Ferdinand Marcos Jr., filho e herdeiro político do ditador deposto das Filipinas, está prestes a se tornar o próximo presidente do país. Com mais de 90% dos votos apurados nesta segunda-feira (9), ele superou os quase 27,5 milhões de sufrágios necessários para garantir a maioria, com mais do que o dobro da votação recebida por seu adversário, o liberal Leni Robredo.
Esta foi a primeira vitória eleitoral por maioria desde a revolução de 1986 que resultou na deposição de seu pai, Ferdinand Marcos, que governou o país com mão de ferro durante duas décadas. O resultado marca o retorno da família Marcos ao poder, 36 anos depois de uma humilhante fuga para o exílio.
Com 93,8% das cédulas válidas apuradas, Marcos Jr. – apelidado de Bongbong – acumulava 29,9 milhões de votos, segundo a contagem extraoficial da Comissão de Eleições. O comparecimento às urnas chegou a 80%. O resultado oficial, no entanto, pode demorar semanas, devendo sair no final deste mês.
Os outros oito candidatos – incluindo o ex-boxeador Manny Pacquiao, o prefeito de Manila, Isko Moreno, e o ex-chefe da polícia nacional e agora senador Panfilo Lacson – ficaram bem atrás na preferência do eleitorado.
Apesar do vexame após a deposição, a família Marcos voltou às Filipinas nos anos 1990, e continuou sendo uma força política poderosa no país, mantendo sua influência através de sua vasta riqueza e de uma ampla rede de conexões.
Campanha com base nas redes sociais
Marcos Jr., de 64 anos, já atuou como senador, congressista e senador. Sua irmã Imee é atualmente senadora, e sua mãe, Imelda Marcos – figura controversa e bastante influente no governo de seu marido – exerceu quatro mandatos parlamentares. O filho do novo presidente e neto do ex-ditador, Ferdinand Alexander, deve ser eleito para uma vaga no Congresso.
Durante a campanha, Bongbong não apresentou uma plataforma política definida, adotando uma mensagem simples e ambígua de unidade. Segundo analistas, o esperado é que seu mandato de seis anos à frente do governo filipino seja marcado pela continuidade de seu antecessor, o autoritário Rodrigo Duterte, cuja imagem de “homem forte” se provou popular e ajudou a consolidá-lo no poder rapidamente.
Marcos Jr. deverá completar o programa multibilionário de infraestrutura iniciado por Duterte e buscar uma aproximação com a China. Seus críticos temem que os problemas de corrupção e nepotismo que assolam o país possam piorar durante seu governo.
Um grande trunfo em sua campanha foi indicar como sua vice-presidente a filha do atual mandatário, Sara Duterte-Carpio, garantido o apoio de seu pai e, ao mesmo tempo, abrindo caminho para atingir outros territórios eleitorais.
O resultado parcial das apurações indica que Duterte-Carpio teria recebido o triplo dos votos de seu oponente mais próximo, em um sistema eleitoral onde o vice-presidente é eleito separadamente.
Marcos Jr. foi criticado por não comparecer aos debates, além de ter tido poucas aparições na mídia durante a campanha, o que possibilitou que evitasse exposição pública e controlasse sua mensagem através de uma rede de influenciadores digitais e blogueiros.
O resultado das eleições nas Filipinas revela o enorme impacto de uma operação sofisticada de mídias sociais, voltada para os jovens nascidos após a revolução que tirou os Marcos do poder, além de uma proliferação de informações enganosas sobre o registro histórico da ditadura, inclusive sobre a polêmica Lei Marcial imposta pelo regime ditatorial.
Os responsáveis pela campanha vencedora, entretanto, negam que tenha havido disseminação de desinformação.
Luxo e ostentação em meio à pobreza
A família Marcos se notabilizou por manter um padrão de vida luxuoso e ostentoso, ao mesmo tempo em que nega várias denúncias de que teria desviado bilhões de dólares em dinheiro público, durante aquela que muitos historiadores consideram uma das maiores cleptocracias já existentes na Ásia.
Imelda Marcos ficou mundialmente famosa por ter colecionado três mil pares de sapatos, além de vestidos caros e 175 obras de arte de valor inestimável. Isso, em um país com uma população que vivia em grande parte na pobreza, com o governo usando de truculência para se manter no poder, até uma revolta popular forçar a família a fugir do país.
Grande parte dos apoiadores de Marcos Jr. considera esses registros históricos como sendo somente mentiras disseminadas por seus oponentes. (Com agências internacionais)