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Por ocasião da viagem a Moscou e a declaração de solidariedade à Rússia, mesmo diante da iminência da invasão à Ucrânia por tropas russas, Bolsonaro mostrou ser incompetente no campo das relações internacionais. Atendo-se apenas aos próprios interesses eleitorais, o chefe do Executivo acabou por endossar a tragédia em que se transformou a investida de Vladimir Putin contra os ucranianos.
No momento em que o Brasil tenta se recuperar dos efeitos colaterais de uma longeva crise econômica e da pandemia do novo coronavírus, qualquer manifestação do presidente no campo da política externa precisa ser cautelosa.
Com a crise global provocada pela invasão à Ucrânia, analistas econômicos brasileiros já preveem que a taxa básica de juro, a Selic, poderá chegar a 14% até o final do corrente ano. Isso porque a alta nos preços do petróleo no mercado internacional impulsionará a inflação no País.
Diante da quase inevitável majoração dos preços dos combustíveis, a inflação será generalizada, em especial no setor de alimentação, que no Brasil, um país com dimensões continentais, depende maciçamente do transporte rodoviário.
O governo federal tenta encontrar uma solução para conter os preços dos combustíveis, mas por enquanto nada está decidido. Na terça-feira (8), uma reunião no Palácio do Planalto para tratar do tema acabou sem definição. Bolsonaro pediu ao Congresso para interromper a tramitação de dois projetos que tratam dos preços dos combustíveis, sugeriu eventual ingerência na política de preços da Petrobras – após a fala as ações da estatal despencaram nas bolsas de valores – e acenou com a possibilidade de criar um subsídio.
O presidente Jair Bolsonaro sabe que seu projeto de reeleição só avançará caso a equipe econômica consiga domar a inflação, mas os efeitos da guerra devem dificultar essa busca desesperada por uma saída.
Como se não bastassem as turbulências no terreno do petróleo, a Ucrânia suspendeu a exportação de grãos até o final de 2022. É importante lembrar que a Ucrânia, ao lado da Rússia, é um dos principais fornecedores de trigo do Brasil. Ou seja, o sacro pãozinho de todo dia deve ficar mais caro em breve.
À sombra desse quadro crítico, a Bolsonaro resta apenas uma alternativa: reforçar as ameaças à democracia e ao processo eleitoral, postura que arrefeceu nos últimos dias. Além disso, o discurso voltado à parcela ultraconservadora do eleitorado deve dominar a cena. Em suma, melhor seria se Bolsonaro tivesse demovido Putin da ideia de invadir a Ucrânia.
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