Recondução de Aras ao comando da PGR tem muitos significados e esconde recados de Bolsonaro

 
A recondução de Augusto Aras ao comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), que ainda depende de aprovação do Senado Federal, foi uma investida antecipada do presidente da República que tem significados e explicações.

Com o atual mandato de Aras terminando somente em setembro, Jair Bolsonaro se antecipou, em meio ao recesso parlamentar, para dar um recado à classe política, em especial, e à opinião pública: sua relação com o PGR é tranquila. Na verdade, Bolsonaro não teria pela frente um “mar de rosas” se algum procurador da lista tríplice fosse indicado ao posto: Luiza Frischeisen, Nicola Dino e Mario Bonsaglia.

Outra questão envolvendo a recondução do atual PGR está na tentativa de blindar alguns dos investigados pela CPI da Covid, que ao concluir os trabalhos poderá, no relatório final, recomendar o indiciamento de aliados do presidente, como Eduardo Pazuello, Élcio Franco, Ernesto Araújo, além de testemunhas que defendem o uso da cloroquina no tratamento contra o novo coronavírus. O deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara dos Deputados, e o ainda ministro Paulo Guedes, da Economia, podem sair chamuscados da CPI. Os indiciamentos formais, caso necessários, dependeriam de manifestação da PGR.

Não obstante, a mensagem enviada pelo presidente ao Senado informando a recondução de Augusto Aras ao cargo tenta abrir caminho para a aprovação, pelos senadores, do nome de André Mendonça – o “terrivelmente evangélico – ao Supremo Tribunal Federal, onde, após sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e votação em plenário, assumirá a vaga do ministro Marco Aurélio Mello.

A recondução de Aras serve também para aumentar a blindagem dos filhos do presidente da República, além dele próprio. O senador Flávio Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que seguem a cartilha do clã e sempre ameaçam a democracia e as instituições estão na mira da Corte. Na melhor das hipóteses, Flávio e Eduardo reverberam as sandices do pai.

 
O senador, filho “01”, está na proa do escândalo das “rachadinhas” e tenta na Justiça transferir o malfadado foro especial para o Supremo. A recondução de Aras, se aprovada, dará ao senador certa tranquilidade. Flávio também é alvo, ao lado dos dois irmãos (Carlos e Eduardo) e uma dezena de deputados, de inquérito do STF que investiga uma conspiração com o propósito de “derrubar a estrutura democrática”. O grifo é do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.

Em dezembro passado, o STF abriu apuração preliminar para investigar pagamentos em dinheiro vivo (R$ 150 mil) feitos por Eduardo Bolsonaro na aquisição de dois imóveis no Rio de Janeiro, em 2011 e 2016.

Até mesmo o filho “04”, Jair Renan, é alvo de investigação. O Supremo investiga se o mais novo dos filhos homens do presidente cometeu crime de tráfico de influência a partir da empresa “Bolsonaro Jr Eventos em Mídia”, aberta em novembro de 2020.

No mesmo mês (novembro), Renan visitou as instalações de um grupo empresarial do Espírito Santo que comercializa materiais de construção. Em seguida, a empresa doou a Renan um carro elétrico avaliado em R$ 80 mil e conseguiram apresentar projeto ao ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.

Além disso, a permanência de Augusto Aras, que há muito está alinhado ao Palácio do Planalto, representa um aviso aos adversários do presidente da República no Congresso que eventualmente são suspeitos de ilícitos e tenham contas a acertar com a lei.

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