Palavrões de um mal-educado

(*) Carlos Brickmann

Como ensinava o sempre lembrado jornalista Frederico Branco, tem coisa que pode, tem coisa que não pode. Não se pode esquecer a educação – ainda mais quando se trata do presidente da República. A falta de decoro já provocou cassação de mandato por muito menos. A última demonstração de má educação do presidente Bolsonaro foi além de todos os limites: desrespeitou o ministro de um dos Poderes da República, desrespeitou as pessoas que não gostam de ouvir linguajar de estrebaria. O presidente tem todo o direito de não gostar do ministro Barroso, mas não de desrespeitá-lo. E muito menos usando palavras que, em qualquer família de bons costumes, valeriam castigos aos meninos mal-educados (que até teriam de lavar a boca com sabão).

Bolsonaro se irrita sempre que fala dos ministros Alexandre de Moraes e Barroso. De Alexandre, disse que “sua hora vai chegar”. Será que sabe de algo que não sabemos? É difícil acreditar que seja ameaça. Não é algo que se espere de um presidente. Quanto a Luis Roberto Barroso, chamou-o de filho da puta. Não se faz política insultando os adversários. Conversar também é impossível deste jeito.

Pense em chefes de Governo admirados por Bolsonaro, tipo Trump e Netanyahu. Ambos jogam duro, mas dentro do limite da educação.

Divirta-se

Enquanto o presidente trata adversários como tamanha violência, o Ministério da Justiça negou ao SBT um pedido para que o seriado Rin Tin Tin seja classificado para crianças de dez anos de idade. Não: o seriado, de 1954, só poderá ser exibido a partir das 21 horas, por conter “violência, atos criminosos e drogas”, e recebeu indicação para idade superior a 14 anos.

Lembre-se do pequeno cabo Rusty: seria ele tão grosseiro a ponto de usar a mesma violência verbal de Bolsonaro?

Empresários em ação

Um grupo de empresários respeitados, entre os maiores do país, está fazendo circular um manifesto de apoio à democracia, que a seu ver é ameaçada por Bolsonaro. Horácio Lafer Piva, ex-presidente da Fiesp, com reputação inatacável, diz que o presidente “tem exagerado”. Errou na dose, no teste que fez quanto à resiliência da sociedade de não se indignar. No grupo há empresários de todos os setores, todos dispostos a apoiar os defensores da democracia.

Delírios da turma

Seguidores de Bolsonaro fazem há tempos campanha contra Barroso, afirmando que o ministro é homossexual. E se fosse, qual o problema? Entre as características exigidas dos ministros, não se toca em questões sexuais. Como não se fala em religião – quem quer nomear um ministro “terrivelmente evangélico” é Bolsonaro. E não se discutem os hábitos de lazer, mas Bolsonaro já disse que quer um ministro capaz de tomar cerveja com ele.

Delírios do chefe

Bolsonaro vai mais longe: acusa o ministro Barroso de querer que as nossas filhas tenham relações sexuais aos 12 anos de idade. Coisa obsessiva. Lembra a Capitã Cloroquina, que visitou a Fiocruz, no Rio, e viu um pênis exposto na porta de entrada. Era o símbolo dos 150 anos da Fundação, e confundi-lo com um pênis exige muita imaginação.

Coisa estranha

Os jornais publicaram uma notícia seca, que merece mais estudo. O presidente Joe Biden teria oferecido ao Brasil o posto de “sócio global” da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN. Em troca, o Brasil iria barrar a entrada do gigante chinês Huawei na rede nacional de telefonia 5G. E por que a notícia merece mais estudo?

Primeiro, Joe Biden não gosta de Bolsonaro e Bolsonaro não gosta de Biden. Biden gosta de operar com organizações globais, como a OTAN, e Bolsonaro é contra o globalismo. Terceiro, o Brasil chega ao Atlântico Norte, mas a maior parte do território nacional está no Hemisfério Sul. Há quem diga que o objetivo é aumentar a influência americana sobre as Forças Armadas, já que, como sócio global da OTAN, o Brasil teria acesso a armas por preços mais baixos e poderia programar treinos em outros países da OTAN. Aí é esperar para ver.

Promessas, promessas

E esperar também para ver quanto valem as promessas americanas. Trump, ídolo de Bolsonaro (I love you, Trump!) prometeu colocar o Brasil na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE.

Mas nem Trump levou a conversa a sério: indicou a Argentina

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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