(*) Waldir Maranhão
A viagem do presidente da República, Jair Bolsonaro, à Rússia foi protocolar e estava agendada desde antes da crise geopolítica com a Ucrânia.
A diplomacia americana fez pressão para que a viagem de Bolsonaro fosse adiada, mas o adiamento fugiria à boa diplomacia. Além disso, postergar a viagem seria uma demonstração de alinhamento à política externa dos Estados Unidos.
Antes da viagem, na tentativa de justificar a decisão de não cancelar a visita a Moscou, o presidente brasileiro disse que vários assuntos seriam tratados durante o encontro com Vladimir Putin, inclusive alguns temas envolvendo o setor do agronegócio.
O presidente Bolsonaro tinha o direito de viajar à Rússia, até porque a relação diplomática do Brasil com o antigo país dos czares é antiga, mas a viagem ocorreu em momento inadequado em razão da crise envolvendo a Ucrânia e a OTAN.
Isolado no cenário internacional, Bolsonaro voou à Rússia para posar para foto ao lado de Putin e mostrar a seus apoiadores que ainda tem prestígio além das fronteiras brasileiras.
A viagem de volta contou com escala na Hungria, onda Bolsonaro reuniu-se rapidamente com o ultradireitista primeiro-ministro Viktor Orbán. Em outras palavras, o Brasil continua na condição de pária internacional.
Até o momento, desde a chegada de Bolsonaro e sua comitiva em solo brasileiro, não houve por parte do Palácio do Planalto qualquer iniciativa que apontasse para a divulgação dos detalhes dos assuntos tratados em Moscou. Aliás, provocou questionamentos nas redes sociais a presença do vereador Carlos Bolsonaro na comitiva presidencial.
Entre os itens da pauta da visita de Bolsonaro a Moscou consta, pelo menos oficialmente, tratativas sobre fertilizantes. O Brasil importa mais de 80% dos fertilizantes utilizados na agricultura, sendo que desse montante 30% veem da Rússia.
Causa estranheza o fato de o Brasil importar fertilizantes para depois exportar alimentos para o restante do planeta. Afinal, o país é considerado o celeiro do mundo.
Diante de um cenário global de consumo que cada vez mais exige produtos saudáveis e cuja produção não afete o meio ambiente, a importação de fertilizantes é um contrassenso nos tempos atuais.
O Brasil é um dos maiores produtores internacionais de etanol, mas a produção a partir da cana de açúcar deixa um resíduo conhecido como “vinhaça”, que tem em sua composição 95% de água.
A vinhaça pode ser utilizada na lavoura como adubo, pois é rico em potássio, mas em excesso pode ter efeito reverso, contaminando o solo e até mesmo o lençol freático. Além disso, o transporte da vinhaça da usina de álcool até o campo é extremamente caro e o processo é complexo.
O professor Thiago Lopes, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e integrante do RCGI, Centro de Pesquisa em Engenharia financiado pela Fapesp e pela Shell do Brasil, lembra que a vinhaça pode ser transformada em hidrogênio verde a partir de um processo eletrolítico.
A ideia de Lopes é, a partir do reator eletrolítico, quebrar as moléculas de água da vinhaça para gerar oxigênio e hidrogênio verde.
A partir do hidrogênio verde é possível produzir amônia, um dos principais ingredientes na fabricação de fertilizantes.
Atualmente, a amônia é sintetizada com hidrogênio proveniente do gás natural, que, lembra o professor da USP, é poluente.
Muito tem se falado nos últimos anos sobre a necessidade de se exportar valor agregado e proteger o meio ambiente.
A utilização do hidrogênio verde para a produção de amônia contempla ambos os temas, além de gerar riqueza interna. Além disso, não se deve descartar a possibilidade de exportação de fertilizantes a partir dos portos maranhenses, internacionalmente reconhecidos pela capacidade de receber navios de grande calado.
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro não divulga o resultado da visita a Moscou, que na minha opinião serviu apenas para fins eleitorais, antecipo-me para, com base nos estudos do professor da USP, mostrar que a solução para muitos dos problemas do Brasil encontra-se no próprio Brasil.
Para tanto é preciso acreditar na ciência e investir em pesquisas, antes que nossos cientistas tornem-se presas ainda mais fáceis para países estrangeiros.
(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.
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