Lima, no Ministério do Governo do presidente Temer; trabalhou, já no Governo Bolsonaro, com o ministro da Cidadania Osmar Terra – aquele que previu que a Covid duraria uns dois meses e mataria menos gente que uma epidemia de gripe (2.100 pessoas). Dos três chefes, dois passaram pela cadeia, condenados por corrupção.
Claro, o assessor não é responsável pelo que seus chefes aprontam. Mas chama a atenção que os três o tenham escolhido. E, embora seja do PMDB, não vai atrair o partido para o Governo: o partido segue Renan, oposição.
Cuidado
Por falar em Renan, o presidente Bolsonaro não pode tratá-lo como se não tivesse importância. Há bons motivos para atacar Renan, criticá-lo, buscar histórias desabonadoras em seu currículo, detestá-lo. Mas não se pode ignorá-lo: é um adversário temível, conhece o Congresso – tanto as normas escritas como as não-escritas, tanto os senadores quanto os deputados. Joga duro, sempre para ganhar. Provocá-lo, mandar um dos filhos xingá-lo, ir a Alagoas inaugurar de novo uma ponte já inaugurada no ano passado só para provocar o filho de Renan, governador do Estado, é flertar com o perigo.
O cerco se aperta – Covid
A propaganda bolsonarista proclama que, com o depoimento do CEO da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, foi enterrada a CPI da Covid. Não é bem assim: Murillo disse ter enviado cinco cartas ao Governo, com a oferta de vacinas entre 30 e 70 milhões de doses, sem receber resposta. O Governo diz que foi preciso o Congresso aprovar uma lei permitindo que se assinasse um contrato como o proposto pela Pfizer para encomendar vacinas. Mas o Governo já tinha assinado um contrato parecido com a AstraZeneca. E as duas vacinas estavam em estágio próximo de desenvolvimento, sem conclusão dos estudos. Nenhuma podia sequer pedir autorização de uso por emergência.
Bolsonaro diz que o general Pazuello não errou em nada. Então, por que o demitiu? E por que a luta para mantê-lo calado na CPI?
O cerco se aperta – verbas
O tratoraço – ou Bolsolão – ainda não provocou CPI, mas vem sendo bem investigado pela imprensa. Do que se trata: o Governo reservou R$ 3 bilhões do orçamento para que determinados parlamentares indicassem como seriam gastos. Cada parlamentar dispõe de uma verba pessoal, que em geral aplica na sua região eleitoral; o Bolsolão dá, além disso, uma verba muito maior, e apenas para escolhidos que se dispõem a apoiar o Governo. Há indícios de que se usa essa verba sem muito cuidado: houve, por exemplo, tratores cujo preço superou em até 259% o da tabela. Um trator de R$ 100 mil sairia por R$ 359 mil.
Esta é a hora em que parlamentares não contemplados vão querer saber cadê o deles. Quando souberem que não há, vão se irritar e reagir.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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