Entidades judaicas no Brasil criticam encontro de Bolsonaro com deputada da ultradireita alemã

 
Instituições judaicas no Brasil criticaram, na segunda-feira (26), o encontro do presidente Jair Bolsonaro com a deputada da ultradireita alemã Beatrix von Storch, ocorrido na última semana e fora da agenda presidencial.

Von Storch é vice-presidente do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AFD) e foi recebida pelo presidente em Brasília. Ela também se reuniu, separadamente, com os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, e Bia Kicis (PSL-DF) e com o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes. As fotos do encontro de Von Storch com Pontes foram mais tarde excluídas da conta do ministério na plataforma Flickr.

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) lamentou a recepção dada à deputada da AfD em Brasília. “Trata-se de partido extremista, xenófobo, cujos líderes minimizam as atrocidades nazistas e o Holocausto. O Brasil é um país diverso, pluralista, que tem tradição de acolhimento a imigrantes.”

Outra entidade, o Instituto Brasil Israel (IBI), afirmou que a AfD tem características xenófobas e supremacistas e que a viagem mostra que a AfD apenas busca, de forma desesperada, legitimação internacional.

“O fato de Beatrix von Storch se ausentar da Alemanha quando se contam as vítimas das enchentes e viajar por um país isolado internacionalmente a esta altura, como o Brasil, mostra a irrelevância de seu partido e a busca desesperada por qualquer legitimação internacional. Ao contrário de uma união dos conservadores do mundo para defender os valores cristãos e a família, como sugeriu Bia Kicis, esses encontros estão mais para união de políticos de extrema direita irrelevantes no cenário global: um abraço de náufragos”, afirma a nota assinada pelo coordenador-executivo do IBI, Rafael Kruchin.

Já o grupo Judeus pela Democracia se declarou chocado com o encontro do presidente com a líder de um partido que chamou de “extrema direita, xenófobo e nazista”. “O presidente do Brasil, seu filho e a presidente da CCJ encontrarem uma deputada líder do partido de extrema direita, xenófobo e nazista é algo que nos assusta, não apenas como judeus, mas também como brasileiros.”

“Pela terceira vez em dias a VP do partido de extrema direita alemão aparece com governistas brasileiros: presidente da CCJ, filho do presidente e agora o PRESIDENTE DO BRASIL posam sorrindo e citando semelhanças com o partido xenófobo alemão. Sem rodeios: nazistas”, afirmou o Judeus pela Democracia em sua conta no Twitter.

Na última semana, o Museu do Holocausto de Curitiba havia expressado preocupação e inquietude com os encontros da parlamentar alemã com autoridades brasileiras. “A Alternative für Deutschland (Alternativa para a Alemanha) é um partido político alemão de extrema direita, fundado em 2013, com tendências racistas, sexistas, islamofóbicas, antissemitas, xenófobas e forte discurso anti-imigração”, afirmou o museu.

 
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Afinidades com Bolsonaro

Nas suas redes sociais, Von Storch destacou as afinidades dela com Bolsonaro. “Gostaria de agradecer ao presidente brasileiro pela amistosa recepção. Estou impressionada com sua clara compreensão dos problemas da Europa e dos desafios políticos do nosso tempo. Em um momento em que a esquerda está promovendo sua ideologia por meio de suas redes e organizações internacionais em nível global, nós, conservadores, devemos formar uma rede mais estreita e defender nossos valores conservadores em nível internacional. Além dos EUA e da Rússia, o Brasil é um parceiro estratégico global para nós, com o qual queremos construir um futuro juntos.”

Von Storch é representante de uma ala ultraconservadora da AfD e em 2014 ajudou a levar o partido, inicialmente uma agremiação eurocética, a adotar posições típicas da extrema direita europeia. Hoje, a AfD é conhecida pelo discurso radical anti-imigração e adotou recentemente um programa eleitoral com aspectos negacionistas da pandemia.

Nos últimos anos, o partido também se tornou um guarda-chuva para diferentes grupos de ultradireita da Alemanha, como arquiconservadores, fundamentalistas cristãos e ultranacionalistas. Muitos membros também são acusados regularmente de nutrir simpatias pelo nazismo e de minimizar os crimes cometidos pelos nazistas.

Normalmente, governos estrangeiros evitam receber deputados da AfD. Dessa forma, parlamentares da sigla costumam viajar para países que têm governos tão isolados no cenário internacional quanto o partido.

Deputados da AfD já causaram controvérsia ao serem recebidos pelo regime do ditador sírio Bashar al-Assad, e pelos governos do líder de Belarus, Alexander Lukashenko, e do presidente russo Vladimir Putin. Uma delegação da AfD também visitou em 2020 a Crimeia, região da Ucrânia anexada pela Rússia.

Quem é Von Storch

Membro de uma família antiga de origem nobre, Beatrix von Storch, de 50 anos, é, pelo lado materno, neta de Johann Ludwig Schwerin von Krosigk, que serviu como ministro das Finanças da ditadura de Adolf Hitler por mais de 12 anos.

Ele seria mais tarde julgado e condenado pelo Tribunal de Nuremberg, na etapa conhecida como o “julgamento dos ministros”. Schwerin von Krosigk foi sentenciado a dez anos de prisão por crimes de guerra.

Pelo lado paterno, o outro avô de Beatrix von Storch também não foi menos controverso. Filho de um duque, Nikolaus von Oldenburg era membro tanto do Partido Nazista quanto da SA, a força paramilitar da legenda.

O passado nazista da família de Beatrix von Storch foi destacado pela imprensa alemã a partir de 2014, quando ela foi eleita deputada europeia pela AfD.

Em 2016, Von Storch manifestou aprovação à mensagem de um usuário do Facebook que havia perguntado se guardas de fronteira deveriam atirar em refugiados que chegassem ao país, inclusive mulheres com crianças.

À época, o comentário de Von Storch e uma declaração similar de Frauke Petry, então líder da AfD, causaram uma onda de indignação na Alemanha. Vários políticos lembraram na ocasião que os últimos episódios de refugiados baleados na Alemanha haviam envolvido fugitivos da Alemanha Oriental que tentaram escalar o Muro de Berlim. (Com agências de notícias)

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