Aliados e simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro comemoraram na segunda-feira (25) o anúncio da compra da rede social Twitter pelo bilionário Elon Musk, que interpretaram como um gesto em “defesa da liberdade”. Recentemente, a plataforma vinha implementando políticas de combate à desinformação e propagação de notícias falsas.
Em fevereiro, o Twitter chegou a fechar um acordo com o Tribunal Superior Eleitoral brasileiro (TSE) para combater a disseminação de desinformação durante a campanha eleitoral deste ano. Em outras eleições e durante a pandemia, a rede social adotou como estratégia a colocação de alertas em posts com desinformação e o bloqueio de usuários e remoção de conteúdos que feriam as políticas de uso. Se a aquisição do Twitter se concretizar, o futuro de tais medidas é incerto.
Um dos primeiros a comemorar a venda da plataforma foi o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, que publicou várias mensagens em apoio a Musk e, em alusão à transação, escreveu: “para a esquerda ficar desesperada basta haver igualdade na liberdade de expressão com a direita”. Seu irmão e senador, Flávio Bolsonaro, compartilhou publicações de apoio a Musk.
O próprio presidente, que é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por divulgar notícias falsas sobre a covid-19 e o sistema eleitoral, também sinalizou satisfação ao compartilhar um tuíte em que Musk diz esperar que mesmo seus críticos permaneçam no Twitter, pois “é isso que a liberdade de expressão significa”.
Bolsonaro recomendou ainda uma matéria do portal UOL, que explica como desativar a conta para os usuários que não “querem ficar no Twitter de Elon Musk”.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, parabenizou Musk, fundador da Tesla e da SpaceX, nas redes sociais pela possível aquisição do Twitter por US$ 44 bilhões. “Mais uma vez ele está dois passos à frente de outros agentes e agora está a dar um gesto ao mundo em defesa da liberdade”, disse ao elogiar o homem mais rico do planeta.
A deputada Carla Zambelli (PL-SP) celebrou a compra do Twitter com o tuíte: “@elonmusk nadando nas lágrimas da esquerda mundial!”
O Ministério Público Federal brasileiro avalia pedir ao Twitter que informe se a aquisição afetará as políticas de combate à desinformação na plataforma.
Negócio preocupante
Críticos da compra do Twitter por Musk temem que o empresário acabe com esforços que vinham sendo implementados para combater a desinformação e a propagação de notícias falsas com o objetivo de melhorar a qualidade do debate público, e torne a plataforma uma terra sem lei. Sob essa perspectiva, a retirada de qualquer controle sobre o que pode ser publicado e ter grande alcance seria prejudicial ao próprio debate público que Musk diz prezar, ao favorecer a propagação de discurso de ódio e de desinformação.
Várias organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional (AI) e a União das Liberdades Civis dos Estados Unidos (ACLU), expressaram preocupação com a possível compra do Twitter por Musk.
“O Twitter tem a responsabilidade de proteger os direitos humanos, incluindo o direito de viver sem discriminação e violência e a liberdade de expressão e opinião”, afirmou o diretor de Tecnologia e Direitos Humanos para os EUA da AI, Michael Kleinman. Ele acusou ainda a plataforma de “fechar os olhos” ao “discurso violento e abusivo” contra mulheres e minorias.
Empresas como o Twitter “desempenham um papel profundo e único para permitir o novo direito à expressão ‘online’“, sublinhou a ACLU. “Devemos estar preocupados quando qualquer agente central poderoso, seja um governo ou uma pessoa com dinheiro, tenha tanto controle sobre os limites do nosso discurso político ‘online’“, acrescentou a organização.
Suposta liberdade de expressão
Musk alega que comprou o Twitter para liberar seu potencial de liberdade de expressão. Ele diz que o Twitter “precisa ser transformado em uma empresa de capital fechado” para construir a confiança com os usuários. O bilionário, que já se definiu como um “absolutista da liberdade de expressão”, porém, é conhecido por bloquear e atacar seus opositores na rede social. Ele tem 83 milhões de seguidores na plataforma.
Por um preço de US$ 44 bilhões (R$ 215 bilhões), Musk deverá assumir a empresa integralmente e fechará o seu capital. O Twitter é uma empresa aberta, com ações negociadas em bolsa, desde 2013.
Segundo o acordo, os acionistas receberão US$ 54,20 por ação. O valor representa um ágio de 38% sobre o preço das ações do Twitter em 1º de abril, pouco antes de Musk anunciar que havia comprado 9% das ações da empresa. Espera-se que o negócio seja concluído neste ano. (Com agência de notícias)
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