Mourão passou de indígena a branco, mas fala em “escarcéu” da imprensa e “erro de preenchimento”

 
Em 2018, durante a corrida presidencial, o general da reserva Antônio Hamilton Mourão afirmou em evento que que o Brasil herdou a cultura de privilégios dos ibéricos, a indolência dos indígenas e a malandragem dos africanos. A declaração foi dada na cidade gaúcha de Caxias do Sul, quando Mourão falava sobre as condições de subdesenvolvimento do País e da América Latina.

“Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem. Nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, esse é o nosso cadinho cultural”, disse à época o então candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro.

Diante da repercussão negativa da estúpida declaração, Mourão tentou se desculpar e disse ser descendente de indígenas. No Brasil, na esteira da lavagem cerebral ocorrida na ditadura, criou-se a falsa ideia de que militares têm inteligência e preparo acima da média, mas o governo Bolsonaro provou tratar-se de balela, porque não dizer “mito”. Uma farda, com ou sem um punhado de medalhas e outros badulaques, não pode ser confundida com sinônimo de genialidade ou intelectualidade, pelo contrário, apesar de a caserna abrigar algumas raras, honrosas e respeitáveis exceções. A estupidez de Bolsonaro e Mourão endossa a nossa opinião.

Escanteado por Bolsonaro no projeto de reeleição, Hamilton Mourão decidiu concorrer ao Senado pelo Rio Grande do Sul, onde a maioria da população é formada por brancos. Como a fala preconceituosa do então candidato a vice foi dada na terra de chimangos e maragatos, informar à Justiça Eleitoral sua descendência indígena seria um contrassenso. Por conta disso, ao registrar sua candidatura, se autodeclarou branco.

 
O momento alarife de Mourão durou pouco porque a imprensa quis saber como alguém que se declarou descendente de indígena conseguiu em apenas quatro anos se transformar em branco. Drible descoberto, Hamilton Mourão alegou que foi um “simples erro de preenchimento de formulário”.

“Sou descendente de índios, sim, e com muito orgulho. Está estampado no meu rosto e na minha pele, independentemente de qualquer formulário burocrático”, disse Mourão.

“Resolveram fazer um escarcéu com um simples erro de preenchimento de um formulário”, completou Hamilton Mourão, sem esclarecer se tentará corrigir o “erro de preenchimento”.

Quando um homem público se presta a ultrajar a própria descendência em nome de interesses político-eleitorais, não é difícil imaginar o que pode acontecer em situações mais complexas. Aliás, o general da reserva ainda deve aos brasileiros uma explicação convincente acerca das meteóricas promoções do filho, Antônio Hamilton Rossell Mourão.

Em julho de 2019, Rossell Mourão foi indicado gerente executivo de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil pelo então presidente da instituição financeira, Rubem Novaes. À época, o filho do vice-presidente manteve o salário de R$ 36 mil mensais. Meses antes da citada promoção, em janeiro daquele ano, ele foi guindado ao posto de assessor especial do presidente do BB. Foi nesse cargo que Rossell Mourão, funcionário de carreira do banco, consegui triplicar o salário, já que anteriormente recebia R$ 12 mil por mês.


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