A narrativa propagada pelo presidente russo, Vladimir Putin, sobre o início da guerra na Ucrânia, compartilhada por parte da esquerda brasileira – de que Moscou seria uma vítima que reagiu à Otan – não convence muitos no Brasil, segundo pesquisa de opinião divulgada na quarta-feira (10).
Questionados sobre quem foi mais responsável pelo início da guerra, a Rússia ou a Otan, 62% dos brasileiros apontaram o dedo para Moscou, enquanto apenas 17% responsabilizaram a aliança militar ocidental. Outros 21% não souberam responder ou preferiram não opinar.
O percentual de brasileiros que culpam a Otan pelo conflito é menor do que na Alemanha, onde 21% responderam nesse sentido. O país europeu integra a aliança militar e tem enviado apoio financeiro e bélico a Kiev, mas parte da ultraesquerda e da ultradireita alemã é simpática a Putin.
As pesquisas foram realizadas em abril pela Morning Consult, empresa americana especializada em sondagens feitas pela internet, com uma amostra de pelo menos mil adultos representativa da população em cada país, e têm margem de erro de 2 a 3 pontos percentuais.
Divergência com falas de Lula
A opinião da maioria dos brasileiros vai na direção contrária de algumas das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o tema, que procuraram inicialmente equiparar a responsabilidade de Kiev e de Moscou pelo início da guerra.
Em 30 de janeiro, questionado sobre o conflito, ele disse que a Rússia havia cometido um erro ao invadir a Ucrânia, mas ponderou: “Continuo achando que quando um não quer, dois não brigam”. Em 16 de abril, o petista voltou a acusar a Ucrânia de ter participação no início do conflito. “A construção da guerra foi mais fácil do que será a saída da guerra, porque a decisão da guerra foi tomada por dois países”, disse.
Em outras ocasiões, Lula adotou um tom mais crítico a Moscou. Em 22 de abril, ele disse que nunca igualou os dois países, e que “todos nós achamos que a Rússia errou”.
A guerra na Ucrânia começou em 24 de fevereiro de 2022, após a Rússia invadir o país vizinho. Desde o início do conflito, Kiev passou a receber armamentos e munições de vários países europeus e dos EUA, o que possibilitou segurar o avanço russo e transformar uma guerra que Putin planejava terminar em poucas semanas em um conflito que dura já mais de um ano.
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Maioria quer Putin julgado por crimes de guerra
A maioria dos brasileiros também é crítica a Putin. Para 63% dos respondentes, o mundo seria um lugar melhor se o russo estivesse fora do Kremlin, e 67% disseram que ele deveria ser julgado por uma corte internacional por crimes de guerra. Apenas 14% aprovam a forma como Putin conduz a Rússia em relação à Ucrânia.
A conduta do presidente americano, Joe Biden, sobre a Ucrânia é aprovada por 46% dos brasileiros, e desaprovada por 31%. Percentual semelhante é obtido pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apoiado por 46% e reprovado por 29% dos brasileiros.
Nesse ponto, a aprovação de Zelensky entre os brasileiros é inferior do que entre os alemães, onde 55% o aprovam e 27% o desaprovam.
Apoio a sanções contra Moscou
Questionados sobre as sanções do Ocidente aplicadas contra a Rússia – das quais o Brasil não participa – 41% dos respondentes brasileiros disseram que elas deveriam ser mantidas até os militares russos deixarem o território da Ucrânia, e 24% defenderam que sejam mantidas até a queda de Putin. Apenas 12% afirmaram que as sanções deveriam ser retiradas imediatamente.
O governo brasileiro é crítico às sanções contra Moscou. Em 17 de abril, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reuniu-se em Brasília com seu homólogo russo, Sergei Lavrov, e se mostrou contrário a essas medidas. “As sanções, além de não terem a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, têm um impacto negativo nas economias mundiais, especialmente nos países em desenvolvimento”, disse Vieira.
Política de neutralidade
A posição do Brasil sobre a guerra na Ucrânia é de neutralidade no conflito, no sentido de que o país não participa enviando armas ou munições. Ao mesmo tempo, o Brasil defende o princípio da integridade territorial e é contra a violação de fronteiras internacionais, e foi o único país dos Brics a votar a favor de resolução da ONU pela retirada das tropas russas da Ucrânia.
Lula afirma que o Brasil “está fazendo um esforço muito grande” para constituir um grupo de países, entre eles China e Índia, para negociar acordo de paz, e vem conversado com diversos líderes mundiais sobre o tema.
Nesta quarta-feira, ele falou sobre o assunto com o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, em reunião em Brasília. No mesmo dia, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, reuniu-se em Kiev com Zelensky e membros do governo ucraniano para discutir como encerrar a guerra, após o governo brasileiro sofrer críticas sobre a proximidade com Moscou e sua neutralidade no conflito. (Com Deutsche Welle e agências de notícias)
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