E o vencedor é…

(*) Carlos Brickmann

Ninguém vence. É raríssimo que, num debate ou numa comparação entre entrevistas, algum candidato suba o suficiente para aparecer melhor na fila. Alguns podem cair, se fizerem besteiras grandes; mas subir é pouquíssimo provável. Em alguns anos de experiência em campanhas eleitorais, vê-se que o adepto de um candidato geralmente considera que ele foi o vencedor. De certa forma, é um comportamento natural: se ele compartilha das simpatias e antipatias do candidato, tende a considerá-las superiores às dos adversários. Veja bem, não falei em ideias: aí a coisa é muito mais difícil, já que é preciso primeiro tentar descobrir o que o candidato pensa de verdade, se é que pensa.

Há fatos indiscutíveis: Lula fica muito à vontade em entrevistas, enquanto Bolsonaro é mais travado. E daí? Daí, nada: quem já gosta de Bolsonaro acha que ele dominou o palco. Voto envolve muita emoção, muito mais emoção do que racionalidade. Há a questão do carisma, da capacidade do candidato de envolver afetivamente seus eleitores. Jânio Quadros tinha carisma para fazer o que a nenhum outro candidato seria permitido. Ou alguém imagina que Michel Temer possa tirar um sanduíche do bolso num ato público?

É por isso que um candidato mais bem colocado nas pesquisas prefere, se tiver chance, não comparecer a debates. Corre o risco de perder eleitores, raramente consegue uma vitória significativa, perde tempo se preparando.

Alguém garante que Bolsonaro e Lula vão hoje ao debate da Band?

Hora H

Tanto Lula como Bolsonaro já disseram que vão ao debate, desde que seu principal adversário também vá. Só há um jeito de saber: esperar o momento em que as câmeras mostrem o palco. Nenhum quer se arriscar a virar o alvo preferido de todos os demais candidatos. Nenhum, também, gostaria de ver seu nome à frente de uma cadeira vazia. E o debate da Band é um dos pontos altos da campanha: a Bandeirantes o promove desde a redemocratização. E tradicionalmente é o primeiro da temporada de debates.

Comparando as entrevistas

Frase notável vista em Twitter postado por Pedro Pamplona (@pedromcp) a respeito de algumas entrevistas do Jornal Nacional: “Bolsonaro mente mal. Lula mente bem. Ciro mente complicado”.

O dia seguinte

Debate no dia 28, pesquisa do Ipec na noite do dia 29, segunda-feira. É a segunda pesquisa do Ipec, criado por antigos executivos do Ibope. Já está sendo efetuada em todo o país, com dois mil entrevistados, e margem de erro de dois pontos percentuais. Na primeira pesquisa, realizada há duas semanas, Lula era o líder, com 44%, seguido por Bolsonaro, com 32%, Ciro Gomes, com 6%, e Simone Tebet, 2%. A nova pesquisa já mostrará o resultado de três fatos ocorridos nos últimos dias: as entrevistas ao Jornal Nacional, o Auxílio-Brasil, que terá completado 20 dias (e cujos benefícios a Bolsonaro poderão ser medidos) e a ofensiva bolsonarista contra as religiões de matriz africana, comandada pela esposa do candidato, Michele Bolsonaro, e líderes neopentecostais que foram aliados dos governos petistas e mudaram de lado.

Mais um

Nesta semana, o segundo submarino fabricado no Brasil deve ser lançado ao mar, nos últimos testes antes da incorporação à frota. O primeiro a ficar pronto, o Riachuelo, deve ser incorporado à frota no dia 1º de setembro, a próxima quinta-feira. A Marinha deve ainda fabricar mais dois submarinos do mesmo tipo, classe Scorpene, de propulsão convencional, com tecnologia francesa. Um quinto submarino, de propulsão nuclear (e armamento convencional), depende de alguns detalhes: após alguns rearranjos no mapa mundial de submarinos nucleares, a Alstom francesa recuperou sua unidade de tecnologia, que tinha sido vendida à GE, e hoje pode fornecer ao Brasil o que falta ao submarino sem interferência americana. Só que tanto Bolsonaro quanto o ministro Paulo Guedes têm-se dedicado a falar mal da França e a destratar suas autoridades, o que dificulta as negociações.

Oportunidade adiada

O jurista Ives Gandra da Silva Martins, comentando a notícia publicada no dia 24, nesta coluna, sobre o submarino nuclear brasileiro, enviou a nosso site Chumbo Gordo (www.chumbogordo.com.br) a seguinte mensagem:

“Quando o almirante Othon (Othon Luiz Pinheiro da Silva, responsável pela produção brasileira de navios propelidos por energia atômica) era o diretor de Aramar, estávamos para ter um submarino nuclear brasileiro, com tecnologia própria, em 2002. Havia quase 500 PhDs trabalhando no projeto, uma equipe que desenvolveu o mais barato programa de enriquecimento de urânio do mundo. Visitei Aramar com o almirante em 2002 e vi o protótipo (com 1/5 do tamanho) do submarino. Os presidentes que sucederam a Collor se desinteressaram em construí-lo. Uma pena!”

Uma pena. O Brasil não perde a oportunidade de perder oportunidades.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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