Em vez de criticar a política de preços da Petrobras, população deveria exigir política econômica eficaz

 
Como afirmou o UCHO.INFO em matéria anterior, o maior e mais temido adversário do presidente Jair Bolsonaro na eleição de outubro não é o petista Lula da Silva, como mostra as pesquisas de opinião, mas a crescente e preocupante crise econômica.

A alta de preços no Brasil se alastrou pela economia nos últimos meses e alcançou oito de cada dez produtos que compõem o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial. Em abril, o IPCA atingiu 1,06%, maior taxa para o mês desde 1996. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, no mês, o índice de difusão do IPCA foi de 78,3%, o maior desde janeiro de 2003 (85,9%).

Ciente de que o cenário econômico impactará seu desempenho nas urnas, Bolsonaro recorre mais uma vez ao discurso embusteiro para induzir a erro a parcela incauta da população, ao mesmo tempo em que movimenta sua horda de apoiadores.

Como forma de camuflar a realidade, o presidente insiste nas ameaças à democracia, por meio de contínuos ataques ao sistema eleitoral, e toma decisões que não produzem qualquer efeito prático. É o caso da demissão do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que se opôs ao projeto que prevê a construção de gasodutos Brasil afora ao custo inicial de R$ 100 bilhões.

A substituição de Albuquerque pelo economista Adolfo Sachsida, integrante da equipe do ainda ministro Paulo Guedes (Economia), é mais uma cortina de fumaça gerada por um governo incompetente e populista.

 
Diante da impossibilidade de interferir na política de preços da Petrobras, Sachsida, em combinação com Bolsonaro, anunciou que encomendará estudo para privatizar a estatal. A eventual venda da petrolífera brasileira não reduzirá os preços dos combustíveis. É preciso admitir que a privatização pode resultar em preços ainda maiores.

Além disso, a União recebeu nos últimos três anos quase R$ 450 bilhões da Petrobras em dividendos, royalties e impostos. O fato de ser acionista majoritário não dá ao governo o direito de intervir na Petrobras, como tenta sinalizar Bolsonaro. Trata-se de uma empresa privada que tem por obrigação respeitar os direitos dos acionistas minoritários e seguir as regras do mercado.

Enquanto tenta escapar das críticas decorrentes dos preços dos combustíveis, o governo decidiu zerar o imposto de importação de alimentos, com o propósito de conter a escalada da inflação. Na lista de produtos constam carne bovina e de frango congelada, farinha de trigo (e derivados) e milho em grão. No contraponto, Bolsonaro brada aos quatro cantos que o Brasil é o maior exportador de alimentos do planeta.

Redução imposto de importação é uma ferramenta conhecida para combater o mais temido fantasma da economia, mas não produz efeitos práticos. Há nessa decisão uma clara dicotomia em relação às medidas do Banco Central para conter a inflação. A autoridade monetária adota medidas para frear o consumo, mas no contraponto o governo insiste em incentivá-lo. Para completar o canário de caos, o salário mínimo vem perdendo poder de compra, principalmente se comparado à inflação real.

Nos últimos dias, veículos de comunicação, políticos da oposição e pré-candidatos às eleições de outubro tomaram os preços dos combustíveis como pauta do oportunismo barato. É preciso que os profissionais de imprensa, em especial, cumpram o dever de informar que a solução para os problemas passa obrigatoriamente por uma persistente cobrança ao governo, que fecha os olhos para uma política econômica ineficaz.

O presidente e seus ministros, com destaque para Paulo Guedes, culpam a pandemia e a guerra na Ucrânia pela disparada dos preços. Outros países enfrentam o mesmo problema, mas antes desses dois eventos a economia brasileira já cambaleava, enquanto Guedes se debatia entre desculpas pífias e descabidas. Até quando, Brasil?