Troca no comando da Petrobras é “mais do mesmo” e não conseguirá conter os preços dos combustíveis

 
A renúncia de José Mauro Ferreira Coelho, presidente da Petrobras, em nada mudará a política de preços da empresa petrolífera, que continua reajustando os preços dos combustíveis vendidos às distribuidoras, apesar do discurso insano e irresponsável do presidente da Repúbllica.

No final de semana, o presidente Jair Bolsonaro fez ataques e ameaças à diretoria da Petrobras, confirmando seu desespero diante de um projeto de reeleição que esfarela com o passar do tempo. Beira a irresponsabilidade imaginar que a chegada de um novo presidente, no caso Caio Mário Paes de Andrade, que depende de aprovação do Conselho de Administração, mudará política de preços da companhia.

Como já afirmamos em matérias anteriores, de acordo com dados de abril passado, o governo detém 50,30% das ações da Petrobras com direito a voto. Quando consideradas todas as ações da empresa, o governo tem 28,7% de participação acionária. O BNDES e o BNDESpar juntos têm 7,9%. Isso significa que 63,40% das ações da Petrobras estão nas mãos de investidores privados (nacionais e estrangeiros), que devem ter seus direitos respeitados. Sendo assim, Bolsonaro não pode transferir aos acionistas privados nem à União o custo de uma reeleição cada vez mais incerta.

Os elevados preços dos combustíveis decorrem não apenas do cenário internacional, que vive uma turbulência por causa da guerra na Ucrânia e da retração da atividade econômica na China, mas também e principalmente pela desastrada política econômica do governo.

A política de Preço de Paridade de Importação (PPI) foi instituída em 2016 para evitar ingerência do governo na companhia, que acumulou prejuízo bilionário a partir da decisão da então presidente Dilma Rousseff de congelar os preços dos combustíveis. O que Bolsonaro tenta no momento é repetir a irresponsável medida adotada por Dilma.

 
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A ameaça de criar uma CPI para investigar a Petrobras, diretores e conselheiros, se levada adiante, será um dolorido “tiro no pé” do governo, pois os congressistas chegarão à conclusão de que nada de errado está sendo feito pela empresa, que segue o que manda a legislação vigente. Na verdade, como já salientamos, alvo de investigação deveria ser a política econômica comandada pelo ainda ministro Paulo Guedes.

Qualquer medida que configure interferência na política de preços da Petrobras resultará em prejuízo aos acionistas, inclusive o governo federal, que desde o início da gestão de Jair Bolsonaro já recebeu aproximadamente R$ 450 bilhões em dividendos, royalties e tributos. Nesta segunda-feira (20), a empresa distribuirá R$ 24 bilhões em dividendos, inclusive ao governo.

A saída nada inteligente que resta a Bolsonaro é usar parte dos dividendos para conter a alta de preços dos combustíveis, mas a medida prejudicaria a parcela mais pobre da população, que pois investimentos em setores importantes do Estado deixariam de ser feitos em nome de um projeto de reeleição.

O presidente da República pode adotar quantas estratégias irresponsáveis quiser para segurar os preços dos combustíveis, mas com o dólar e o petróleo em alta, qualquer ação será inócua. No momento do fechamento desta matéria (16h36). A moeda norte-americana registrava alta de 0,82%, cotada a R$ 5,186, enquanto o barril de petróleo do tipo Brent era vendido a US$114,24, alta de 0,99%.

A situação é de tal forma crítica, que economistas internacionais apostam em US$ 130 o barril do petróleo. Além disso, previsões de que a guerra na Ucrânia poderá se estender por anos é mais um revés para Jair Bolsonaro, que insiste em ameaçar o processo eleitoral.


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