A política, em especial a brasileira, tem detalhes que, se analisados com atenção, deveriam levar a população a redobrar a vigilância. Talvez seja o caso de reagir de forma contundente contra aqueles mentem sem cerimônia.
Uma célebre frase do economista e filósofo político americano Thomas Sowell traduz com precisão a nossa realidade: “O fato de que muitos políticos de sucesso são mentirosos, não é exclusivamente reflexo da classe política, é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível somente os mentirosos podem satisfazê-las.”
Na campanha presidencial de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro repetiu a receita usada pela maioria dos velhacos da política: prometeu o que sabia ser impossível de cumprir. Uma das promessas foi não se aliar à banda podre do Congresso Nacional, de onde ele próprio saiu. Tal promessa ganhou impulso quando o general da reserva Augusto Heleno, hoje chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), cantarolou durante evento de campanha: “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”.
Nos capítulos finais da corrida presidencial, Bolsonaro começou a abrir espaço para Paulo Guedes, apresentado como “Posto Ipiranga” e na sequência alçado ao cargo de ministro da Economia. Ao longo dos anos, as mirabolantes promessas de Guedes viraram pó, fazendo com que milhões de brasileiros experimentassem as agruras da miséria e da fome. Fiel representante do capital especulativo, Paulo Guedes sempre arrumou uma desculpa esfarrapada para seus desvarios.
Pressionado pela falta de apoio no Parlamento e vendo sua gestão correndo o risco de ir pelos ares, Bolsonaro tornou-se refém do Centrão – o que há de mais peçonhento na política nacional –, ao mesmo tempo em que passou a ameaçar a democracia e o Estado de Direito com ataques ao Judiciário e ao sistema eleitoral. O presidente distrair a milícia eleitoral, para que relevasse a aliança com os proxenetas da política.
Na última terça-feira (11), em entrevista à rádio Jovem Pan, que trocou o bom jornalismo pelo bolsonarismo, o presidente disse que Congresso está “muito bem atendido” com as emendas parlamentares, incluindo as do orçamento secreto, distribuídas sem qualquer transparência e usadas pelo governo comprar apoio político.
“Hoje em dia todos estão ganhando. O parlamentar, além das emendas impositivas, por volta de R$ 15 bilhões por ano, tem uma outra forma de conseguir recurso, que é a RP9. Parlamentar está bem atendido. Só em RP9, os parlamentares têm quase o triplo de recursos do Ministério da Infraestrutura do Tarcísio. Então, o Parlamento está muito bem atendido conosco”, afirmou o chefe do Executivo.
Em suma, Bolsonaro confirmou que o “toma lá, dá cá”, por ele condenado durante a campanha presidencial e principalmente no início do governo, jamais saiu de cena. Como se não bastasse, sob o silêncio obsequioso de Augusto Heleno, Bolsonaro filiou-se ao Partido Liberal (PL), uma das pontas do lamaçal parlamentar, e afirmou que sempre foi do Centrão.
Todo brasileiro dotado de coerência sabe que o atual presidente da República não escreve, sentado, o que fala em pé – e vice-versa –, mas a desfaçatez tem limites. Na quarta-feira (12), em mais uma clara demonstração de que é refém do Centrão, Bolsonaro concedeu ao chefe da Casa Civil e um dos caciques do Centrão, senador licenciado Ciro Nogueira (Progressistas-PI), a responsabilidade de executar o Orçamento da União.
Até então, o outrora superministro Paulo Guedes era o único responsável pela execução do Orçamento, mas a partir de agora o “Posto Ipiranga” terá de prestar contas a Ciro Nogueira, que assumiu o papel de domar a voracidade dos integrantes do Centrão. O primeiro sinal de que esse escárnio poderia acontecer surgiu com a artilharia dos centristas apontada para a ministra Flávia Arruda (PL-DF), chefe da Secretaria de Governo e casada com José Roberto Arruda, protagonista do escândalo conhecido como “Mensalão do DEM”.
O enredo acima mostra com clareza que o governo de Jair Bolsonaro está por um fio, situação que permite ao Centrão, sem qualquer dose de cerimônia, aumentar cada vez mais o valor da “fatura” cobrada pelo criminoso apoio no Congresso. Não obstante, vale ressaltar que Paulo Guedes sairá do governo muito menor do que quando estreou no cargo.
Se o Centrão seguirá ao lado de Bolsonaro até o final é uma incógnita, pois essa decisão depende diretamente das pesquisas eleitorais. A história mostra que nenhum político brasileiro tem a mesma vocação do capitão que, em tese, deve ser o último a abandonar a embarcação em caso de naufrágio. Aliás, o nível da água já chegou ao pescoço do presidente da República, enquanto o “general de pijama” permanece calado. A conferir!
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