Possibilidade de derrota leva Bolsonaro a mesclar vitimização com ameaças à democracia e às instituições

 
Radicalização e vitimização. Eis a receita adotada pelo presidente Jair Bolsonaro para manter unida e ativa a sua base de apoiadores, diante das dificuldades políticas que se apresentam. No final de semana, durante culto evangélico, Bolsonaro disse haver três alternativas para o futuro: “estar preso, ser morto ou a vitória”.

“Eu tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, estar morto ou a vitória. Pode ter certeza que a primeira alternativa não existe. Estou fazendo a coisa certa e não devo nada a ninguém. Sempre onde o povo esteve, eu estive”, afirmou o presidente.

Quem conhece os bastidores da política em suas entranhas sabe que é grande o desespero de Bolsonaro diante da possibilidade de acabar preso caso não se reeleja. A afirmação de que é nula a possibilidade de prisão é improcedente, pois as ações judiciais em andamento podem ter um desfecho surpreendente.

No tocante à sua reeleição, o presidente está ciente de que é um cenário cada vez mais distante da realidade. Se as pesquisas de opinião mostram o declínio de sua popularidade e da aprovação do governo, os desafios que estão postos não apontam na direção do êxito eleitoral. A economia continua cambaleante, enquanto as prometidas reformas patinam no Congresso Nacional por falta de articulação política.

Além disso, a crise econômica levou a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) a abandonar a moderação e confrontar o governo e a equipe liderada pelo ainda ministro Paulo Guedes (Economia), que viu derreter nos últimos anos o apelido de “Posto Ipiranga”.

 
Os constantes ataques à democracia e as ameaças de ruptura institucional configuram entraves na relação com os outros dois Poderes (Judiciário e Legislativo). Enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) aplica a lei para conter arroubos autoritários do presidente e de seus descontrolados apoiadores, no Legislativo parlamentares redobram a cautela em relação ao presidente e ao governo como um todo, não importando a contrapartida oferecida em troca de apoio político.

Bolsonaro também tem afirmado que somente Deus é capaz de tirá-lo da Presidência da República, discurso que tem exageradas doses de vitimização e busca cooptar o eleitorado evangélico, que costuma confundir fatos políticos com questões relacionadas à religião. No campo da providência divina, já que o presidente insiste no tema, uma eventual derrota nas urnas poderá ser interpretada pelos não céticos como intervenção celestial.

Sobre ser morto, a declaração também é marcada pela vitimização, a exemplo do que ocorreu na esteira do ataque a faca de que o presidente foi vítima em setembro de 2018, em Juiz de Fora (MG), durante ato de campanha. O próprio Bolsonaro, quando questionado sobre a pífia política do governo de combate à pandemia de Covid-19, disse que um dia todos hão de morrer, como se nada representassem as quase 580 mil vidas perdidas para o novo coronavírus.

No terreno da vitimização tudo é possível, principalmente quando Jair Bolsonaro assume o papel de protagonista. Basta voltar na linha do tempo e resgatar a última internação hospitalar do presidente da República, que se fez de vítima horas antes de ser transferido para São Paulo em razão de uma obstrução intestinal. Em suma, tudo é possível.

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