O presidente Jair Bolsonaro foi eleito na esteira do discurso antipolítica e da promessa de combate implacável à corrupção. Nos primeiros dois anos de governo, o chefe do Executivo tratou de demonizar o Parlamento, onde permaneceu durante 28 anos, com direito a recorrentes ataques ao Centrão.
Passado esse período, Bolsonaro, diante da possibilidade de ser alvo de um processo de impeachment, tornou-se refém do Centrão, entregando ao informal bloco parlamentar cargos e recursos públicos, o que acabou por desaguar em escândalos de corrupção.
A mais recente epopeia bandoleira do governo teve o Ministério da Educação como palco. Pastores ligados a Bolsonaro vendendo facilidades Brasil afora, licitação de ônibus escolares com sobrepreço de R$ 732 milhões, “escolas fake” e kit robótica para unidades educacionais sem infraestrutura.
A oposição ao governo no Congresso Nacional reagiu e iniciou a coleta de assinaturas para criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com o objetivo de investigar os escândalos de corrupção na Educação. Enquanto o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) coletava as assinaturas, o Palácio do Planalto atuava nos bastidores para inviabilizar a criação da CPI. No último final de semana, quatro assinaturas foram retiradas do requerimento de criação da Comissão, inviabilizando o processo de investigação.
Mesmo ciente de que seu discurso é falacioso, Bolsonaro insiste em afirmar que no governo não há casos de corrupção e por isso recomenda à Polícia Federal para não perder tempo com investigações. Desde o início do governo o UCHO.INFO afirma que há casos de corrupção na gestão atual, mas as autoridades preferiram fechar os olhos para a realidade.
Como forma de contrapor a tentativa da oposição de criar a CPI da Educação, o governo acionou seus tentáculos no Congresso Nacional para ameaçar com a criação de uma CPI das obras paradas. Isso significa voltar no tempo e alcançar as gestões petistas, em mais um capítulo da polarização eleitoral que avança sem cerimônia.
Considerando que Bolsonaro nega a existência de casos de corrupção no governo, o melhor que ele poderia fazer é concordar com a criação da CPI e permitir que seus opositores fracassam na tentativa de investigar os escândalos.
O presidente da República tem consciência de a corrupção corre solta no governo, mas prefere acionar a alavanca da mitomania para alegrar sua obediente horda de apoiadores. Somente quem desconhece o modus operandi da política brasileira é capaz de acreditar que um governo pífio e autoritário segue avançando sem o apoio de corruptos e corruptores.
A mais evidente prova de que há corrupção no governo foi fornecida pelo próprio Palácio do Planalto, que alegou motivos de segurança da presidente e dos seus familiares para negar acesso às informações sobre as visitas feitas pelos pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura ao presidente.
O falso bom-mocismo que Bolsonaro tenta despejar sobre a parcela incauta da opinião pública não convence quem acompanha de perto a política nacional. Os pastores Gilmar e Arilton em algum momento terão de depor à Polícia Federal no escopo da investigação sobre cobrança de propina para liberar recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Caso os dois religiosos que atuavam na Educação decidam contar a verdade, o governo de Jair Bolsonaro irá pelos ares em questão de horas. Afinal, Gilmar e Arilton não poderão deixar no mármore do inferno, em ano de eleições, as principais lideranças evangélicas do País, que têm a política como um próspero negócio.
Para concluir, no momento em que o governo insiste em criar uma CPI das obras paradas, como forma de retaliação aos opositores, fica patente que casos de corrupção no Ministério da Educação precisam ser investigados.
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