Bolsonaro ignora reunião ministerial de 2020 e mente em depoimento sobre interferência política na PF

 
Em depoimento à Polícia Federal sobre alegada interferência política no órgão, o presidente Jair Bolsonaro não hesitou em mentir de forma deslavada, alegando que solicitou ao então ministro Sérgio Moro (Justiça) a troca no comando da corporação por falta de interlocução. O presidente foi além em seu espetáculo de mitomania e afirmou que Moro teria condicionado a substituição do delegado Maurício Valeixo, então diretor-geral da PF, a uma indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O depoimento contradiz declaração do próprio presidente da República durante a fatídica reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando Bolsonaro afirmou: “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira.”

Movido pela covardia, Bolsonaro justificou tal declaração afirmando que na ocasião fez referência à sua segurança pessoal. “Que há um pequeno núcleo do GSI sediado no Rio de Janeiro, responsável pela segurança do declarante e de sua família; Que esse núcleo do GSI é formado por servidores lotados e alguns comissionados; Que achava que esse trabalho poderia ser melhorado, principalmente no acompanhamento do seu filho Carlos Bolsonaro, residente no Rio de Janeiro; Que portanto quando disse que queria trocar gente no Rio de Janeiro referia-se a sua segurança pessoal e da sua família”, afirmou.

Em nota divulgada na tarde desta quinta-feira (4), a defesa de Sérgio Moro afirmou que foi surpreendida pelo fato de Bolsonaro ter sido ouvido no inquérito sem a presença dos advogados do ex-ministro. A defesa destacou na nota que, por ocasião do depoimento de Moro, advogados de Bolsonaro estavam presentes e puderam formular perguntas.

 
“A defesa do ex-ministro Sérgio Moro foi surpreendida pela notícia de que o presidente da República, investigado no Inquérito 4831, prestou depoimento à autoridade policial sem que a defesa do ex-ministro fosse intimada e comunicada previamente, impedindo seu comparecimento a fim de formular questionamentos pertinentes, nos moldes do que ocorreu por ocasião do depoimento prestado pelo ex-ministro em maio do ano passado”, afirmaram os advogados do ex-ministro da Justiça.

Integrantes da cúpula da PF negam qualquer tentativa de blindagem de Jair Bolsonaro, usando como justificativa decisão do ministro Alexandre de Moraes (STF), que dispensou a necessidade de advogados participarem da oitiva.

“AUTORIZO o Delegado de Polícia Federal a proceder as oitivas de eventuais testemunhas sem a necessidade de intimação nos termos antes determinados, inclusive dos advogados dos investigados”, escreveu Moraes.

Eventual recurso por parte da defesa de Sérgio Moro, se levado ao plenário do STF, certamente será acolhido, obrigando Bolsonaro a novo depoimento com a presença dos advogados do ex-ministro. Trata-se de garantia processual inviolável, sob pena de o inquérito ser considerado suspeito.

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