CPI da Covid descobre escândalo envolvendo vacina russa, antecipado pelo UCHO.INFO em fevereiro

 
Na edição de 5 de fevereiro, o UCHO.INFO afirmou que o lobby político em favor da Sputnik V, vacina russa contra Covid-19, e a pressão exercida sobre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para liberação do imunizante apontavam para a exigência de algo errado no campo do combate à pandemia.

Na ocasião, este noticioso alertou para o fato de o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara e um dos próceres do Centrão, ter afirmado um dia antes, em tom de ameaça, que “enquadraria” os diretores da Anvisa em razão da demora na aprovação de uso emergencial de vacinas contra o novo coronavírus.

Mesmo a Anvisa tendo eliminado a exigência da fase 3 dos testes clínicos para aprovação em caráter emergencial de imunizantes, Barros afirmou que os diretores da agência não estão preocupados com a pandemia, por isso criam dificuldades, o que não é verdade.

A ameaça causou ruído na Anvisa e o presidente do órgão, Antônio Barra Torres, rebateu o ataque e cobrou do líder do governo provas ou retratação. A temperatura subiu na Esplanada dos Ministérios, obrigando o presidente Jair Bolsonaro a entrar em cena e pedir moderação, pois a Anvisa não pode ser pressionada politicamente.

Agora, cinco meses após o nosso alerta, a CPI da Covid, em funcionamento no Senado, descobre por meio de documentos que o governo tentou repetir no caso da Sputnik V o processo criminoso que marcou as negociações para a aquisição da Covaxin, vacina contra Covid-19 fabricada pela farmacêutica indiana Bharat Biotech.

O Ministério da Saúde atuou para a compra de 200 milhões de doses da Sputnik V, mesmo sabendo que o imunizante russo não tinha autorização da Anvisa, a exemplo do que ocorreu no caso da Covaxin.

Em carta enviada em 18 de março ao Fundo Soberano Russo (Fundo Russo de Investimento Direto), responsável pela vacina desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, o então secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, a pasta informava interesse na abertura de negociações para a aquisição de 100 milhões de doses da vacina, com opção de compra de outras 100 milhões.

 
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No documento, Élcio Franco solicitou a confirmação de que o laboratório União Química, citado na matéria de 5 de fevereiro, era de fato representante da Sputnik V no Brasil.

“Antes de lançarmos formalmente as negociações, contudo, agradeceria receber do Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) confirmação sobre o status do relacionamento com a União Química Farmacêutica Nacional S/A, que por ora segue sendo a representante oficial do RDIF no Brasil e firmou contrato com este Ministério da Saúde de venda de 10 milhões de doses da vacina Sputnik V para o segundo trimestre de 2021”, ressaltou o então secretário-executivo no documento.

A Sputnik V será fabricada no Brasil pela União Química, que selou parceria com o Instituto Gamaleya, da Rússia. O dono da União Química é o empresário Fernando Castro Marques, que na eleição de 2018 concorreu a uma vaga no Senado pelo Solidariedade do DF, mas acabou derrotado.

Naquele ano, além de bancar a própria campanha, Castro Marques aportou R$ 1 milhão em duas campanhas eleitorais: a de Rogério Rosso (PSD), que concorreu ao governo do DF e recebeu R$ 700 mil, e a de Cristovam Buarque, que tentou a reeleição ao Senado pelo PPS, mas tropeçou nas urnas.

Coincidência ou não, o diretor de Relações Internacionais da União Química é Rogério Rosso, ex-deputado federal e ex-governador do Distrito Federal. Ex-integrante do Centrão, Rosso concorreu à presidência da Câmara dos Deputados, em 2016, com as bênçãos de Eduardo Cunha, que está preso na esteira do escândalo do Petrolão. Rosso perdeu a disputa para Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Ricardo Barros, cuja trajetória política dispensa apresentações, pelo contrário, foi um destacado integrante do grupo político liderado pelo finado deputado federal José Mohamed Janene (PP-PR), mentor intelectual do esquema criminoso que devorou os cofres da Petrobras.

O UCHO.INFO sinalizou na direção de ilegalidades no processo de compra de vacinas contra Covid-19 quarenta dias antes da denúncia levada ao presidente da República pelos irmãos Luís Cláudio Miranda e Luís Ricardo Miranda, deputado federal e servidor do Ministério da Saúde, respectivamente.

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