O presidente Jair Bolsonaro decidiu terceirizar as ameaças à democracia com o intuito de reforçar sua tentativa de reverter o cenário que aponta para sua derrota na eleição presidencial de outubro. O “longa manus” da vez é o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o filho “01”, incumbido de fazer eco ao discurso golpista do pai.
Na quarta-feira (18), Flávio colocou em xeque a confiabilidade das urnas eletrônicas, a exemplo do que tem feito diariamente o presidente da República, como se toda a família não tivesse sido eleita pelo sistema eleitoral alvo de ataques.
“Olha o perigo de instabilidade que existe sim se o processo eleitoral acontecer com esse manto da desconfiança. Não dá para prever o que vai acontecer com o Brasil”, disse o senador fluminense.
Na última segunda-feira (16), ao discursar para empresários do setor de alimentos, em São Paulo, o presidente citou a possibilidade de termos “eleições conturbadas”. “Mas tudo pode acontecer. Podemos ter outra crise. Podemos ter umas eleições conturbadas. Imagine acabarmos as eleições e pairar, para um lado ou pro outro, a suspeição de que elas não foram limpas? Não queremos isso”, disse o chefe do Executivo.
Na quarta-feira (18), o senador saiu em defesa do pai após a hashtag “Jair Gasta, o Brasil Paga” figurar entre as mais comentadas no Twitter. Na rede social, opositores criticaram o sigilo imposto pelo presidente da República aos gastos com o cartão corporativo. Consideradas as despesas pagas com o cartão do vice-presidente Hamilton Mourão, o Palácio do Planalto já gastou R$ 8,8 milhões desde o começo do ano com os cartões corporativos.
Flávio Bolsonaro alegou que o pai usa o cartão corporativo para “garantir a sua segurança”. Pelo que se sabe, a segurança do presidente da República é feita por servidores federais, não por profissionais da iniciativa privada, o que resultaria em algum tipo de pagamento.
“Um ex-militante do PSOL tentou assassiná-lo, o que eleva seu grau de risco de morte pois a chance de ele ser vítima novamente do ódio da esquerda é grande”, afirmou Flávio, que tenta ressuscitar a cantilena que brotou do ataque a faca sofrido por Jair Bolsonaro, em 2018, durante ato de campanha na cidade mineira de Juiz de Fora.
No mesmo dia, sem saber como justificar os misteriosos gastos com o cartão corporativo do pai, Flávio Bolsonaro citou os gastos do ex-presidente Lula com a cerimônia de casamento com Rosângela Silva, a Janja.
“Você não pode ter mais de uma televisão, mas no casamento dele pode ter mais de 200 garrafas entre espumantes e vinhos no valor entre R$ 800 a R$135″, escreveu o senador.
Se há no País alguém desprovido de moral para falar do custo da festa de casamento de Lula, esse certamente é Flávio Bolsonaro, que ainda deve aos brasileiros explicações sobre o esquema criminoso das “rachadinhas”, a meteórica evolução patrimonial, a receita que fez de uma franquia de chocolate a mais rentável do País, os boletos pagos em espécie na boca do caixa, os depósitos bancários sequenciais e em dinheiro vivo no caixa eletrônico e a compra de uma mansão em Brasília ao custo anunciado de R$ 6 milhões, valor que não condiz com as informações fornecidas à Justiça Eleitoral.
Talvez o ex-assessor Fabrício Queiroz, que operava o esquema das “rachadinhas” e era próximo do miliciano Adriano da Nóbrega, tenha as respostas que a população tanto espera. Ou será que o clã presidencial descobriu o segredo do milagre da multiplicação?