Em evento do BTG Pactual, um descontrolado Bolsonaro associa o PT à legalização do aborto e das drogas

 
Em 2018, durante a campanha presidencial, o UCHO.INFO alertou para o despreparo e a falta de estofo do então candidato Jair Bolsonaro, o que colocaria o Brasil não apenas na contramão da democracia, mas levaria o País ao obscurantismo. Longe de qualquer profecia do apocalipse, nossos alertas se confirmaram ao longo dos últimos 38 meses.

Nesta quarta-feira (23), ao participar de evento para empresários, organizado pelo banco BTG Pactual, Bolsonaro voltou a mostrar quem realmente é: um delinquente intelectual que não aceita ser contrariado, desrespeita a democracia, ameaça as instituições e aumenta cada vez mais os sinais na direção de um golpe, situação que há quatro anos avisamos ser possível.

Incapaz de conduzir um discurso com conteúdo e minimamente coerente, Bolsonaro, aos berros, transformou sua participação no evento em ato de campanha. E precisou da ajuda de três ministros- Paulo Guedes (Fazenda, Ciro Nogueira (Casa Civil) e Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) – pois do contrário não saberia responder aos que lhe dirigiram perguntas sobre a atual situação do governo.

Sem citar o nome de Lula, seu principal adversário na corrida presidencial, Bolsonaro discorreu sobre o que seria o programa de governo do PT, que, segundo o atual presidente da República, inclui a reestatização de empresas privatizadas e a legalização do aborto e das drogas. O presidente avançou em seu desvario e disse que o PT poderá tirar armas de pessoas de bem, desmilitarizar as polícias estaduais, fechar as escolas cívico-militares, reaproximação com Cuba e Venezuela, revogação da reforma da Previdência e volta da contribuição sindical.

Aos gritos e visivelmente descontrolado, Bolsonaro afirmou que o preço da gasolina continuará no patamar atual. “Não vou interferir, vai continuar este preço de gasolina. Temos que discutir o ICMS do combustível porque incide na bomba”, disse.

O presidente da República deveria ter coragem de assumir que a política econômica do governo é um desastre desde antes da pandemia e que Paulo Guedes não faz jus ao apelido de “Posto Ipiranga”. No momento em que economia estiver razoavelmente estabilizada e a cotação do dólar abaixo dos patamares atuais, o preço do combustível para o consumidor certamente cairá.

Querer culpar o ICMS pelo preço da gasolina nos postos de combustíveis é um ato de covardia. Além disso, temas relacionados ao ICMS são de competência das Assembleias Legislativas, não do Congresso Nacional. Além disso, muitos dos serviços disponibilizados pelos governos estaduais dependem dos recursos do ICMS.

Sobre a legalização do aborto

Em relação à legalização do aborto, Jair Bolsonaro afirmou em 2000, durante entrevista à revista IstoÉ Gente, que a decisão sobre o aborto compete ao casal. Além disso, Bolsonaro reconheceu que em dado momento chegou a discutir com Ana Cristina Valle a possibilidade de aborto, no caso em questão de Jair Renan, único filho do ex-casal.

Ademais, a legalização do aborto é uma questão de saúde pública. Mulheres com maiores posses financeiras podem pagar de R$ 10 mil a R$ 20 mil por um aborto, enquanto as mais pobres recorrem a procedimentos clandestinos, que muitas vezes resultam em graves problemas. Em suma, o serviço de saúde pública é a etapa seguinte para quem não pode pagar por um aborto em condições minimamente seguras.

Contudo, diante da necessidade de estar em sintonia com o eleitorado evangélico, que é contra o aborto, Bolsonaro faz declarações absurdas ao sabor da direção do vento.

 
Sobre liberação das drogas

Se o Estado brasileiro não consegue combater o tráfico de drogas, proporcionando lucros estratosféricos aos barões do crime organizado, não apresentar uma solução para o problema é fácil.

Bolsonaro não pode ignorar alguns episódios que ganharam as redes sociais. Ex-namorada de Eduardo Bolsonaro, a jornalista Patrícia Lélis sugeriu em uma rede social que os filhos do presidente usavam maconha “na praia com os amigos”.

Lélis lembrou, em 2019, do suposto “hábito” de Eduardo, Flávio e Carlos ao rebater postagem do presidente no Twitter em que usou o argumento dos “direitos individuais” para defender a liberação da posse de arma de fogo.

Em 2020, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) trocou farpas com Eduardo Bolsonaro no Twitter. Chamando o parlamentar de Dudu Bananinha, Hasselmann escreveu na rede social: “Esse picaretinha, preguiçoso; fumador de maconha e surfista de araque nunca terá vergonha na cara”.

Telhado de vidro?

Além disso, não se pode esquecer a dura troca de mensagens entre os então deputados federais Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro, por aplicativo, em 2 de fevereiro de 2017, por ocasião da eleição para a Presidência da Câmara.

Naquele fatídico dia de votação, no plenário da Câmara, o fotógrafo Lula Marques registrou uma imagem do celular de Jair Bolsonaro, em que o agora presidente mantinha conversa nada amigável com o filho, pois não sabia em que votar.

Bolsonaro decidiu processar Lula Marques e a revista Fórum por causa da divulgação das imagens da troca de mensagens, as quais estão transcritas abaixo:

Jair: Papel de filho da puta que você está fazendo comigo. Tens moral para falar do Renan? Irresponsável.

Jair: Mais ainda, compre merdas por aí. Não vou te visitar na Papuda. (O pai se mostra preocupado com o que o filho estaria fazendo naquele momento)

Jair: Se a imprensa te descobrir aí, e o que está fazendo, vão comer seu fígado e o meu. Retorne imediatamente.

Eduardo: Quer me dar esporro tudo bem. Vacilo foi meu. Achei que a eleição só fosse semana que vem. Me comparar com o merda do seu filho, calma lá. (Eduardo não gostou de ser comparado com o meio-irmão)

Jair: Voto em JHC ou João Fernando Coutinho?

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