(*) Gisele Leite
Tendo em vista a toda atual na política brasileira, só falta mesmo definir a data. Enfim, é apenas questão de tempo. Enfim, depois de tanto vociferar o atual Presidente da República está evidentemente organizando um golpe de Estado tanto que os democratas passaram a ter inveja da normalidade alheia presente no resto do mundo.
Aliás, na derradeira semana de junho, esse sentimento restou evidente para quem visualizou a fotografia dos líderes do G7 que representam as sete democracias mais abastadas do mundo. A fotografia tirada sob céu plúmbeo e à beira do mar serene da Cornualha, os líderes se cumprimentaram com os cotovelos, e subiram num estrado de madeira montado na areia da praia e assim, posaram para os fotógrafos.
Depois, reuniram-se na mesa redonda para discutirem os problemas do mundo, debatendo temas como aquecimento global, o coronavírus, a onda autoritária na política e, por fim, a China.
Desde o início da presente pandemia, foi a primeira vez, que se sentaram frente a frente, contrariando a diplomacia de forma virtual na plataforma Zoom. Nos debates também surgiram divergências e, sem a presença desagregadora de Donald Trump mostraram um autêntico espetáculo de civilidade.
Na Europa, aliás, retomou-se o espetáculo de jogos nos estádios com a presença de torcidas. E, enfim, é a promessa de retorno à vida civilizada ganhou maior ênfase justamente com a ausência agradável de Trump e, com o sucesso da vacinação contra o covid-19.
Nós, pobres brasileiros, vivendo em pesadelo pois parece que o golpe de Estado poderá vir até antes, durante ou mesmo depois da eleição presidencial de 2022. A nossa pragmática anormalidade aponta para um surto de coronavírus que atingiu os atletas e delegações participantes da Copa América de Futebol que fora arranja às pressas num país justamente derrotado pela pandemia.
Os líderes do G7 apiedados, anunciaram a doação aos países pobres de um bilhão de doses de vacina, enquanto isto Bolsonaro em São Paulo, regia um coral de motoqueiro que gritavam impropérios contra o Governador Jorge Doria. Dizem que fora até multado.
Infelizmente, não significa que não estejamos notando os planos golpistas que já estão do tamanho de montanha. Porém, cogita-se no golpe em reuniões de trabalho, em encontros casuais, em almoços de família e até em mensagens de WhatsApp. E, nos jornais não há um só dia, que não haja um colunista aflito (como eu) a alertar sobre a possibilidade do golpe. Afinal, Bolsonaro está explicitamente promovendo o mais fenomenal aparelhamento do Estado brasileiro desde o início do período democrático. E, começou pelos órgãos de fiscalização e, abarcou ainda a Polícia Federal, a Receita Federal e até a Procuradoria-Geral da República que atualmente prestam serviços a ele e a sua nobre família.
Na CPI da Pandemia a coisa está pesada pois, alertado por um servidor e um deputado bolsonarista de que se armava uma maracutaia milionária na compra da Covaxin, a vacina indiana, Bolsonaro, “o incorruptível”, não moveu uma palha para acionar “sua” Polícia Federal. Agora, com o caso revelado, acionou-a para esmagar os denunciantes.
Enfim, à medida em que o golpe se arma, a turma presidencial mais se sente à vontade e, radicaliza progressivamente mais, assim, retroalimente o próprio golpe. É a produção do moto-contínuo que tanto bem caracteriza os movimentos autoritários.
Aliás, o deputado federal Ricardo Barros já até alertou que chegará um dia, que eles deixarão de cumprir as decisões do Supremo Tribunal Federal, e o anunciante é o atual líder do governo na Câmara dos Deputados. Comenta-se que o empresário bolsonariano Otávio Fakhoury fora flagrado numa investigação discutindo a dissolução do Supremo e do STJ com o ex-deputado Roberto Jefferson, atual presidente do PTB, cuja jactância golpista é extremada e preocupa até mesmo os aliados.
Há notório conluio com os policiais militares tão cortejados não porque sejam muitos, mas porque estão armados e nutrem afeto à base miliciana. Tanto que sancionou aumento de salário da PM do Distrito Federal, que é a única sustentada pela União, e até planeja lhes ofertar financiamento de cem por cento da casa própria. Nem os pobres integrantes do programa “Minha Casa, minha vida” receberam tratamento tão privilegiado. Mas, as razões do privilégio se medem em carinhosos calibres.
Logo no início de junho, o comandante do Exército, Paulo Sérgio de Oliveira, nitidamente pressionado pelo Presidente da República resolveu não punir o General Eduardo Pazuello que participara de ato político ao lado de Bolsonaro, informando que não se tratava de nenhum ato político pois o atual Presidente não é nem filiado a partido político. Eis a inflexão do golpe, assim arquivou-se o processo contra Pazuello e, ainda decretou cem anos de sigilo sobre todos os documentos.
E, assim, as Forças Armadas sofreram a afronta de uma indisciplina. Aos militares que povoam o governo, cerca de seis mil, estão dispostos em cargos civis, dos quais quase quatro centenas ocupam postos-chaves, tanto que entendeu ser mais prudente evitar as demonstrações públicas de que promover a anarquia nos quartéis o que é de interesse dos golpistas.
Enfim, com apoio armado e extremista tem-se o Estado aparelhado e militarizado, a última cartada para o golpe é profetizar uma fraude eleitoral. Enfim, caso não seja atropelado pelo impeachment, há novo impulso para seu fracasso através do escândalo da Covaxin, a imposição do voto impresso que vem sendo debatido no Congresso para entrar em vigor em breve, em 2022, eis a cereja do bolo golpista.
E a PGR pede para investigar Bolsonaro por prevaricação, eis o rastilho de pólvora.
Preconiza o Chefe da Nação, abertamente, que o Brasil sofrerá problema seríssimo caso o voto impresso não seja adotado… Enfim, cronômetro na mão e esperar a data do dia fatídico. Cuidado com a contagem regressiva… talvez voltaremos ao tempo das cavernas. Ou será casernas?
(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.
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