(*) Carlos Brickmann
Não sabemos os nomes, os cargos, as condições da conversa; mas temos um bom ponto de partida, uma repórter normalmente bem relacionada e bem informada. Eliane Cantanhêde, de O Estado de S. Paulo e da Globonews, dá uma boa notícia: depois de conversar com boas fontes militares, não acredita que as Forças Armadas se lancem numa aventura golpista. Eliane não tem a menor simpatia por Bolsonaro, mas tem reputação (justa) de ser fiel à notícia. Eis o que diz: “A escalada de Bolsonaro, filhos, séquito e robôs é clara, mas se a gente olha os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica e se fixa no Alto Comando do Exército, é difícil encontrar ao menos um disposto a jogar seu nome na lama da História contra a democracia. Em vez de golpe com militares, o que não se pode descartar é que Bolsonaro esteja criando um clima de tumulto e instabilidade com sua turba civil, que armou com revólveres e fuzis e pode entrar em ação em caso de derrota”.
Este colunista já trabalhou com Eliane Cantanhêde e sabe que ela, por melhor que seja, nem sempre acerta. Mas sabe também que vale a pena ouvi-la, e que costuma acertar com grande frequência. E se Bolsonaro perder as eleições (ver nota abaixo) e os fanáticos entrarem em ação? Ela conversou com um oficial sobre a mais provável reação dos militares, nesse caso: “Cerca os caras, julga, condena e prende todo mundo. Acabou-se a história”.
João Goulart, em 1964, confiava em seu dispositivo militar. Errou feio.
Pesquisa de agora
Pesquisa é como corrida de Fórmula 1: os carros têm sua posição no grid de largada. Iniciada a corrida, só no fim se sabe o resultado. A pesquisa que indica hoje a posição dos candidatos na largada foi encomendada pela C NT, Confederação Nacional da Indústria, à MDA.
Seus resultados: Lula ganha com quase nove pontos percentuais de vantagem sobre Bolsonaro na pesquisa estimulada, quando a lista dos candidatos é apresentada ao público. São 40,6 a 32%. Sérgio Moro e Rodrigo Pacheco não estiveram na lista. Com ambos, na última pesquisa, Lula vencia por 42,2 a 28%. Seguem-se Ciro Gomes, com 7,1%, e João Doria, com 3,1%. Deve haver segundo turno.
A luta final
No segundo turno, diz a pesquisa, Lula venceria todos os adversários. Já Bolsonaro só perderia para Lula e Ciro e venceria Doria e Simone Tebet. O principal resultado: Lula 50,8%, Bolsonaro 36,8%.
Por baixo dos números
O que puxa Bolsonaro para baixo é a opinião sobre seu desempenho no governo. Desaprovam o trabalho de Bolsonaro 58,8%, contra 37,9% que o aprovam. São 44% que acham sua Presidência ruim ou péssima, enquanto 30% a consideram ótima ou boa. O item “emprego e renda” tem a pior das avaliações: 68,1%. Em seguida, entre os mais mal avaliados, vêm “saúde”, com 59,6%, “meio-ambiente” com 59,5%, “segurança pública” (56,9%), e “educação”, 55,5%. As avaliações são negativas em todos os setores: dos “benefícios aos mais pobres” (53%) ao “combate à corrupção” (50,6%). No “combate à pandemia”, 48,5% acham que o governo foi mal e 22% acham que foi bem.
É só resolver esses problemas que a avaliação melhora.
Olha o bolso!
Publicado segunda-feira no Diário Oficial da União: em despacho datado de 5 de maio, o gabinete do ministro da Cidadania autoriza o servidor Marcelo Reis Magalhães, secretário especial do Esporte do Ministério, a se afastar do Brasil para participar da 19ª Edição do ISF Gymnasiade Escolar, a se realizar na Normandia, França, no período de 17 a 22 de maio. E também acompanhar o torneio de tênis de Roland Garros, em Paris, de 25 a 28 de maio. O servidor se afasta de 17 a 30 de maio, “com ônus” para o Ministério.
País rico tem dessas coisas. Quase duas semanas em Paris. A gente paga.
Na hora certa
Há pessoas, pode acreditar, que não acreditam em coincidências. Pois cá está um caso interessantíssimo de coincidência, que vale a pena narrar. No próximo dia 17, o Conselho Nacional de Justiça, CNJ, deve iniciar inspeção no Judiciário baiano, para ter certeza de que está tudo correto.
Pois há servidores do Judiciário que querem paralisar o TJ, Tribunal de Justiça, no mesmo dia 17! Coincidência, claro. E, após a paralisação, haveria manifestação. Há um áudio atribuído ao ex-presidente do Sindicato dos Serventuários, Edno Lima, pedindo para que técnicos e analistas desliguem os computadores e iniciem um apitaço no dia 17.
Uma das sugestões do tal áudio é que os sindicatos que congregam os servidores do Judiciário comprem de seis a sete mil apitos para que a manifestação seja o mais ruidosa possível, de maneira a que ninguém deixe de notá-la. Por que a paralisação? Porque os funcionários estão há sete anos sem reajuste de salários, e também porque o TJ não deu qualquer indicação de que pagará passivos trabalhistas.
Já faz tempo que isso acontece e agora há a paralisação. Coincidências!
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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