Quando decidiu concorrer à Presidência da República, em 2022, para um terceiro mandato, Luiz Inácio Lula da silva sabia que, caso eleito, enfrentaria enormes dificuldades nos campos político e econômico. Em relação às questões políticas, que dependem diretamente das articulações institucionais, os últimos dias mostraram que o governo não consegue sair da condição de refém de um Parlamento que age criminosamente contra os interesses do País.
Na seara econômica, as investidas do governo têm se mostrado confusas, em especial porque parte do PT, partido do presidente, insiste na tese de que é preciso gastar ao bel prazer. Enquanto isso, o Banco Central mostra-se insensível diante dos seguidos apelas oficiais para a redução da taxa básica de juro, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
Entre 2008 e 2012, os governos petistas de então reduziram em duas ocasiões o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre automóveis, com o objetivo de impulsionar a indústria automobilística, em cuja órbita gravitam inúmeras empresas e milhares de trabalhadores.
Nos dois momentos criticamos de forma contundente a medida, alertando para o perigo do endividamento do consumidor e o aumento do número de carros nas ruas das cidades brasileiras, a extensa maioria sem qualquer plano coerente de mobilidade urbana.
A exemplo do que destacamos em ambas as ocasiões, agora, com o retorno do discurso do carro popular, lembramos que um país desenvolvido e civilizado é aquele no qual o rico utiliza o transporte público, não onde o pobre consegue comprar um automóvel. De igual maneira somos críticos em relação ao tema que tem tomado as recentes discussões no âmbito do governo.
É importante ressaltar que um automóvel no valor de R$ 120 mil nada tem de popular, pelo contrário, principalmente se considerarmos que o salário mínimo vigente é de R$ 1.320,00, ou seja, 1,1% do preço do preço do tal carro popular.
Não bastassem as críticas em relação ao preço dos chamados carros populares, o governo passou a ser alvo de discursos em defesa de investimentos na melhoria do transporte público nas grandes cidades do País.
Para escapar da artilharia, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que o programa focará na redução de impostos ou concessão de bônus para a compra de ônibus e caminhões. Em seguida, Haddad, que de novo foi criticado, disse que o programa também contemplará carros populares.
Há no referido plano do governo, que serve apenas para gerar notícias, erros crassos que merecem atenção. Na possibilidade de a proposta de concessão de bônus R$ 8 mil, valor a ser compensado no pagamento de tributos pelas montadoras, o tal carro popular custará em torno de R$ 110 mil, valor muito além da capacidade de compra da maioria dos cidadãos.
O segundo entrave está no financiamento do automóvel, cujas taxas de juro continuam nas alturas. Ninguém, em sã consciência, financia um automóvel com a taxa anual de juro girando entre 30% e 40% ao ano. Não obstante, deve-se considerar os custos de manutenção, licenciamento e o famigerado IPVA. O não pagamento do licenciamento e do IPVA gera cobranças no terreno da dívida ativa.
Tomando por base que o referido programa terá duração de apenas quatro meses, a proposta do governo pode ser comparada a fogos de artifício, que por alguns minutos produzem um espetáculo colorido, mas depois deixam um rastro de fumaça.
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