(*) Carlos Brickmann
Bolsonaro se mantém fiel às origens: como deputado federal por 28 anos, não há força humana que o faça trabalhar nos dias em que o Congresso não funciona – e que, convenhamos, são a maioria. E fica bravo quando, nesses dias de folga, o incomodam lembrando que ele é presidente. Ele é, gosta de ser, mas sem os ônus do cargo.
Sua Excelência passou o feriadão no Guarujá, SP. Nem tentou ir ao jogo do Santos, domingo, mas se queixou de que não o deixaram entrar no estádio por não ser vacinado. Mas se irritou mesmo foi na segunda-feira, quando lhe perguntaram sobre os 600 mil mortos de Covid no Brasil: “Qual país não morreu gente? Qual país não morreu gente? Responda! Olha, não vim me aborrecer aqui, por favor”.
É verdade: encara as centenas de milhares de falecidos como uns chatos, que morreram com o único e exclusivo objetivo de aborrecê-lo. E a chateação se espalha até por feriados, quando ele, segundo disse, “dá uma arejada na cabeça”. Ninguém respeita a sua necessidade de arejar a cabeça – arejar, deixar entrar um solzinho, iluminá-la, abri-la para o mundo.
Pois não é que foi à missa de Nossa Senhora em Aparecida e aguentou pancadas até do arcebispo d. Orlando Brandes: “Para ser Pátria amada não pode ser Pátria armada”. D. Orlando arejou sua cabeça.
De 1964 a 2021
É sempre bom prestar atenção quando a Igreja Católica fala: em 1964, foi a irmã Ana de Lourdes, freira, que começou a articular a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que sinalizou amplo apoio popular à deposição do presidente João Goulart. Na época, um líder religioso católico, monsenhor Arruda Câmara, deputado federal, proclamava: “Armai-vos uns aos outros”.
A Igreja sinalizou em Aparecida que hoje está com quem não tem armas.
Tem Moro na reta
Tudo indica que o ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro sairá candidato à Presidência da República. Já tem partido (o Podemos, dirigido pela deputada Renata Abreu, cujo líder no Senado é o ex-governador paranaense Álvaro Dias), já conversou sobre possível aliança com o governador gaúcho Eduardo Leite (que é candidato a candidato pelo PSDB), é bem lembrado por seus tempos de Lava Jato) e, o que em seu caso é uma vantagem a ser explorada, é detestado tanto por Lula quanto por Bolsonaro. Tem chance de dividir outros partidos, conquistando apoios como o do tucano cearense Tasso Jereissati. Tem possibilidades de ser a terceira via.
Se terá chance eleitoral é outra coisa. Mas assumirá que é candidato até o final do ano. Os bolsonaristas estão convencidos de que sairá, tanto que retomaram histórias anti-Moro do tempo em que deixou o Governo, atribuindo-lhe conexões com a CIA para prejudicar empresas brasileiras que competiam com as americanas.
Gravar, não
Aos ingleses se atribui a frase segundo a qual um cavalheiro não ouve as conversas dos outros (nem, portanto, as grava). O TSE, Tribunal Superior Eleitoral, passa a seguir esta norma: provas obtidas por meio de gravação ambiental clandestina, sem autorização judicial e sem o consentimento dos interlocutores, são ilícitas e não valem na Justiça.
Esta notícia saiu no portal jurídico gaúcho Espaço Vital.
Investigar, sim
Correto: gravação clandestina se presta a armações. E, como observa o excelente jornalista Fernando Albrecht, qualquer de nós, em conversa particular, diz coisas que, em público, seriam um escândalo. “No que diz respeito ao jornalismo, gravação às escondidas e principalmente fora do contexto é eticamente reprovável. Jornalista não é polícia, embora muitos acreditem que são”.
Quem quiser descobrir algo que investigue licitamente, sem armação, sem armadilha tecnológica, sem prévio viés de acusação.
Agropecuária sem devastação
Atenção, pessoal da área: reserve tempo que o evento é dos bons. No fim de novembro, ocorre o agroRESET FEST 2021, para debater uma agenda ESG (sigla em inglês de Governança Social Ambiental) para o agro brasileiro. Serão 21 palestrantes de vários setores, de ícones do agronegócio a empreendedores jovens, investidores e startups do setor; e gerará o Plano para o agro ESG no Brasil, que será entregue aos candidatos à Presidência da República.
Mais informações em https://bit.ly/AgroResetFest
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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