Michele não se pronunciou na pandemia, mas usou rede nacional para campanha a favor de Bolsonaro

 
Desrespeitar a legislação vigente é algo comum no cardápio do presidente Jair Bolsonaro, que usa de “balões de ensaio” para testar a capacidade de resistência dos Poderes constituídos e das instituições. Além disso, o chefe do Executivo, golpista conhecido, insiste em ameaçar a democracia e o Estado de Direito.

Sabedor de que cresce a chance de ser derrotado na eleição de outubro, Bolsonaro tem colocado em xeque a segurança do sistema eleitoral, assim como ignora a legislação eleitoral ao fazer campanha antecipada e financiada pelo suado dinheiro do contribuinte.

A mais nova bizarrice na seara de Bolsonaro ficou por conta da primeira-dama, que no domingo (8), Dia das Mães, fez uso da rede nacional de rádio e televisão para mandar mensagem para as mães. Michelle Bolsonaro apareceu ao lado da ministra Cristiane Britto (Mulher, Família e Direitos Humanos) para dar ares de suposta legalidade à sua incursão.

O presidente da República conhece as regras para requerer a rede de rádio e televisão, mas seu interesse eleitoral falou mais alto, pois a Justiça Eleitoral não tem o ímpeto necessário para puni-lo de forma exemplar.

De acordo com publicação no site do governo, “a formação de rede nacional de rádio e televisão para atender à solicitação de transmissão de pronunciamentos dos chefes dos três Poderes da República e, eventualmente, para transmissão de comunicados de ministros de Estado em temas de relevância e interesse nacionais, como campanhas de vacinação para evitar epidemias”.

A primeira-dama não é membro do governo nem tem poderes para requere a formação de rede nacional, por essa razão pegou carona na figura da ministra Cristiane Britto. Trata-se de mais um desafio de Bolsonaro ao Judiciário, que em países sérios já teria resultado em impeachment.

 
O deputado federal Rui Falcão (PT-SP) protocolou, nesta segunda-feira (9), representação na Procuradoria-Geral Eleitoral contra Michelle Bolsonaro e a ministra da Mulher e dos Direitos Humanos por campanha eleitoral antecipada e improbidade administrativa.

Segundo os advogados que assinam a denúncia, o pronunciamento realizado por elas no Dia das Mães segue “roteiro clássico das propagandas eleitorais de manuais de publicidade” e busca reduzir a resistência do eleitorado feminino a Jair Bolsonaro.

“Foi para atingir essa finalidade eleitoreira que Michelle Bolsonaro, a Primeira-Dama, se apresentou com uma mãe sensível, como uma mulher conhecedora das dificuldades de tantas mães brasileiras e que poderia, justamente por isso, atuar em benefício das eleitoras influenciado seu marido na tomada de decisões que favoreçam as brasileiras”, destaca a representação.

Em vez de desempenhar o papel de marionete de luxo do presidente da República, Michelle Bolsonaro deveria usar os meios de comunicação para explicar ao povo brasileiro o polêmico depósito feito por Fabrício Queiroz, o operador das “rachadinhas”, em sua conta bancária.

Não é preciso dose extra de raciocínio e memória para descobrir que Michelle Bolsonaro não fez qualquer aparição pública durante a pandemia para confortar as famílias brasileiras que perderam entes queridos para o novo coronavírus. Aliás, a primeira-dama foi vacinada contra Covid-19 em Nova York, em setembro de 2021, por ocasião da viagem da comitiva brasileira que participou da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

Por meio de nota, distribuída pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), a primeira-dama alegou que ao se submeter ao teste RT-PCR, necessário para embarcar de volta ao Brasil, o médico que a atendeu perguntou se ela não gostaria de aproveitar a oportunidade e tomar a vacina.

“Como já pensava em receber o imunizante, resolveu aceitar. A primeira-dama reitera a sua admiração e respeito ao sistema de saúde brasileiro, em especial, aos profissionais da área que se dedicam, incansavelmente, ao cuidado da saúde do povo”, informou a nota da Secom.