Todo homem público precisa saber o papel que exerce perante a sociedade, o que exige aquilo que os antigos classificavam como compostura. Isso vale também para as pessoas públicas, mesmo que nos dias de hoje prevaleça o “vale tudo”, sem qualquer dose de cerimônia. É verdade que já não se faz homem público como antigamente, mas cuidado redobrado com os próprios atos é preponderante.
Desde a redemocratização, a democracia brasileira jamais foi tão ameaçada como aconteceu nos quatro anos do enfadonho e criminoso governo de Jair Messias Bolsonaro, que continua enfurnado no Palácio da Alvorada por causa da derrota nas urnas, em 30 de outubro passado.
Na segunda-feira (12), no evento de diplomação de Lula e Geraldo Alckmin, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, fez um discurso duro e recheado de recados aos golpistas de plantão, os quais, de acordo com o magistrado, pagarão por seus atos.
Em um país polarizado, cuja sociedade está dividida entre os que defendem a democracia e os que pregam o golpe de Estado, qualquer passo fora do roteiro democrático serve para reforçar as teorias da conspiração que movem a súcia bolsonarista.
Após a cerimônia de diplomação dos eleitos, Moraes participou de festa em homenagem a Lula na casa do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, conhecido por transitar com facilidade nos escaninhos das instâncias superiores do Judiciário nacional.
Alexandre de Moraes não apenas participou do convescote oferecido pelo badalado advogado, mas contou com a companhia dos também ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Dias Toffoli.
Questionado sobre a festa, que teve direito a samba e whisky, Kakay alegou que se tratava de um encontro de amigos. Sabe-se que Lewandowski e Toffoli são próximos a Lula. Sabe-se também que Gilmar Mendes é amigo de todos, do tipo “arroz-doce de festa”. Porém, afirmar que Alexandre de Moraes é amigo do presidente eleito e diplomado beira o devaneio. Não se pode negar o histrionismo de Alexandre de Moraes, mas todo integrante do Judiciário deveria ter a parcimônia como companheira de todas as horas.
Defender a democracia contra as muitas investidas golpistas de Jair Bolsonaro foi essencial para a nação, porém é inaceitável que um ministro que liderou esse processo aceite participar de um regabofe dessa natureza.
Lewandowski se aposentará até meados do primeiro semestre de 2023, quando completará, mas ele próprio diz que pode antecipar a aposentadoria. Gilmar Mendes tem ainda mais nove anos como magistrado da Suprema Corte, ao passo que Toffoli se aposentará daqui a vinte anos. O trio – Gilmar, Moraes e Toffoli – tem o dever moral de se declarar impedido de julgar qualquer ação que envolva Lula ou que tenha Kakay como advogado.
Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski, na condição de presidente e vice-presidente do TSE, respectivamente, ultrapassaram a fronteira da ética e da independência marcando presença na festa oferecida a Lula. Não há explicação para isso, em especial se considerarmos as ventanias golpistas que sopram no País.
Quando o laço da opinião pública voltar a girar sobre o STF, que ninguém se faça de rogado. Aliás, Alexandre de Moraes tem participado de algumas suspeitas festinhas embaladas por samba e aperitivos.
Qualquer representante do Estado precisa saber conviver com as limitações e sacrifícios inerentes ao cargo. No Império Romano dizia-se que à mulher de César, Pompeia Sula, não bastava ser honesta, mas parecer honesta.
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