Bolsonaro, vítima dos injustos

(*) Carlos Brickmann

E precisaram gastar dinheiro para descobrir o óbvio? O PL, o partido que hoje abriga a família Bolsonaro, mandou fazer uma pesquisa sobre como o presidente é visto no país. Resultado: xingações, brigas, ameaças, gritaria, o “acabou, porra!” chamam muito mais a atenção da opinião pública do que as realizações do Governo federal. Ou seja, haveria uma falha na comunicação do presidente: como diz a pesquisa, a posição dos principais integrantes do Governo sobre temas polêmicos se torna mais visível do que realizações, o que prejudica a campanha. Claro que quem comanda a campanha, o filho 02 Carluxo Bolsonaro, ama de paixão uma boa polêmica – mas o partido sabe disso, e o cacique Valdemar Costa Neto, quando atraiu os Bolsonaros para o PL, não seria ingênuo de acreditar que seus aliados iriam dar pouco trabalho.

O PL, na verdade, planeja uma campanha em duas frentes: uma, a da ala ideológica, xingando a China, dizendo que a esposa de algum líder europeu é feia, que o mundo tem de aceitar a política florestal do Brasil porque, caso tente retaliar, vai ficar sem comida; e outra, usando o tempo de TV e de rádio para proclamar os grandes feitos de Sua Excelência & Filhos.

Mas, se é óbvio que declarações sobre Terra plana, nazismo de esquerda, campanha antivacina e outras do tipo predominam na formação de imagem do Governo, por que fazer pesquisa? O caro leitor há de convir que, se as verbas ficarem paradas, a máquina para também. Quem não gasta não recebe.

Férias na praia

Como diria o Aristides, por outro lado há também que analisar a fórmula inovadora de Bolsonaro de exibir seus feitos como governante. Neste fim do ano, digamos, tanto em Guarujá como em São Francisco do Sul, Bolsonaro mostrou de seu jeito o que faz.

Nas folgas, como no trabalho, nada.

Aquele samba

No Samba do Crioulo Doido, Sérgio Porto falava da vida dos autores de samba-enredo que tratavam de temas da nossa História. Abolição, Xica da Silva, tudo bem – mas na hora de cantar A Atual Conjuntura, o sambista endoidou de vez. O samba tem quase 60 anos, mas continua atual. Bolsonaro, acusado pelos oposicionistas de não se preocupar com a Educação, assinou aumento de 33,24% para os professores da educação básica na rede pública. Os oposicionistas, sempre favoráveis a salários valorizados, estão furiosos, e não querem cumprir a determinação, alegando que não tem base legal.

Todo mundo doido? Não é bem assim: o presidente assinou o aumento, mas quem paga são os prefeitos. A Confederação Nacional dos Municípios acusa Bolsonaro de “colocar em primeiro lugar uma disputa eleitoral”, e diz que o Brasil “caminha para jogar a educação pelo ralo”. Os municípios dizem que Bolsonaro usa uma lei antiga, já revogada, e vão à Justiça.

Todos parados

Não há falta de candidatos tentando ocupar um espaço entre Bolsonaro e Lula. O problema é que nenhum, até hoje, conseguiu se destacar, mostrando que é capaz de ir ao segundo turno. Moro prometeu chegar arrebentando, mas ficou na mesma faixa de Ciro Gomes, pouco acima dos concorrentes. Doria, com vacina e tudo, continua longe de chegar aos dois algarismos nas pesquisas. Simone Tebet merece ampla simpatia, mas ainda não atraiu votos.

Mas a festa continua

E outros continuam chegando: até o governador do Rio Grande do Sul, que foi derrotado nas eleições prévias do PSDB, pensa em mudar de partido para tentar a chance. E, enquanto Lula se movimenta, buscando aliados fora de sua área habitual – Geraldo Alckmin, por exemplo – os candidatos que mais precisam dizer ao que vieram parecem paralisados. Lula e Bolsonaro já são conhecidos. E os outros, que fizeram até agora para se tornar conhecidos? A que se propõem, caso cheguem à Presidência da República?

Doideira geral

Qual o maior inimigo do mundo civilizado, na opinião de Bolsonaro? É a China. No entanto, ele marcou uma visita à Rússia, que recebeu pleno apoio da China na atual disputa pela Ucrânia, em que enfrenta a OTAN, aliança ocidental em que os Estados Unidos são o maior parceiro. Em comunicado conjunto, Vladimir Putin, da Rússia, e Xi Jin-ping, da China, informaram que “a amizade entre os dois Estados não tem limites”. Temas envolvidos: o pacto militar entre Estados Unidos, Austrália e Reino Unido; Ucrânia; e Taiwan.

Outro dia, conversando no cercadinho do palácio, disse a um dos presentes que Putin é um “conservador”. Então, tá.

De nós para nós

Sabe o buracão que se abriu numa das principais avenidas de São Paulo, engolindo o “tatuzão” que abria um túnel do Metrô? Pois é: o investimento da iniciativa privada internacional foi financiado pelo BNDES, que é estatal, nacional e cobra juros baixos.

Praticamente a metade do investimento da iniciativa privada internacional na nova linha do Metrô saiu do BNDES.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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