A incoerência e o discurso dual de Lula quando o assunto é relação com milicianos e golpismo

 
Sabem os leitores que o UCHO.INFO não tem político de estimação, não faz jornalismo de encomenda nem tergiversa diante dos fatos. Sempre afirmamos que no almoxarifado da política, em especial a brasileira, ao menos um item está permanentemente em falta: coerência.

Ao longo da recente campanha presidencial, o então candidato Lula acusou reiteradas vezes seu opositor, Jair Bolsonaro, de ligação com milicianos. A conexão com essa banda do crime organizado veio à tona na esteira do escândalo das “rachadinhas”, que teve na proa do imbróglio o agora senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que nos tempos de Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) desviava parte do salário dos funcionários do seu então gabinete.

Com o advento do caso surgiu em cena Fabrício Queiroz, o homem de confiança da família Bolsonaro e operador do esquema criminoso. Queiroz, que por um período ficou escondido no sítio de Frederick Wassef, advogado dos Bolsonaro, era responsável por pagar contas particulares de Flávio Bolsonaro, o que fazia em dinheiro vivo e na boca do caixa.

Flávio empregou em seu gabinete na Alerj ninguém menos do que a mãe e a mulher de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-policial militar e um dos fundadores do grupo de matadores de aluguel conhecido como “Escritório do Crime”. Adriano foi condenado por vários crimes e passou um ano em fugo, até ser morto no interior da Bahia. A morte do miliciano que atuava principalmente na comunidade de Rio das Pedras, na Zona Oeste carioca, sugere execução.

Até o momento não foi possível elucidar a morte de Adriano da Nóbrega, vítima de uma emboscada possivelmente porque sabia demais. Adriano alimentou as contas de bancárias usadas para lavar o dinheiro das “rachadinhas”.

Voltando a Lula… o atual presidente da República nada fez até o momento para sacar da equipe do governo a ministra Daniela Carneiro, do Turismo. Acusada de ligação com milicianos da Baixada Fluminense, Daniela Carneiro (União Brasil-RJ) é cada com Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, prefeito de Belfort Roxo.

O vínculo da ministra, reeleita deputada federal pelo Rio de Janeiro, com o ex-policial militar Juracy Alves Prudêncio, conhecido como Jura e acusado de comandar uma milícia na Baixada Fluminense, foi revelado pelo jornal “Folha de S.Paulo”. A reportagem mostrou que a ministra também teve o apoio de Giane Prudêncio, ex-vereadora e esposa do ex-policial durante as campanhas de 2018 e 2022.

 
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Em 2018, a titular do Turismo, conhecida como “Daniela do Waguinho”, referiu-se ao miliciano como “liderança”, ao publicar fotos ao lado de Jura e sua esposa nas redes sociais. Na época, ele já estava condenado e preso. O ex-PM, porém, tinha autorização para deixar a prisão durante a semana para trabalhar. Ele cumpria expediente como assessor na prefeitura de Belford Roxo.

Em seu primeiro compromisso internacional na condição de atual presidente da República, Lula, durante visita oficial à Argentina, deu destaque aos ataques golpistas de 8 de janeiro passado, promovidos por terroristas que defendem o golpe de Estado e o retorno de Jair Bolsonaro ao comando do País. O petista também fez declarações para justificar a acertada e necessária troca no comando do Exército, já que o general Júlio César de Arruda, então comandante, optou por não acatar ordem de Lula.

Além disso, Arruda impediu que a Polícia Militar do Distrito Federal prendesse golpistas que estavam acampados diante do quartel-general do Exército, em Brasília. Como noticiamos em matéria anterior, a decisão do general Júlio César Arruda, que de tudo fez para atrasar a prisão dos golpistas, permitiu a fuga de muitos criminosos que participaram da invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional.

Voltando no tempo… Quando a então presidente Dilma Rousseff foi alvo de um processo de impeachment, os petistas e integrantes da esquerda imediatamente falaram em golpe, discurso que permanece até os dias atuais.

Meses antes, com a eleição de Eduardo Cunha à presidência da Câmara dos Deputados, o UCHO.INFO noticiou que Dilma estava prestes a viver seus piores dias. Cunha foi responsável por levar adiante o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, que foi substituída no cargo por Michel Temer, até chamado de golpista pelos petistas.

Alguns indicados a postos no governo atual não conseguiram a nomeação pelo fato de em passado não tão distante terem apoiado a Operação Lava-Jato. Corrupção existiu, não há como negar, mas o governo Lula, pressionado pelo PT, foi coerente com o próprio discurso.

Contudo, causa espécie a mais recente indicação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva a cargos do chamado segundo escalão. Na terça-feira (24), o governo Lula indicou Carlos Henrique Menezes Sobral, ex-assessor de Eduardo Cunha, para o cargo de secretário de Sustentabilidade, Desenvolvimento Territorial e Infraestrutura em Turismo, do Ministério do Turismo, comandado por Daniela Carneiro, acusada de ligação com milicianos e que deixou de balançar no posto por causa da repercussão da investida golpista. Vale lembrar que Eduardo Cunha voltou a circular com invejável desenvoltura nos bastidores do poder, em Brasília.

Lula deveria tomar algumas doses de coerência, juntamente com pílulas de coragem, e explicar aos brasileiros o que significa sua inação diante de fatos escandalosos e contrários ao discurso oficial. Afinal, golpismo é golpismo, não importando quem o coloca em prática e de que forma, assim como relação com milicianos não é diferente quando um aliado está no alvo.


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