Enquanto presidenciáveis fazem promessas vãs, “nesse momento tem gente morrendo de fome no nosso Brasil”

 
(*) Waldir Maranhão

Tendo as eleições presidenciais como pano de fundo, o Brasil vive uma polarização política preocupante, que abre caminho para um candidato da chamada terceira via ou um “outsider”.

Muitos dos postulantes ao principal gabinete do Palácio do Planalto têm feito alguma ginástica ideológica para se aproximar do perfil de candidato que supostamente habita o imaginário do eleitor.

Contudo, até o momento, faltando pouco mais de quatorze meses para a disputa presidencial, nenhum nome colocado sobre o tabuleiro político foi capaz de convencer parte do eleitorado, que prefere manter distância do passado e se recusa a repetir o presente.

O país já vivia uma desafiadora crise econômica antes do surgimento do novo coronavírus, mas a pandemia agravou o cenário, obrigando boa parte dos brasileiros a malabarismo inimaginável para sobreviver em meio ao caos.

Ensaios de propostas e rascunhos de planos de governo têm surgido a todo instante, mas é preciso que os proponentes expliquem como é possível tirar o Brasil da crise.

Desde o início do atual governo ouve-se soluções mirabolantes para a retomada da economia, mas de concreto nada aconteceu até o momento. Alguns hão de culpar a pandemia, mas lembro que vencida a crise sanitária o problema será o mesmo de antes.

Como já citei em artigo anterior, o saudoso sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho foi certeiro ao afirmar que “quem tem fome, tem pressa”.

De nada adianta um candidato à Presidência surgir em cena com promessas e propostas impossíveis de serem cumpridas e executadas, pois o Brasil necessita de ações e soluções de longo prazo e estruturantes, para que o calvário do cidadão não se prolongue. Afinal, já foi longe demais.

Além disso, quem se candidatar ao cargo máximo da nação deve romper as quatro paredes e mergulhar na realidade de cada brasileiro abandonado pelo Estado em seu todo.

O candidato que prometer solução para os nossos muitos problemas estará mentido, como outros tantos fizeram. Reconhece que mudanças importantes ocorreram nos últimos tempos, mas diante da gravidade da situação foi pouco.

A realidade do brasileiro impõe aos governantes a adoção de políticas sociais que priorizem a saúde, a educação e o direito ao trabalho digno e devidamente recompensado. Sem esse tripé é impossível falar em retomada economia.

Vai além do inaceitável fato de pré-candidatos se apresentarem com “falsos milagreiros”, mesmo tendo ciência que há no país 19 milhões de pessoas guerreando contra a fome, 116 milhões de cidadãos em situação de insegurança alimentar e 15 milhões de desempregados. Sem contar o preço dos combustíveis e do gás de cozinha, a tarifa de energia elétrica e o pífio valor do salário mínimo.

Há dias, durante anúncio da prorrogação do auxílio emergencial, integrantes do governo destacaram o aumento do valor do Bolsa Família, como se tal medida clareasse o futuro. Na verdade, o Bolsa Família tenta conter uma tragédia conhecida por todos.

Além da obrigação de eliminar a miséria, Estado brasileiro tem o dever de criar uma “porta de saída” para o Bolsa Família. Em termos de futuro é inócuo não proporcionar a cada beneficiário do programa a possibilidade de uma vida pautada pela dignidade.

As mudanças no Brasil não acontecerão como em passe de mágica, mas é urgente que o próximo presidente da República assuma o posto sabendo da necessidade de buscar soluções para o hoje e para o amanhã, pois o ontem é passado.

Dados do novo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que economia brasileira caiu três posições em 2020, para a 12ª colocação, após o recuo histórico de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado.

Com aproximadamente dois terços dos brasileiros recebendo menos de dois salários mínimos por mês, quem profetizar sobre recuperação econômica no curto prazo é um herege.

Antes de tudo, deixando de lado os ufanistas discursos oficiais, não se deve confundir retomada da economia com recuperação econômica. Há uma grande diferença entre os dois cenários.

Responsável por 75% do cálculo do PIB e por 50% dos empregos no país, o setor de serviços, vital para a recuperação econômica, registrou queda de 4,5% em 2020. E só consome serviços quem tem dinheiro no bolso.

Volto à frase de Betinho, que serviu de base para a música “Quem tem fome, tem pressa”, tema da campanha “Natal Sem Fome 2020”, de autoria de Xande de Pilares e seus companheiros de trinados.

Em dado trecho, a letra diz: “Nesse momento tem gente morrendo de fome no nosso Brasil. É a tristeza que a sociedade consome, me diz quem não viu”. Em outro, traz a música: “E não dá pra negar. E quem alimenta esse monstro do mal é a desigualdade social”.

(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

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