Em entrevista ao Jornal Nacional, Bolsonaro mentiu a ponto de Pinóquio pensar em concorrência desleal

 
O staff da campanha de Jair Bolsonaro à reeleição insistiu para que ele se preparasse antes da entrevista na bancada do Jornal Nacional, da TV Globo, mas o presidente rechaçou a proposta e seguiu a orientação de assessores próximos, desprovidos de experiência no âmbito de disputas eleitorais. É a velha turma da caserna que aposta sempre no bate e arrebenta.

Ofensa a ministros

Emoldurada por “panelaços” em várias regiões do País, a participação de Bolsonaro no principal telejornal do País foi uma ode à mitomania. Logo na primeira resposta o presidente negou que tivesse xingado ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Disse que o apresentador William Bonner estava falseando a verdade. Talvez Bolsonaro já não se recorda de ter chamado o ministro Alexandre de Moraes de “canalha”, em 7 de setembro de 2021, durante ato na Avenida Paulista, em São Paulo. O chefe do Executivo já não se recorda que chamou o ministro Luís Roberto Barroso de “filho da puta”.

Resultado da eleição

Sobre a possibilidade de aceitar os resultados das urnas, como disse em evento de campanha na cidade de Resende (RJ), Bolsonaro voltou a colocar em xeque a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro. Sem responder de forma direta à pergunta dos apresentadores do JN, o presidente disse que acatará os resultados se as eleições forem limpas e transparentes.

Como afirmamos em matéria anterior, publicada na edição desta segunda-feira, 22 de agosto, é prova de inocência acreditar que Bolsonaro aceitará o resultado da corrida presidencial caso seja derrotado em sua tentativa de reeleição.

As eleições brasileiras desde o advento das urnas eletrônicas sempre foram limpas e transparentes, amas o presidente insiste em desacreditar o sistema eleitoral que garantiu a ele e os filhos diversos mandatos.

O chefe do Executivo mais uma vez colocou em dúvida o processo eleitoral ao afirmar que o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, o sabujo de plantão, se reunirá com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, e espera que ambos cheguem “a bom termo”.

O TSE não tem o dever de chegar a bom termo com militares subservientes que dão voz ao projeto golpista de Jair Bolsonaro. O que o presidente busca com essa declaração é criar mais um factoide para alimentar a insana horda de apoiadores, a quem terceirizou o golpe.

Golpe e intervenção militar

Bolsonaro foi questionado sobre a defesa que seus apoiadores fazem do fechamento do Congresso nacional, do STF e de uma intervenção militar com ele no poder. Como esperado, o presidente, sem saber o que responder, disse que não defende essas pautas e que a fala do bolsonarismo resulta da liberdade de expressão.

O Supremo já deixou claro que há uma sensível diferença entre liberdade de expressão e liberdade para o cometimento de crimes. Os bolsonaristas, impulsionados pelo clã presidencial e o chamado “gabinete do ódio”, assumiram a responsabilidade de reverberar o discurso golpista.

Jair Bolsonaro disse que não pensa em fechamento do Congresso e do STF. Contudo, sua amnésia de conveniência fez apagar da memória o desfile de tanques na Praça dos Três Poderes, em 21 de agosto de 2021, dia em que o Congresso Nacional derrubou a PEC do Voto Impresso, anteriormente considerada inconstitucional pelo Supremo.

 
Pandemia e vacinação

Depois de mais de 682 mil mortos por Covid-19 e 34 milhões de infectados pelo novo coronavírus e suas variantes, Bolsonaro não disse ter se arrependido das brincadeiras e deboches que fez para sustentar um negacionismo criminoso. Afirmou que o Brasil comprou mais de 500 milhões de doses de vacina contra a doença. Antes disso, o presidente defendeu o tratamento com medicamentos comprovadamente ineficazes contra a Covid-19, mas ressaltou que a prescrição desses fármacos é um direito dos médicos, igualmente negacionistas.

