Como tem afirmado o UCHO.INFO, o presidente Jair Bolsonaro tende a se descontrolar cada vez mais diante do quase inevitável “naufrágio” de seu projeto de reeleição. Isso porque a assustadora elevação dos preços dos alimentos, em especial, tem corroído sua popularidade. Tanto é assim, que, longe da claque de aluguel, o presidente tem enfrentado o descontentamento popular em suas andanças pelo Brasil.
Nesta segunda-feira (16), em conversa com apoiadores que diariamente se aglomeram no “cercadinho” do Palácio da Alvorada, disse que “há mais para acontecer” na Petrobras. Isso porque a petrolífera, contrariando os desejos de Bolsonaro, tem elevado os preços dos combustíveis, que por sua vez impactam em toda a cadeia de preços de produtos e serviços.
“Todo mundo tem que colaborar, não é ganhar mais dinheiro na crise. É o que infelizmente alguns setores fazem, como a própria Petrobras. ‘Ah tem o estatuto’. Estatuto está acima da lei, não está acima da Constituição. Então, tem o fim social da empresa”, afirmou Bolsonaro, que já sinaliza com a possibilidade de defenestrar o presidente da empresa, José Mauro Ferreira Coelho, que tomou posse no cargo há um mês.
“Com toda certeza vamos entrar na Petrobras nessas questões também. Não é possível uma petrolífera dar 30% de lucro enquanto as outras, no máximo 15%, para atender interesse não sei de quem”, disse o chefe do Executivo, em mais uma fala populista que serve para fugir da responsabilidade.
“Tem mais coisa pra acontecer na questão da Petrobras. Já sabem o que está acontecendo. Não vou entrar em detalhes, está sempre fazendo alguma coisa para buscar alternativa”, emendou.
Bolsonaro deveria se imbuir de coragem e assumir que a política econômica do governo fracassou desde o primeiro dia de sua gestão, o que explica em parte os preços dos combustíveis. No momento em que a cotação do dólar sobe, a Petrobras é obrigada a repassar aos produtos que comercializa os efeitos do câmbio.
Além disso, as investidas de Bolsonaro contra a democracia, o Estado de Direito e as instituições criam um ambiente de insegurança jurídica, afastando investidores e elevando a cotação do dólar.
A Petrobras, goste ou não Bolsonaro, é uma empresa privada que tem a União como maior acionista. Há uma sensível diferença entre uma empresa estatal e a União ser o maior acionista da companhia. A Petrobras tem acionistas minoritários e por essa razão é obrigada a seguir as regras de mercado.
Bolsonaro pode alegar o que bem entender para tentar justificar os preços dos combustíveis, mas deveria admitir publicamente que o governo federal recebeu da empresa, ao longo dos últimos três ano, perto de R$ 450 bilhões em dividendos, royalties e tributos.
Para interferir na política de preços da Petrobras, como deseja Bolsonaro, o governo federal deveria ir ao mercado e adquirir a participação dos minoritários.
O presidente da República sabe que a questão dos combustíveis continuará assombrando sua campanha à reeleição, por isso inventa a cada dia uma parolagem nova e mentirosa. O melhor exemplo desse embuste oficial é a declaração de que o novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, trataria de privatizar a empresa.
Uma eventual privatização da Petrobras não é garantia de que os preços da Petrobras diminuirão. Ao contrário, há o risco de os preços serem maiores, pois nenhuma empresa privada funciona como casa de caridade.
A opinião pública e boa parte da imprensa nacional, com destaque para os grandes veículos de comunicação, deveriam, em vez de demonizar os preços dos combustíveis, cobrar de Bolsonaro e do ainda ministro Paulo Guedes (Economia) uma política econômica minimamente eficaz. Guedes, a fulanização do fiasco em termos de economia, se especializou em produzir desculpas estapafúrdias e preconceituosas para justificar o injustificável.
Resumindo, Bolsonaro tenta com seus discursos torpes e desconectados da realidade passar à população a falsa ideia de que está tentando reduzir os preços dos combustíveis, mas é impedido pela legislação e pelo mercado internacional de petróleo, quando na verdade o problema está no próprio governo.