Moro renegou o Paraná ao mudar título para SP, agora quer o voto dos paranaenses para concorrer ao Senado

 
O Brasil é um país sui generis em todos os sentidos, inclusive na seara política. Pesquisas eleitorais são um retrato do momento, ou seja, na melhor das hipóteses anteveem o que pode surgir das urnas. Por outro lado, o jornalismo independente, que pressupõe ausência de vínculo com o Poder em todas as instâncias e seus respectivos operadores, também exige que a informação seja a mais balizada possível e com análise do todo, não apenas de parte.

Durante a Operação Lava-Jato, que desnudou o esquema de corrupção na Petrobras e em outras instituições, a busca por informação levou muitos veículos de comunicação a exercerem o jornalismo à sombra das cartilhas dos denunciantes e julgadores. Essa era a senha para se obter uma informação dita exclusiva, sempre atendendo aos interesses de quem as repassava.

O UCHO.INFO, sabem os que acompanham o nosso jornalismo, não se preocupa com o “furo de reportagem”, mesmo que em algumas ocasiões tenhamos disponibilizado informações exclusivas. Foi assim inclusive antes do advento da Lava-Jato, quando, ainda em 2005, fizemos as primeiras denúncias sobre o esquema de corrupção que substituiu o malfadado Mensalão. Nosso compromisso é com a informação de qualidade, sempre respeitando leitores e leitoras.

Esse introito serve para abrir caminho para a questionável postura do ex-juiz Sérgio Moro, que erroneamente foi elevado ao panteão dos heróis nacionais pelos que seguem a política à distância e de binóculos. Moro ultrapassou os limites da lei em nome de um projeto político espúrio e condenável. E a grande imprensa continua a tratá-lo como antes, um semideus de camelô.

No momento em que aceitou cargo na Alvarez & Marsal, consultoria responsável pela recuperação judicial do grupo Odebrecht, largamente condenada na Lava-Jato, Sérgio Moro deixou a máscara cair. Só não enxergou a realidade dos fatos quem se recusou a constatar o óbvio.

Moro entrou no universo político pela pior porta possível, acreditando que era a derradeira tábua de salvação do País, o que jamais foi verdade. Quem desrespeita a lei, mesmo sendo pago para respeitá-la e aplicá-la da maneira correta, não merece um grama de crédito.

O falso Don Quixote dos trópicos acreditou que chegar à Presidência da República era questão de tempo, favas contadas. Filiou-se ao Podemos, partido que abandonou após confiar na modorrenta cantilena de Luciano Bivar, o chefão do União Brasil. Sem legenda para concorrer ao Palácio do Planalto, Moro viu seu projeto político inicial ruir.

Renegou a terra natal, o Paraná, e, à sombra de manobra emoldurada pelo oportunismo e pela estupidez, transferiu o domicílio eleitoral para o estado de São Paulo, acreditando que a terra dos bandeirantes serviria como catapulta para seu projeto político. Acalentou a possibilidade de sair candidato por São Paulo, certo de que a Justiça Eleitoral faria vistas grossas à inexplicável transferência de domicílio.

 
Na condição de ex-integrante do Judiciário, Moro deveria saber que a lei vale para todos. Alegar que hospedagem em hotel da capital paulista, rotulada como “hub” de seus negócios, é prova de domicílio beira a inocência ou a malandragem. Rosângela Moro, esposa do ex-juiz, conseguiu avançar com a estratégia indecente e deve concorrer a algum cargo eletivo.

Com as portas fechadas em São Paulo, Moro retornou ao Paraná, carregando na bagagem o mistério sobre seu futuro político. Flertou com a possibilidade de concorrer ao Palácio Iguaçu, sede do Executivo paranaense, mas diante da forte concorrência do governador Ratinho Júnior, que busca a reeleição, o ex-juiz parece ter mudado de ideia.

Apesar da patacoada que protagonizou no terreno da Lava-Jato, juntamente com Deltan Dallagnol e seus subordinados, Moro não pensa em ingressar na política galgando passos. Quer chegar por cima. Para quem precisa de um mandato para garantir o chamado foro privilegiado, Sérgio Moro é a fulanização da ousadia.

O mais interessante é que pesquisa Real Time Big Data, cujos resultados foram divulgados nesta segunda-feira (27), aponta Moro com 30% de intenções de voto como candidato ao Senado Federal, enquanto o senador Alvaro Dias, que deu guarida ao ex-juiz no Podemos, aparece com 23%. Pior ainda é a grande imprensa divulgar os resultados da pesquisa sem fazer questionamentos ou noticiar fatos pretéritos e pertinentes.

Logo após o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo negar a transferência do seu domicílio eleitoral por falta de vínculos com o estado, Sérgio Moro divulgou nota alegando estar surpreso com a decisão. “Recebi surpreso a decisão do TRE de São Paulo na ação proposta pelo PT. Nas ruas, sinto o apoio de gente que, como eu, orgulha-se do resultado da Lava Jato e não desistiu de lutar pelo Brasil. Anunciarei em breve meus próximos passos. Mas é certo que não desistirei do Brasil”, afirmou.

Além disso, na opinião de especialistas, Sérgio Moro incorreu em crime ao tentar transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo. Em seu artigo 289, o Código Eleitoral (Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965) estabelece pena de até cinco anos de reclusão e pagamento de multa para quem “inscrever-se fraudulentamente eleitor”. É o caso de Mor, que avançou na seara da inelegibilidade.

Diferentemente do que muitos imaginam, o Senado da República é uma Casa legislativa de representação dos Estados, enquanto a Câmara dos Deputados representa a população e suas demandas. Causa espécie o fato de Moro, que de chofre renegou o Paraná, agora querer representar os interesses do estado sulista no Senado. Se o ex-juiz anda pelas ruas e sente “o apoio de gente que orgulha-se do resultado da Lava Jato”, seu lugar é na Câmara, não no Senado.

Sérgio Moro ganhou notoriedade desrespeitando a legislação penal vigente no País, acreditou que poderia concorrer a cargo eletivo atropelando a legislação eleitoral e ludibriando a Justiça Eleitoral. Mesmo assim, parte dos paranaenses, segundo a mencionada pesquisa de opinião, declara voto no ex-juiz e ex-ministro da Justiça do candidato a ditador Jair Bolsonaro. Diante desse cenário só há duas conclusões possíveis: ou a citada pesquisa eleitoral não retrata a realidade ou os paranaenses perderam o juízo. Conhecendo o Paraná, a primeira hipótese é a mais provável.


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