Disse o chefe do Executivo que a farmacêutica Pfizer exigia a assinatura de contrato de compra da vacina, mas não garantia a entrega das doses. Uma mentira monumental, pois a Pfizer aguardou durante 93 dias uma reposta do governo brasileiro, sendo que no contrato a empresa não se responsabilizava pelos efeitos colaterais.

Bolsonaro pode alegar o que bem entender, mas não tem o direito de distorcer a verdade. Afirmar que o governo comprou vacina com celeridade em um cenário internacional com falta de imunizantes é um atentado ao bom-senso. É importante lembrar que o presidente desautorizou o então ministro Eduardo Pazuello, da Saúde, e ordenou o cancelamento da compra de doses da vacina Coronavc, produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo.

Em relação à crise nos hospitais de Manaus durante a pandemia, o presidente afirmou que o governo agiu rápido e em 48 horas disponibilizou oxigênio para s pacientes. Na verdade, a falta de oxigênio nos hospitais da capital amazonense só foi regularizada depois de 9 dias, tempo mais do que extenso para quem está morrendo asfixiado.

Em relação à CPI da Covid, que apontou diversos crimes cometidos por membros do governo durante a pandemia, Bolsonaro alegou que a Comissão Parlamentar de Inquérito se recusou a investigar os recursos federais repassados aos estados. O presidente, que sempre afirma “jogar dentro das quatro linhas da Constituição”, parece não ter lido com afinco e atenção a Carta Magna. Investigar irregularidades no âmbito de governos estaduais é de competência das Assembleias Legislativas, não do Congresso.

Economia e auxílios

Bolsonaro disse que a economia brasileira foi impactada pela pandemia do novo coronavírus, pela temporada de seca e pela guerra na Ucrânia, sobre a qual o presidente não se manifestou até o momento. Isso porque ele continua acreditando na possibilidade de o presidente russo, Vladimir Putin, interferir nas eleições brasileiras, a exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos por ocasião da eleição de Donald Trump.

O presidente alegou que a criação do Auxílio Emergencial foi iniciativa do governo, mas não explicou que o ministro Paulo Guedes sugeriu benefício no valor de R$ 200 por quatro meses. O Congresso aumentou o valor para R$ 500, mas o governo Bolsonaro para não ficar “vendido” optou por R$ 600.

Em relação ao valor do Auxílio Brasil, que saltou de R$ 400 para R$ 600 até 31 de dezembro, o que configura escandalosa manobra eleitoreira, o presidente destacou que a oposição votou a favor do projeto por interesse eleitoral. É preciso lembrar que não está em discussão a necessidade dos beneficiários do programa, mas a forma como isso se deu, faltando menos de três meses para as eleições. Em outras palavras, Bolsonaro só lembrou dos mais pobres por alo que ele critica: interesse eleitoral.

Meio Ambiente

Na entrevista, Bolsonaro disse que países da Europa, como Espanha, Portugal e França, ardem em chamas por causa das altas temperaturas. Uma coisa é incêndio causado por verão com temperaturas nas alturas, outra é incêndio provocado por criminosos que desmatam áreas preservadas de florestas.

O presidente não explicou como atuará, se reeleito, para mudar a imagem do Brasil, que a nível internacional é de “destruidor de florestas”. O líder do governo afirmou que a Amazônia tem áreas em que é permitida a agricultura, mas não é erra a realidade que enfrenta a maior floresta tropical do planeta.

Garimpeiros, desmatadores, pescadores ilegais e traficantes de drogas tomaram conta de parte da Amazônia, com a conivência do governo, que patrocinou um desmonte dos órgãos de fiscalização. Em 2018, o UCHO.INFO alertou que isso aconteceria caso Bolsonaro fosse eleito.

O presidente cometeu o absurdo de elogiar a competência de Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente. Salles, que defendeu “passar a boiada”, foi apeado do cargo após ter seu nome envolvido em um escândalo de exportação de madeira extraída ilegalmente da Amazônia.

