Ao longo dos últimos 20 anos o UCHO.INFO destacou, de forma recorrente, a importância de o brasileiro se preocupar com a política. Nesse período fizemos jornalismo independente e de maneira clara e didática, para que a população se interessasse pelas decisões de governos, governantes e autoridades correlatas. O quadro atual da política mostra que nossa insistência foi em vão.
A recente disputa presidencial evidenciou a falta de capacidade do eleitor brasileiro de identificar nas promessas dos candidatos o que era passível de ser cumprido. A chamada PEC da Transição, apresentada no Senado Federal a pedido da equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva é outra prova inconteste da desatenção do brasileiro em relação às questões políticas.
É fato que a pandemia impulsionou uma crise econômica que já preocupava muito antes do advento da Covid-19, mas a forma como o atual governo conduziu a política econômica levou a um cenário de impasse social e fiscal.
Sempre afirmamos que as políticas social e fiscal devem andar juntas e de mãos dadas, mas é preciso encontrar uma solução para a carestia enfrentada diuturnamente por dezenas de milhões de cidadãos, que se equilibram entre a fome, o desemprego e a inflação.
Para garantir a aprovação da PEC da Transição, Lula e o PT se renderam às pretensões escabrosas de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados e candidato à reeleição. Lula e seus quejandos declararam apoio a Lira em sua busca por mais um biênio à frente da Casa legislativa, com a promessa de que o criminoso orçamento secreto continuará dominando a cena política. Além disso, como contrapartida, o PT exige a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e da Comissão do Orçamento. É importante ressaltar que Lula, durante a campanha, criticou duramente Arthur Lira, que apoiou a tentativa de reeleição de Jair Bolsonaro, e prometeu acabar com o orçamento secreto.
Em um país chacoalhado por grave crise econômico-social, preservar a democracia e escapar de uma ditadura deixaram um preço alto a ser pago por cada contribuinte. Esse cenário de terra arrasada poderia ser evitado se, tempos atrás, os brasileiros tivessem se ocupado com as coisas da política e rechaçado promessas absurdas e medidas populistas.
A proposta apresentada pela equipe de Lula prevê gastos anuais da ordem de R$ 198 bilhões acima do teto, situação que certamente refletirá na economia, que na opinião de Bolsonaro está “bombando”.
Parlamentares que não foram reeleitos, mas apoiaram o estouro do teto de gastos pelo governo Bolsonaro, querem voltar para casa com o discurso fajuto de que defenderam a política fiscal a partir de 2023. Enclausurado no Palácio da Alvorada, onde tenta costurar com as poucas linhas do golpismo que lhe restam, Bolsonaro, diante do novo quadro político que se desenha, começa a dar o troco nos aliados de outrora: determinou a imediata suspensão do pagamento do orçamento secreto.
O desafio que se coloca sobre a escrivaninha de Lula é que na esteira do estouro do teto de gastos será difícil atrair investimentos, já que o setor privado, mirando a inflação nas alturas, preferirá comprar títulos públicos em vez de investir no País e ficar à mercê dos riscos inerentes. Anos difíceis e horizonte carrancudo pela frente, mas a fome precisa ser eliminada.
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