Bolsonaro elogiou matança na Vila Cruzeiro, mas critica a imprensa por cobertura do caso Genivaldo

 
Fanático por torturadores, como, por exemplo, o facínora Carlos Alberto Brilhante Ustra, o presidente Jair Bolsonaro, quando convém, culpa a imprensa pelos escândalos que permeiam seu governo. A mais nova investida de Bolsonaro contra a imprensa envolve a cobertura do caso de Genivaldo de Jesus Santos, assassinado por integrantes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) após abordagem.

Genivaldo dirigia uma motocicleta sem usar capacete, por isso foi parado pelos policiais, que, mesmo sem necessidade, o imobilizaram durante meia hora e na sequência o colocaram na parte da traseira da viatura, transformada em uma câmara de gás lacrimogêneo, o que levou o abordado à morte por asfixia.

Nesta segunda-feira (30), cinco dias após a morte de Genivaldo Santos, o presidente saiu em defesa da PRF e disse que não se pode generalizar a conduta dos agentes da corporação. “Não podemos generalizar tudo que acontece no nosso Brasil. A PRF faz um trabalho excepcional para todos nós […] A Justiça vai decidir esse caso. Tenho certeza que será feita a Justiça todos nós queremos isso aí. Sem exageros e sem pressão por parte da mídia que sempre tem lado, o lado da bandidagem”, afirmou.

A declaração foi dada na manhã desta segunda-feira em entrevista à imprensa no Recife, onde o presidente sobrevoou áreas atingidas pelas chuvas que deixaram ao menos 91 pessoas mortas em Pernambuco nos últimos dias, além de 26 desaparecidos e mais de 5 mil desabrigados.

Questionado por um repórter da GloboNews sobre a cobrança feita pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de prisão cautelar dos policiais envolvidos no caso de Genivaldo, o chefe do Executivo respondeu citando a morte de agentes da PRF em outro episódio, ocorrido há duas semanas na rodovia BR-116.

 
“Eu lamento o ocorrido há duas semanas aproximadamente, quando dois policiais rodoviários federais queriam tirar um elemento da pista, ele conseguiu sacar a arma de um deles e executou os dois. A GloboNews chamou esse bandido de suspeito. E outro policial, de outra esfera, ao abater esse marginal, vocês foram para uma linha completamente diferente”, disse.

Bolsonaro sabe que o caso de Genivaldo impactará negativamente as pesquisas eleitorais e, ato contínuo, seu projeto de reeleição, mas não se trata de generalizar o ato criminoso, mas de reconhecer que essa prática vem se tornando comum no País. Em relação ao episódio ocorrido na BR-116, o tratamento adequado, pelo menos por arte da imprensa, é de “suspeito”, até porque não havia informações disponíveis na esfera criminal que permitisse rotulá-lo como criminoso.

Reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, levada ao ar no domingo (29), encontrou sentenças judiciais com relatos de 18 homens que receberam gás de pimenta confinados em viaturas de diferentes forças policiais. Em nenhum dos casos houve o uso de gás lacrimogêneo, que é ainda mais perigoso e provoca asfixia, como aconteceu com Genivaldo de Jesus Santos.

A hipocrisia de Bolsonaro é tamanha, que no último sábado (28), quatro dias após elogiar os policiais que promoveram uma matança na Vila Cruzeiro, desembarcou em Manaus para participar da “Marcha para Jesus”, em mais um farsesco episodio de campanha que visa ludibriar os evangélicos. Afinal, não pode recorrer ao nome de Jesus quem defende a morte de inocentes que foram covardemente abandonados pelo Estado.

Combater a criminalidade é uma obrigação do Estado, que não tem direito de executar pessoas honestas e trabalhadoras vivendo em meio ao crime organizado pelo fato de que seus direitos são desrespeitados pelos governantes.

Em vez de criticar os veículos de imprensa, que cumprem o dever de informar, Bolsonaro deveria explicar o que fazia a PRF na Vila Cruzeiro, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, bem distante das rodovias federais. Esse detalhe é importante e não tem merecido a devida atenção da mídia.