 
Centrão, ministros e corrupção

Na entrevista em que fugiu das respostas de forma insistente, Bolsonaro mais uma vez afirmou que não há no governo escândalo de corrupção. O presidente preferiu ignorar o escândalo em que pastores evangélicos cobravam propinas de prefeitos para a liberação de recursos do Ministério da Educação. Ex-titular da pasta, Milton Ribeiro firmou que atendia as demandas dos pastores a pedido de Bolsonaro.

Há no governo um cipoal de casos de corrupção, a começar pelo criminoso “orçamento secreto”, assunto que o presidente sequer mencionou durante a entrevista. Não se pode esquecer o escândalo da Codevasf, órgão comandado por Ciro Nogueira e Arthur Lira, próceres do Centrão, do qual Bolsonaro se tornou refém, mas minimiza a situação.

Apenas a título de informação, um dos dois novos conselheiros da Petrobras, aprovados para os cargos contra as recomendações dos órgãos de governança da empresa, que citaram conflito de interesses,
Foi indicado por Ciro Nogueira.

O atual inquilino do Palácio do Planalto destacou a maneira como escolhe seus ministros, exaltando figuras como Ricardo Salles, que dispensa maiores apresentações, Tarcísio de Freitas e Onyx Lorenzoni. Para refrescar a memória, foi sob o comando de Tarcísio de Freitas que o Ministério da Infraestrutura fechou os olhos para o escândalo da Codevasf.

Em relação a Onyx Lorenzoni, o ex-chefe da Casa Civil assumiu publicamente ter recebido através de caixa 2 repassados pelo frigorífico JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, condenados no escopo da Lava-Jato. O dinheiro foi recebido nas campanhas de 2012 e 2014.

Ninguém aporta dinheiro em campanha eleitoral sem a garantia da contrapartida. Onyx devolveu R$ 189 mil aos cofres públicos para ter arquivada a investigação, o que não significa que é inocente.

Bolsonaro ousou afirmar que em 2019 assumiu o comando do País à sombra de crise ética, moral e econômica, mas que ao longo dos últimos anos conseguiu mudar o cenário. Em suma, o presidente mende de forma escancarada.

Economia, reformas e PIX

Questionado sobre a crise econômica, Bolsonaro disse que conseguiu aprovar a reforma da Previdência, o que não é verdade. A reforma da Previdência foi gestada no governo do então presidente Michel Temer e aprovada pelo Congresso Nacional por causa do hercúleo empenho do deputado federal Rodrigo Maia, que À época presidia a Câmara.

Em relação à redução do ICMS incidente sobre os combustíveis, o presidente disse que os partidos de oposição votaram contra a proposta. Qualquer legislador minimamente responsável faria o mesmo, pois trata-se de medida inconstitucional, como já frisamos em diversas ocasiões, pois assuntos relacionados ao ICMS é de competência dos governos estaduais, não do governo federal.

Ademais, a redução do ICMS dos combustíveis afetará as camadas mais pobres da população, já que boa parte dos respectivos recursos é destinada à saúde e à educação. Em outras palavras, Bolsonaro, desesperado com a possibilidade de ser derrotado nas urnas, decidiu fazer cortesia com o chapéu alheio.

No tocante à criação do PIX, o presidente da República afirmou que “tirou dinheiro dos banqueiros” ao lançar o meio de pagamento. Vale ressaltar que o PIX começou a ser criado no governo Temer e implantado recentemente pelo Banco Central.

É falsa a afirmação de que os bancos perderam dinheiro com o PIX, como afirmou o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) por ocasião do lançamento das Cartas pela Democracia. Com o advento do PIX, bancos estão oferecendo aos clientes empréstimos para viabilizar transferências instantâneas de valores, com possibilidade de parcelamento em até doze vezes.

Diante dos inúmeros crimes praticados por criminosos, uma grande instituição financeira passou a oferecer um seguro para indenizar os clientes que tiveram o celular roubado ou furtado pelas chamadas quadrilhas do PIX.


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