Boi de piranha

(*) Gisele leite

É aquele que se submete ou é submetido ao sacrifício, para que a boiada possa passar em paz, ou ainda, para livrar outra pessoa de uma dificuldade ou da culpa. Em geral, é escolhido um animal velho ou doente em local acima ou abaixo do ponto de travessia. Enquanto as piranhas se fartam e devoram o boi escolhido, os demais bois passam em uma caminhada sem dificuldades.

Outra expressão conhecida é “bode expiatório”, mas merece maior reflexão sobre seu sentido original que explica sua aplicação. No chamado Dia da Expiação, encontrado no Levítico, os hebreus organizavam um conjunto de rituais que pretendiam purificar a sua nação. Para tanto, organizavam um ato religioso que contava com a participação de dois bodes.

Num sorteio, um deles era sacrificado junto com um touro e seu sangue marca as paredes do templo. O outro bode era transformado em expiatório, pois tinha a função ritual de carregar todos os pecados da comunidade. Nesse instante, um sacerdote levava as mãos até a cabeça do animal inocente para que ele carregasse simbolicamente os pecados do povo. Depois disso, era abandonado no deserto para que os males e a pérfida influência dos demônios ficassem bem distantes.

Ao longo da história da humanidade, onde várias minorias e grupos foram marginalizados, foram utilizados como bode expiratório de algum infortúnio. E, os judeus, ironicamente, foram alvo de sua própria tradição. Primeiro, ao serem responsabilizados pela Peste Negra, ainda na Baixa Idade Média e, tempos depois, na Europa foram perseguidos pelos movimentos antissemitas que vigoraram no século XX.

Questionamo-nos quem foram os mandantes da imolação de Bruno Pereira e Dom Phillips? Até o presente momento, os executores ou algozes já confessaram o homicídio dos dois desaparecidos.

Melhor informando, apenas um dos suspeitos na morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips confessou ter matado os dois homens desaparecidos.

As autoridades levaram Oseney da Costa de Oliveira, de 41 anos, conhecido como “Dos Santos” (irmão do primeiro suspeito já detido), ao local das buscas. O homem é o segundo preso suspeito de participação no crime e assumiu que as vítimas foram mortas, esquartejadas e, ainda, os corpos foram incinerados.

Em seguida, foram jogados em uma vala. A informação foi divulgada pela TV Bandeirantes e confirmada pela TV Globo. De acordo com a CNN Brasil, fontes da PF revelaram que Amarildo (vulgo: Pelado) confessou que a morte de Bruno e Dom Phillips possui relação com as denúncias feitas pelos dois sobre a prática de pesca ilegal na região.

Segundo o último suspeito preso, o motivo do crime teria sido a pesca ilegal da região. Estavam pescando pirarucu e foram alertados por Bruno e Dom Phillips que estavam fotografando. E, assim, foram rendidos e levados para uma vala, onde foram mortos, tiveram seus corpos esquartejados e, depois, incendiados. Nove pessoas já tiveram sua oitiva feita pela polícia.

Há um desprezo histórico aos indígenas e a proteção do meio ambiente. Sem a ajuda da colaboração dos indígenas não seria possível encontrar os corpos dos desaparecidos. E, que permanece, até o século XXI. Infelizmente, a anomia da região é sistemática e constrangedora. A cidadania e a soberania do Brasil não se contentarão com meros bois de piranha.

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.

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