Combatente antifacista, o escritor e poeta italiano Cesare Pavese disse certa vez que “a política é a arte do possível”. Quem conhece minimamente a política sabe que o resultado dessa atividade tão essencial é o possível. Contudo, no Brasil, em especial em períodos eleitorais, a política é a arte da enganação.
Candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, que conta com o apoio do presidente Jair Bolsonaro, tem alardeado em seu material de campanha que é nascido no Rio de Janeiro, engenheiro formado pelo Instituto Militar de Engenharia e ex-ministro da Infraestrutura. De acordo com presidente da República, Tarcísio foi melhor ministro da Infraestrutura da história nacional.
Causa espécie o fato de Tarcísio de Freitas não mencionar na propaganda eleitoral que de 2012 a 2014 foi diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) no governo da então presidente Dilma Rousseff. O Dnit, para quem não sabe ou não se recorda, foi reduto das estripulias do Partido Liberal, legenda a qual estão filiados Bolsonaro e seus filhos e que é presidida por Valdemar Costa Neto, condenado e preso no escândalo do Mensalão.
Enquanto diretor do Dnit, cargo que assumiu com a incumbência de promover uma “faxina”, Tarcísio assinou parte dos contratos que foram alvo de investigação no âmbito da Operação Circuito Fechado, que apontou desvios de R$ 40 milhões dos cofres públicos por meio de uma empresa de tecnologia. A PF anexou às investigações nove documentos assinados por Tarcísio, alguns de próprio punho. Em sete deles consta apenas o nome do agora candidato ao Palácio do Bandeirantes como representante do órgão.
O primeiro contrato com a Business To Technology (B2T) para o fornecimento de licenças de programas de computador para o Dnit foi assinado por Tarcísio de Freitas em 14 de agosto de 2012, no valor de R$ 11,7 milhões.
Nos anos seguintes, mais dois aditivos tiveram o seu aval, elevando o negócio para R$ 22,6 milhões. De acordo com a PF, não há qualquer evidência de que o serviço tenha sido prestado e a suspeita é de que as contratações serviram de fachada para o dinheiro ser desviado.
De acordo com a PF, Tarcísio ignorou alertas de irregularidades ao assinar os contratos com a B2T. A Advocacia-Geral da União (AGU) apontou ao Dnit a necessidade de comprovar que os preços apresentados pela empresa eram compatíveis com os praticados no mercado. Um parecer da Procuradoria Federal Especializada que atua no órgão também pedia para a equipe responsável pela contratação esclarecer “as razões que motivaram o pleito”.
Em 13 de agosto de 2012, Tarcísio assinou relatório “aprovando a realização do processo licitatório”. No documento, o agora candidato bolsonarista não menciona os alertas da AGU e da Procuradoria Federal Especializada e justifica que havia recursos para a contratação.
Os aditivos também foram alvo de questionamentos, ignorados por Tarcísio de Freitas, o que foi destacado no inquérito. “Mesmo assim (diante das irregularidades apontadas), no dia 15/10/2014, (…) Tarcísio Gomes de Freitas e o diretor-presidente da B2T, Nelmar de Castro Batista, assinaram o segundo termo aditivo (…), no valor total de R$ 4,18 milhões, sendo que mais da metade desse valor (…) foi destinada aos serviços de consultoria e de treinamento, serviços que podem propiciar o desvio de recursos públicos”, registra o inquérito.
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