O fim melancólico do PSDB, que saiu da social-democracia para se tornar um medíocre partido de direita

 
Em 2016, quando Geraldo Alckmin endossou a candidatura de João Dória Júnior à Prefeitura paulistana, o UCHO.INFO afirmou que não apenas o então governador de São Paulo se arrependeria do gesto, mas todo o PSDB. O tempo passou e a nossa previsão se confirmou. Não temos vocação para profetas do apocalipse, mas analisamos a política com base nos fatos.

Quando o saudoso Mário Covas torcia o nariz para João Dória, à época em que o agora governador de São Paulo era presidente da Paulistur (hoje SPTuris), muitos não compreendiam o comportamento do então prefeito paulistano (1983-1986). Covas, que não tinha meias palavras, sabia com que estava lidando, mas aturava em respeito a outro baluarte do PSDB, o governador André Franco Montoro, político habilidoso e ótimo negociador.

Desde que Fernando Henrique Cardoso desceu a rampa do Palácio do Planalto pela última vez, em 1º de janeiro de 2003, o PSDB entrou em processo de encolhimento contínuo na esfera federal. O grande primeiro erros dos tucanos na era pós-FHC foi defender a tese da governabilidade para evitar o impeachment de Lula na esteira do escândalo do Mensalão do PT.

Na ocasião, sempre amparados nas bengalas da soberba, os tucanos diziam que na eleição presidencial seguinte derrotariam o PT nas urnas. A profecia peessedebista fracassou. E desde então o PSDB não venceu uma só eleição presidencial.

Escândalos surgiram aos bolhões, arrastando lideranças tucanas ao fosso da corrupção. De chofre foi o Mensalão tucano, em Minas Gerais, que mandou de volta para casa o ex-governador Eduardo Azeredo. Enquanto inquilino do Palácio da Liberdade, Azeredo recorreu aos serviços de Marcos Valério, que mais tarde seria um dos protagonistas do Mensalão do PT.

Com o advento do escândalo do Petrolão, cujas investigações foram além dos limites da Petrobras, foi a vez de outro tucano mineiro ir para a fila do Judiciário: Aécio Neves. Ex-senador, Aécio, recentemente absolvido da acusação de receber R$ 2 milhões em propina da JBS, agora cumpre mandato de deputado federal e deve tentar a reeleição em outubro.

Enquanto Aécio Neves sangrava politicamente, desgastando ainda mais a imagem do PSDB, João Dória tentava vender aos paulistanos a ideia de que era gestor, não político. Não demorou muito para um escândalo alcançar Dória na Prefeitura de São Paulo. Um esquema de corrupção envolvendo o processo licitatório da Parceria Público-Privada da Iluminação Pública da maior cidade brasileira colocou muitos integrantes do Ilume na mira do Ministério Público paulista.

Muito estranhamente, o MP, com um cipoal de provas nas mãos, decidiu arquivar a investigação por falta de provas. A decisão ocorreu logo após Dória ser eleito governador de São Paulo, em 2018, algo que só foi possível por causa de uma aproximação do neotucano com Jair Bolsonaro. Em outras palavras, o PSDB, que tinha – e ainda tem – em sua cúpula antigos exilados por força da ditadura militar, se viu colado a um defensor da página mais deplorável da história brasileira.

 
Dória passou a alimentar a ideia de assumir o controle do PSDB, o que se desfez com o passar dos dias. Ele defendeu a expulsão de Aécio Neves, que por sua vez começou a trabalhar nos bastidores contra o governador de São Paulo. Mais hábil em termos políticos do que Dória, Aécio Neves começou a reconquistar a musculatura política de outrora, levando para o seu grupo muitos dos chamados “cabeças brancas” do PSDB.

Em 2018, logo no início do ano, o UCHO.INFO afirmou que o melhor para Geraldo Alckmin seria disputar uma vaga no Senado, mas o ex-governador insistiu em concorrer ao Palácio do Planalto. Tivesse acolhido nossa sugestão, teria sido eleito para o Senado, onde prestaria enorme serviço ao País, e livraria o estado de São Paulo e o PSDB de conviver com Dória.

Para um partido que nasceu como dissidência do MDB “velho de guerra” e defendendo a social-democracia, o PSDB tornou-se um medíocre partido de direita, sem identidade alguma, mas com os caciques tentado se equilibrar sobre as ruinas da legenda.

No afã de resgatar o discurso democrático, o PSDB decidiu realizar prévias para escolher o candidato do partido que concorrerá à Presidência da República em outubro próximo. Como era esperado, Dória derrotou o governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e Arthur Virgílio Neto, ex-senador e ex-prefeito de Manaus.

João Dória, o marqueteiro escorregadio que acredita ter habilidades políticas, está empacado nas pesquisas eleitorais, sem qualquer perspectiva de decolar e chegar a intenções de voto no patamar de dois dígitos.

A cúpula do tucanato está preocupada com a possibilidade de Eduardo Leite se filiar ao PSD, de Gilberto Kassab, e sair como candidato à Presidência. Leite tem o apoio de ala importante do PSDB, que o defende como presidenciável do partido.

Geraldo Alckmin está fora do PSDB e prestes a se filiar ao PSB, o que viabilizará sua candidatura como vice na chapa do ex-presidente Lula. No tucanato ninguém derramou lágrimas com a saída de Alckmin, ao contrário do que acontece com a quase confirmada saída de Eduardo Leite.

O PSDB está possivelmente escrevendo o epílogo de sua história como partido político relevante. Caso siga a lógica das pesquisas e o desejo de alguns caciques, fazendo de Eduardo Leite candidato à Presidência, será rotulado de golpista. Caso insista na candidatura de Dória, dará mais um passo na direção do processo de encolhimento do partido. Talvez seja um convite para o funeral.

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