“Jabuti” dos gasodutos foi o pavio da demissão do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque

 
Desde o fim da eleição de 2018, o presidente Jair Bolsonaro tem se preocupado com apenas um assunto: um novo mandato. O plano político-eleitoral do chefe do Executivo pode fracassar não só pelos sucessivos ataques à democracia, mas por causa do fracasso de uma política econômica que tem empurrado o brasileiro na direção da pobreza.

Com a escalada da inflação, Bolsonaro terá de enfrentar índices de rejeição que tendem a aumentar com o passar dos dias. Um dos vilões desse cenário que corrói o salário do brasileiro é o preço dos combustíveis, reajustado pela Petrobras com base na cotação do petróleo no mercado internacional.

A mais nova epopeia bolsonarista para ludibriar a opinião pública se materializou com a demissão de Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia. O presidente da República usou a saída de Albuquerque para demonstrar aos eleitores que tenta conter a alta dos preços dos combustíveis, o que não acontecerá com a dança de cadeiras na pasta.

Na verdade, Bento Albuquerque deixou o Ministério de Minas e Energia por discordar do bilionário projeto que prevê a construção de gasodutos Brasil afora, com custo estimado em R$ 100 bilhões. A proposta, um “jabuti” que o Centrão tenta colocar no Projeto de Lei nº 414, que trata da modernização do setor elétrico, beneficia diretamente o empresário Carlos Suarez, ex-sócio da empreiteira OAS e conhecido como “rei do gás”.

O nome de Suarez surgiu recentemente no noticiário político por ocasião da indicação de Adriano Pires e Rodolfo Landim para as presidências da Petrobras e do Conselho de administração da estatal, respectivamente.

Adriano Pires viu-se obrigado a desistir da indicação por questões de conflito de interesses. Pires é fundador e dirigente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), que tem como clientes empresas que atuam no mercado de petróleo e gás e demandam contra a Petrobras. |Além disso, Pires e o Cbie têm relações com Carlos Suarez.

 
A situação mais frágil envolve Rodolfo Landim, presidente do Clube de Regatas Flamengo. Em novembro de 2021, o juiz Frederico Botelho de Barros Viana, da 10ª Vara Federal de Brasília, autorizou a formalização de cooperação jurídica internacional para investigar a conta bancária que o cartola rubro-negro tem na Suíça.

Na denúncia acatada por Barros Viana em 3 de novembro do ano passado, que tornou Landim e mais quatro réus pelo crime de gestão fraudulenta, o Ministério Público Federal destacou no documento que autoridades da Suíça comunicaram suspeitas de lavagem de dinheiro realizada por meio de uma conta de Landim no banco Credit Suisse, mantida entre 2008 e 2012.

O MPF afirma que o presidente do Flamengo e mais quatro atuaram em uma operação financeira que teria causado prejuízos de R$ 100 milhões a fundos de pensão de funcionários de estatais. Autoridades suíças informaram ao MPF o bloqueio de US$ 15,1 milhões de uma conta bancária em nome da Termogás Internacional, do empresário Carlos Suarez.

É importante lembrar que durante a campanha presidencial de 2018, Jair Bolsonaro afirmou aos incautos eleitores que, se eleito, combateria de forma implacável a corrupção e acabaria com o que muitos conhecem como “toma lá, dá cá”. O Centrão não encampou a proposta de construção de gasodutos porque pensa no País e no futuro dos brasileiros. O informal bloco parlamentar, que vende apoio no Congresso Nacional, viu no “jabuti” uma oportunidade de faturar às custas do contribuinte.

Ao longo da última campanha presidencial, o UCHO.INFO afirmou sem medo de errar que Bolsonaro era – e continua sendo – “mais do mesmo”. A corrupção corre solta nas entranhas do governo, enquanto o Centrão chafurda na lama da ilicitude. O mais interessante (sic) nesse enredo criminoso é que Bolsonaro ousa falar em patriotismo e que “joga dentro das quatro linhas da Constituição”.