Reunião entre governadores e Jair Bolsonaro é sonho de quem ignora o lado blefador do presidente

 
Nesta segunda-feira (23), durante encontro do Fórum de Governadores, chefes dos Executivos de 24 estados e do Distrito Federal não chegaram a um consenso sobre nota de repúdio ao comportamento beligerante e antidemocrático de Jair Bolsonaro, mas concordaram em solicitar encontro com o presidente da República e os chefes dos outros dois Poderes (Judiciário e Legislativo) como forma de amainar a crise institucional que se instalou no País.

A movimentação dos governadores tende a dar em nada, pois Bolsonaro, sempre avesso ao diálogo que fuja às próprias pretensões, está preocupado apenas com a queda de popularidade e o derretimento do seu projeto de reeleição. Um encontro com o presidente para tratar de uma saída para a crise servirá para aumentar o tensionamento existente na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Com a manifestação de alguns oficiais das polícias estaduais, convocando integrantes das respectivas tropas para o protesto do próximo dia 7 de setembro, a favor de Bolsonaro e do governo, qualquer tentativa de diálogo será ineficaz. Em São Paulo, por exemplo, o coronel Aleksander Lacerda, da Polícia Militar, que comandava tropas no interior do estado com 5 mil homens, foi afastado após usar as redes sociais para convocar amigos para o protesto que ocorrerá no dia da Independência.

 
Que essas manifestações ocorreriam em algum momento era de conhecimento dos brasileiros sensatos, pois as investidas de Bolsonaro nas polícias estaduais foram escancaradas, sem que as autoridades competentes tivessem tomado alguma medida para conter a manobra golpista. O que Bolsonaro vem fazendo nesse sentido é inequívoco crime de responsabilidade, algo que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), ignora ao manter na gaveta mais de uma centena de pedidos de impeachment.

Ao presidente da República interessa a instalação do caos, pois nesse eventual cenário conseguiria levar adiante seu plano golpista, que tem merecido destaque do UCHO.INFO desde a campanha presidencial de 2018. Alertamos inúmeras vezes que em algum momento Bolsonaro tentaria dar um “cavalo de pau” na democracia.

Ademais, considerando a grave crise econômica, que aguarda solução por parte do governo, Bolsonaro dificilmente aceitará participar de um encontro com os governadores, tratados como bodes expiatórios desde o início da pandemia do novo coronavírus, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que estados e municípios têm autonomia para adotar medidas de enfrentamento à Covid-19.

Contudo, caso aceite a proposta dos governadores, Bolsonaro admitirá o fracasso de um governo populista e mandará pelos ares a escalada autoritária, apesar de afirmar reiteradamente que “joga dentro das quatro linhas da Constituição”, bordão falacioso que já perdeu o prazo de validade.

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