O que não quero no ano novo e um recado aos covardes de plantão

(*) Ucho Haddad

Final do ano, um novo ano batendo à porta. Pessoas fazem promessas, listam o que querem no próximo ano. Sempre disse, agora repito, que espero que o novo ano ao menos seja como o que se despede. Não estou a dizer que 2022 foi um mar de rosas – ou céu de brigadeiro, como queiram –, mas não foi um maremoto impiedoso nem uma turbulência implacável. Foi uma lição inédita, interessante, proveitosa, que deixou muitos ensinamentos.

No ano que está em suas horas finais descobri um novo jeito de me reinventar, de acionar a alavanca de fênix. O que espero de 2023? Que não seja uma página em branco, que possibilite escrever mais um capítulo da minha história. Se é querer muito não sei, mas é o que espero. Aliás, sei o que não quero no novo ano.

Dentro dos meus limites sou extremamente generoso, sempre com a mão estendida, o coração aberto, pronto para, sendo possível, ajudar quem a mim recorre. Nem sempre atendo às expectativas, porque tenho pouco a oferecer, mas me esforço, dou o melhor de mim. Quiçá seja a minha receita de solidariedade. Vim ao mundo para conjugar a vida na primeira pessoa do plural. Ou nós o tempo todo ou nada feito.

Sou o melhor produto dos meus próprios erros… Esse é o meu mantra, minha filosofia de vida, a frase autoral que explica a minha existência como ser humano, como filho, como pai, como amigo, como profissional. Não tivesse errado, me reinventado a partir dos erros, sequer teria chegado até aqui. Seria insuportável, talvez ainda mais, assim como são alguns que conheço.

Ter errado me fez paciente, seletivo sem ser desumano. Essa seletividade passou por um processo de depuração e amadurecimento nos últimos tempos. Hoje, depois de tantos anos na longa caminhada, sei exatamente o que não quero.

A léguas de distância, os hipócritas, os que se dizem amigos sem sê-los. Que não mais cruzem o meu caminho, de agora em diante, os que se escondem sob a fumaça da falsa solidariedade, os que oram e praguejam ao mesmo tempo, os que se ajoelham e derramam lágrimas mentirosas na igreja mais próxima, os que abusam de maneira asquerosa do bom-mocismo de fachada.

Quero longe, bem longe, os que meditam porque é a onda do momento, enquanto, sabe-se, são movidos por maldade intrínseca e indisfarçável. Os que fazem promessas vãs, transferem ao santo devoto a responsabilidade pelo impossível. Saiam do meu radar, do raio de visão, aqueles que usam a primeira pessoa do plural quando convém, que defendem a divisão de tudo enquanto for interessante, em especial quando o produto da divisão não lhes pertence. Os que só sabem existir na primeira pessoa do singular, pois são farsas ambulantes. Os que fazem em prol do outro com segundas intenções, para cobranças futuras. A minha vida nunca foi e não será caderneta de mercearia.

Creio na teoria “quanto mais se divide, mais se multiplica”. Existir é isso, é ser solidário. Porém, confesso, estou exausto de gente mesquinha, interesseira, incoerente, travestida com a fantasia do “bonzinho”, do incompreendido. De quem dorme e acorda abraçado ao vitimismo, como se fosse a receita ideal para ser notado. Problema existencial resolve-se num confortável divã de analista.

Não quero conviver com quem desrespeita o meu silêncio prolongado, o meu ócio criativo, os hiatos reflexivos, o pensar constante, opiniões contundentes. Quem, por inveja ou incompetência, critica a vida intensa que tive e que me custou caro, muito caro. Quem se apoia em tudo o que fiz e criei ao longo da vida, do meu jeito e muitas vezes à margem do planejado, para me atacar. Longe quero quem ousa criticar o fato de estar disponível a quem precisa, quem tenta me mudar por mera conveniência. Cansei de gente tóxica.

Ao longo dos anos, aprendi a me colocar no lugar do outro antes de qualquer conclusão, para entender com a necessária clareza o que vem na contramão, ter uma visão distinta e impessoal dos fatos, da contradita. Por causa da excessiva paciência ouvi inúmeras vezes que em outras vidas devo ter frequentado o monastério. Não sei ser diferente, tampouco quero mudar a essa altura da vida.

Se os cabelos brancos trouxeram a parcimônia como presente, a paciência não é infinita. Revanche, nem pensar, porém no palco da minha vida, seja bom ou ruim, ninguém vai sapatear ao bel prazer, inventando estórias – com “e” mesmo –, testando a minha capacidade de resistir. Sou muito mais resiliente do que imagina a maioria desavisada.

Estou em paz comigo, ciente do que fiz, dos erros e acertos. Também conheço a fundo meus poucos arrependimentos, os raros ressentimentos. Guardo segredos inimagináveis, impossíveis de serem revelados. Nunca pensei em usá-los como escudo para me defender de ataques covardes, sórdidos, de gente pequena, desalmada, invejosa. E jamais farei uso deles. Em várias ocasiões enfrentei a detração em silêncio. No “Poeminho do contra”, o grande Mario Quintana escreveu: “Eles passarão… Eu passarinho!”. Sou assim, sou do contra, sou “poeminho”, sou passarinho…

A cada um dos que me estenderam a mão, se fizeram presentes nos momentos difíceis, compreendem a minha forma de ser e existir, aceitam como sou, muitíssimo obrigado. Sempre serei grato, sem disparar salamaleques a toda hora. Os demais causam-me preguiça.

Aviso aos maledicentes: o novo ano se aproxima, está logo aí. A covardia alheia me fez forte. Decidi colocar a chave da caixa de Pandora em cima da mesa. Abri-la é uma questão de vontade, de defender a verdade. Não ousem me responsabilizar pelos próprios fracassos, inventando mentiras que não se sustentam diante dos fatos, de provas, de números e cifras. Pensem duas vezes antes de fazer barulho debaixo da minha janela.

Não mudei, sou o mesmo de sempre. Apenas reforcei o respeito comigo mesmo, pois a vida foi feita para viver. Se a carapuça serviu, lamento. Feliz 2023, principalmente aos que sabem o que é e querem a felicidade!

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, fotógrafo por devoção.

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